Marcela 18/10/2018
Uma lenda de amor medieval estilo YA
A primeira vez que tive contato com a história de Tristão e Isolda foi durante a minha pré-adolescência, quando assisti ao filme de 2006, estrelado por James Franco. Lembro que desde aquela época, eu já havia ficado fascinada pelo conto do amor impossível que resultou numa guerra entre reinos. A história dos amantes proibidos pertence a uma tradição de lendas celtas, cujas origens se perdem no tempo, tendo sida contada verbalmente durante séculos e sofrido diversas modificações até finalmente ser escrita. Uma das versões mais famosas dessa lenda foi escrita durante o século XII pelo trovador Béroul Thomas, tendo como principal característica a linguagem rebuscada e demorada, que dão a impressão que os acontecimentos se arrastavam, e o olhar típico do homem medieval. Já na adaptação da autora brasileira Helena Gomes, de 2010, o que vemos é totalmente o oposto.
Apesar de ser baseada nos diversos escritos originais, a versão de Helena Gomes aposta numa linguagem mais dinâmica e jovial, que é capaz de atingir o mesmo público YA consumidor de romances dramáticos como 'A Culpa é das Estrelas', 'Se Eu Ficar' e 'Tudo e Todas as Coisas'. Narrado em terceira pessoa, o livro se propõe a manter a tradição de contar uma história de outras pessoas, tendo por consequência também a imparcialidade em relação aos acontecimentos perante o leitor, que deve tecer suas próprias considerações.
O relato se passa numa Bretanha medieval, num período de constante guerra com a Irlanda. Tristão é um príncipe bretão de 18 anos que vive como plebeu, desempenhando papel de menestrel nas terras de seu tio Mark, para não levantar suspeitas de que é o legítimo herdeiro das terras de seu pai, que fora assassinado por um traidor associado ao reino da Irlanda. O rapaz, forte e corajoso, é conhecido também como o maior guerreiro da Cornualha, alcunha esta que o leva a três momentos cruciais que determinarão o seu destino. Após uma série de eventos típicos de uma jornada de aventura (que vão desde enfrentar gigantes e dragões, a ser dado como morto, ocultar sua identidade e retornar para o seu lar), Tristão é incumbido de levar a linda princesa irlandesa Isolda para casar com seu tio Mark e assim selar a paz entre a Irlanda e a Bretanha. No entanto, o que era para ser um acordo comum entre reinos acaba por se tornar um desafio épico devido à paixão existente entre Tristão e Isolda, intensificada por uma poção do amor que não pode ser dissolvida.
Apesar de ser uma história que se passa num período medieval, onde são famosos os contos de romance e aventura, a presença de elementos como um amor impossível, gigantes, dragões, fadas e poções fazem a narrativa ter um apelo consistente também como obra de romance com fantasia. A narrativa é ágil e objetiva, buscando mostrar mais as consequências das ações dos personagens que o desenvolvimento do amor juvenil em si. No entanto, consegue apresentar também o sofrimento dos protagonistas. O livro traz ainda ilustrações delicadas, que nos fazem conectar mais com o universo da narrativa. Sem dúvidas, uma leitura indispensável para fãs de romance histórico.