Bela Calli 13/07/2022
“Vampiro Gênesis: Prelúdio” foi uma agradável surpresa! Sabe aquela sensação de encontrar uma joia rara, sem procurá-la? Pois, foi assim que me senti ao ver a escrita do A. P. Oliver e sua obra cativante!
A história, que começa numa região próxima da cidade de Sedan, na França, ano de 1940, me prendeu desde a primeira cena. Dois soldados em função de vigia vivenciam algo terrível quando algo acontece e transforma o acampamento numa grande carnificina. Logo no início, já temos um gostinho do que nos aguarda ao longo das 381 páginas e dos outros dois livros que ainda serão lançados.
Em paralelo à isso, somos apresentados à nossa protagonista, Lisa, uma repórter que vive em Londres, no ano de 2018, que está sendo assolada por visões vívidas e aterrorizantes que desafiam sua sanidade e das pessoas ao seu redor.
Todo o processo de aceitação e compreensão do que está, de fato, acontecendo é bem crível e, diga-se de passagem, na medida certa! Mesmo que Lisa seja bem cética com relação ao paranormal, quando encontra as provas de que suas visões são reais, ela age de forma bem racional - o que, na minha opinião, foi bem condizente.
Temos também Victor, um vampiro centenário e muitíssimo rico que vive em Nova York, também no ano de 2018. Sua personalidade sarcástica e suas atitudes prepotentes me arrancaram muitas risadas. Inclusive, o livro também tem uma pitada de comédia que, na maioria das vezes, envolve esse personagem extremamente carismático. E claro, nem preciso dizer que se tornou meu personagem favorito, certo?
"- Pierre, mais vinho, por favor. Não vamos deixar que isso atrapalhe nossa noite, não é mesmo Debbie? - Ergueu a taça em saudação, na direção da acompanhante, e bebeu.
[...] - Aproveite a noite na companhia do seu ego inflado e do seu mau-caratismo. - Disse irritada. - E meu nome é Brenda, seu babaca! - Completou por cima do ombro enquanto se afastava da mesa e ia embora.
O homem permaneceu sentado onde estava, limpando o rosto com o lenço. Não havia sequer alterado o semblante indiferente.
- Você acha que é isso foi algum caso de TPM sincronizada, Pierre? - Perguntou por fim ao garçom, que ainda estava parado ali próximo.
- Não acho que tenha sido esse o caso, senhor. - Respondeu o garçom já se retirando. - E meu nome é Frank e não Pierre."
Esse toque mais cômico é uma das características que mais gostei no geral, justamente por tornar mais atrativo para o público juvenil, e também aliviar um pouco a tensão que poderia advir de alguns temas complicados retratados ao longo do livro, tais como as cenas centradas no clã de vampiros de Toris. O livro é divertidíssimo e, com certeza, dei algumas boas risadas - especialmente com Victor, e as piadas vampirescas de Preston, seu assistente.
Sim, a narrativa nos agracia com três pontos de vista diferentes, em épocas diferentes. Dois em 2018, e outra em 1940, qual são, em sua maioria, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial.
Mas, afinal, o quê relaciona esses três focos? Você terá de ler!
Honestamente, eu adorei as transições; são sempre bem demarcadas e se conectando naturalmente. Conforme a história avança, mais dúvidas e teorias pulam em sua cabeça. Quando nota, está procurando por uma conexão entre os três personagens que nem se conhecem, mas que de alguma forma estão interligados. E digo que, durante alguns encontros que acontecem ao longo do livro, você prenderá a respiração - mas, por outros, claro, você torcerá... e muito!
"Durante aquele breve momento em que os dois se detiveram, olhares fixos um no outro, o vampiro sentiu que se tivesse um coração batendo no peito, ele provavelmente estaria loucamente acelerado."
Acho importante ressaltar que adorei também as cenas centradas na Alemanha e durante a Segunda Guerra Mundial. O autor soube retratar com leveza e precisão os jogos mentais e intrigas políticas que aconteciam, inclusive, entre os membros mais confiáveis da alta [*****]pula de Hitler. Tais cenas me fizeram sentir como se descobrisse um pedacinho desconhecido da história. E curiosamente, descobri recentemente um profundo apreço por obras que trazem uma perspectiva ficcional para as histórias retratadas nos livros didáticos que aprendemos, muitas vezes, e infelizmente, como apenas um tópico que vale nota. Isso me despertou a curiosidade para estudar mais, conhecer mais - afinal, conhecimento nunca é demais.
A história abrange dois tipos de vampiro que se contrastam: temos os viscerais, famintos, àqueles que veem os humanos como gado (sim, gado) e enxerga as sociedades como um entretenimento, um simples disfarce necessário para preservar a existência do clã (estes que estão inseridos no coração da Alemanha nazista). E temos vampiros - um vampiro, na verdade - que não utiliza da comumente violência para se alimentar.
Como mencionei, o autor sabe como tornar a narrativa leve e gostosa! Quando os vampiros mostram sua verdadeira natureza, nós sentimos a tensão e angústia de suas vítimas, mas a leitura continua sendo fluída. E sabe também como capturar sua atenção parágrafo após parágrafo, capítulo após capítulo; como atiçar sua curiosidade e te fazer devorar todas as páginas, ao mesmo tempo em que sabe que se arrependerá de ler rápido demais.
E nossa, terminei num misto de euforia e tristeza, porque eu quero mais! Senti imediatamente saudade daqueles personagens, da escrita e desenvoltura do autor. Também não tenho palavras para definir como aquele final me impactou. Fiquei tão surpresa por sequer imaginar tal desfecho, que sentei alguns minutos em silêncio para digerir tudo aquilo. Foi simplesmente perfeito!