Thais645 24/05/2020"Naquele momento, eu quis fazer parte da história dela."Essa foi mais uma edição da TAG que eu gostei bastante. Todo o trabalho de design gráfico ficou bem bonito e atraente. Apenas tenho algumas ressalvas quanto à revisão do texto, porque acredito poderiam ter dado uma atenção maior a isso, visto que logo na contracapa há um erro de digitação.
O livro tem uma premissa interessante. Assim que eu li a sinopse, eu já fiquei animada para começar a ler. E assim fiz, terminei de lê-lo logo no dia seguinte de sua chegada. A obra vai contar a história de uma família aparentemente normal e comum dos Estados Unidos, apenas com o detalhe de que o casal assassina jovens mulheres para manter a chama do amor acesa.
ATENÇÃO: SPOILERS.
O narrador da história é o marido de Millicent, Tobias, cujo seu verdadeiro nome nunca foi revelado. Logo no início do livro, conhecemos um pouco sobre o seu método de conseguir vítimas: fingindo-se de surdo, alterando o nome e usando um telefone descartável. Ele também discorre sobre o seu casamento e sobre como conheceu sua maravilhosa esposa. O jornal, então, anuncia a morte de uma de suas vítimas anteriores Lindsay, e é descoberto que ela fora morta a apenas poucos dias. Porém, Tobias e sua esposa já haviam desaparecido com ela há um ano. Millicent apenas diz que é uma surpresa para o marido, e que manteve a esposa viva para ressuscitar um antigo serial killer da região. Ou seja, seu plano era poder matar à vontade sem que a polícia estivesse focada neles. Tobias achou aquilo genial. Eu estranhei um pouco, fiquei pensando na falta de comunicação entre os dois, porque, convenhamos, não deve ser tão fácil manter uma mulher em cativeiro por tanto tempo sem levantar suspeitas. Eles decidem, então, que o modo de operação dos dois seria dividindo as tarefas, Tobias ficaria com as partes mais técnicas de recolher informações e apresentá-las a mídia, e Millicent ficaria com a parte de matar as mulheres e esconder os corpos.
Após essa primeira descoberta, Tobias forja uma carta para um repórter e apresentador local, alegando ser Owen Riley, o antigo serial killer da cidade. O casal, então, parte em busca de suas próximas vítimas. Ao mesmo tempo em que organizam seus assassinatos, uma série de questões começam a aparecer em relação aos seus filhos ainda crianças, Rory e Jenna. A filha deles, começa a ter pequenos surtos de medo em relação à volta de Owen, escondendo armas e cortando o cabelo para não ser alvo do assassino, desenvolvendo, também, diversos problemas de ansiedade. Rory, por outro lado, pouco está preocupado com isso, mantém alguns comportamentos errados, mas normais para a sua idade. Tobias, nesse ponto, parece um pai muito presente e preocupado. Por diversas vezes no livro, ele mostra incômodo com o fato de que a série de assassinatos esteja causando tantos problemas aos filhos, e até chega a pensar em parar por eles. Esse é um ponto esquisito da história, porque faz a gente ter uma relação de empatia com alguém que é responsável por diversas mortes horríveis.
A vida dos dois começa a se complicar após a chegada de uma nova detetive para o caso, Claire. Ela encontra o cativeiro em que Millicent mantinha as mulheres e, a partir daí, a história já caminha para o final. Era sabido que o serial killer Owen já estava morto há alguns anos, portanto não poderia ser responsável pelos crimes recentes. A vida do casal começa a se complicar, pois estavam próximos de serem descobertos. Mas é aí que o grande plot twist acontece: Millicent havia armado tudo para cima do marido, tinha deixado diversas pistas que incriminassem apenas ele, fazendo ela sair como inocente. Desde o começo de tudo, o único objetivo dela era se vingar contra as traições de Tobias. Procurado pela polícia, ele consegue escapar por alguns dias, mas retorna à sua antiga casa para esclarecer as coisas. No meio da confusão, seus filhos acordam e descobrem que a verdadeira vilã era Millicent, e a filha, em um ato de autodefesa, mata a própria mãe. A polícia descobre tudo e Tobias sai impune, se mudando com os filhos para a Escócia.
