Clube do Farol 02/09/2022
Resenha por Elis Finco @efinco
Olá, pessoas. Hoje eu venho falar do segundo livro da autora de O Sal da Vida, também publicado pela Valentina, e já posso começar dizendo que foi uma leitura fora da zona de conforto e agora eu conto o porquê.
A primeira parte, Colcha de Retalhos, me lembrou muito um epitáfio, não de alguém que se lamenta, mas de alguém que percebeu que a vida é moldada por pequenos acontecimentos, de grandes coisas e que muitos desses momentos podem passar despercebidos, e isso não deveria ocorrer por serem grandes dádivas.
Nesse primeiro momento, a narrativa em primeira pessoa e fluxo de consciência são divididos em 2 parágrafos. Todo o texto se passa em uma narrativa lírica, quase poética, onde os assuntos vão se interpondo e se combinando realmente em uma colcha de retalhos. Porque de maneira nenhuma eles são confusos, eles realmente vão se colocando de um modo em que um se liga com o próximo fazendo a escrita ser linear.
Na segunda parte do livro, Modelagem, a autora volta a estrutura de texto a que estamos acostumados, com divisão de parágrafos e capítulos, em uma linha do tempo mais definida de assuntos. São lembranças, reminiscências em um conteúdo mais nostálgico e biográfico. A autora começa com o conceito de tempo e sabedoria e, à medida que fui lendo, me lembrei do filósofo Sócrates que disse "sei que nada sei", me parecendo, contudo, essa ideia presa a teia da síndrome do impostor. Junto a esses temas anteriores, conclusões da autora sobre sua pessoa enquanto qualidade e defeitos, como quando ela declara sua procrastinação ou no reconhecimento que o tempo passa, mesmo para os nossos, e assim somos lembrados que passa também para nós.
Assim vamos percorrendo a roda da vida e seu declínio no círculo do tempo. Lembranças da infância, do crescer e dos acontecimentos que marcaram a vida e dão sabor ao tempo. Foi interessante ler as lembranças de alguém que viveu a guerra sem lutar em campos de batalha. Ser uma de milhões que se viram em meio a ela sem armas e sem querer estar.
Ela fala sobre a modelagem, o que nos torna quem somos, como agimos e lidamos com as pessoas, situações e dificuldades. As partes que formam um inteiro, tal qual os tecidos que se unem para formar o todo de nossa vida. Somos um pouco das pessoas que nos marcam, para a autora Claude Lévi-Strauss foi alguém especialmente marcante e ganha assim destaque nas páginas que lhe servem de breve biografia, ainda sim couberam também várias referências a atores, filmes e livros. Lugares e experiências, família, criação, trabalho e sobre Paris. Lemos ecos da primeira nessa segunda parte, agora amplificados, seja com a experiência ou pela análise.
A autora narra seu trabalho realizado no continente africano, suas experiências com outras culturas e também seus infortúnios por estar em um local tão diferente do qual cresceu. As diferenças culturais, sociais e econômicas. Dando uma riqueza ao conteúdo. Ao final do livro, ela prepara uma surpresa na edição para os leitores de seu livro anterior, que não fica bem esclarecido se este seria ou não uma continuação, ou mesmo um complemento, visto ela citar sua obra O Sal da Vida com alguma ênfase. Mas garanto que realizei a leitura apenas deste sem sentir nenhuma dificuldade. Boa leitura, divirta-se.
Sobre a edição: o tamanho da fonte e espaçamento que colaboram para uma leitura confortável. Tradução, revisão excelentes e não encontrei erro ortográfico ou de digitação.
site: http://www.clubedofarol.com/2022/08/resenha-ao-sabor-do-tempo.html