Agora, falando sobre as considerações em relação à história. Eu gostei, me entreteve horrores, eu sempre ficava ansiosa para saber o que aconteceria na página seguinte e acabei por terminar o livro em menos de um dia. Sim, eu quase comi o livro. No entanto, dei 4 estrelas porque algumas partes me soaram estranhas.
Primeiramente, é nítido que, desde o começo da história, você percebe que alguma coisa no casamento dos dois não está certa. A maneira em que o narrador, Tobias, descreve e fala da sua própria mulher é esquisito; ora ele elogia, ora ele se sente completamente enjoado por ela. Apesar de eles escolherem e matarem jovens mulheres a sangue frio, parece que o homem mantém algum senso de moral e de julgamento, porque ele se preocupa muito com as próprias crianças e até com as pessoas que se sentiram atingidas pela preocupação de ter uma assassino a solta. Sua esposa, no entanto, vimos que era completamente psicopata. Desde criança, alegava que sofria abusos físicos por sua irmã, mas descobrimos que, na verdade, era tudo o contrário e ela que torturava e até induzira o marido a matá-la posteriormente. Vemos que a maioria dos problemas que Tobias se colocou em relação à culpa dos assassinatos, era simplesmente porque não conseguia conversar com a sua mulher. Ele tinha medo dela e nunca a questionava por nada. Queria sempre parecer esperto e à altura da inteligência dela, mas, no fim, isso foi o que o levou ao fracasso.
Não cheguei a mencionar o fato de que, bem no finalzinho, Tobias descobre que a própria mulher esteve envenenando as crianças com colírio. Ela fazia os filhos ingerirem colírio (sim, o remédio para olhos) que induzia fortes dores de estômago. Essa parte eu achei muito desconexa com a história, pois não foi nos dado nenhum motivo para que ela fizesse esse tipo de coisa. Mas, aparentemente, foi o suficiente para que a filha descobrisse e matasse a mãe. SIM, a filha matou a própria mãe, sem nem mesmo se perguntar qual dos dois pais falava a verdade. Isso eu achei absurdamente surreal e parece que a autora só queria terminar de escrever logo. Como é que uma criança de 12 anos mataria a própria mãe com uma faca, considerando, ainda, tudo que estava acontecendo em relação ao pai?
Enfim, essa reta final da história, da reviravolta de Millicent, nos leva até pensar que Tobias talvez seja realmente inocente e que não merecia estar passando por tudo aquilo. Eu cheguei a torcer para ele salvar as crianças dessa mulher louca, mas eu me esqueci que ele também era louco. Ele tinha tanta participação nos assassinatos quanto sua esposa e ele era igualmente responsável e merecia, sim, pagar por isso atrás das grades por um loooongo tempo. O modo com que a polícia lidou com isso foi esquisito, apenas acreditaram que ele era inocente e pronto. E, no último parágrafo do epílogo, pareceu que ele voltara ao seu modo antigo de conseguir vítimas: se fingindo de cego e mudando o seu nome. Agora, não fica explícito se ele queria voltar a matar ou se era apenas uma tática de conseguir sexo fácil. Ficou aí o mistério no ar.
Resumindo, eu gostei muito do livro e do jeito que a história foi se desenrolando. A ideia principal do final foi boa, mas poderia ter sido um pouco mais bem pensada. Como é o livro de estreia da autora, Samantha Downing, eu acredito que ela ainda possa evoluir essas pequenas coisas que deixou passar. No mais, é um livro gostoso de ler, envolvente e que te prende na história. Eu recomendo para quem gosta de thrillers psicológicos.