Vania.Evangelista 04/11/2023
"Eu ia do aborto à infância, da infância ao aborto."
Saudade não viagem é um livro para pensar o quanto nós mulheres temos autonomia sobre nosso corpo e nossas escolhas. E principalmente, o peso que carregamos quando essas escolhas não partem de si, mas de alguém tão próximo e que amamos.
Maria Clara, ao realizar um aborto clandestino, por vontade do namorado e não sua, passa a lidar com os efeitos emocionais do pós aborto (a vergonha, a culpa, a lembrança, a fragilidade e a solidão). Nesse estágio de sofrimento, a personagem passa a relacionar suas lembranças dolorosas de viver durante a infância na fazenda (sua mãe alcoólatra, a morte do irmão, o amor pouco verbalizado do pai e as alegria de uma avó que tinha imensa sabedoria sobre a vida), com o seu sentimento de não pertencimento ao lugar que se encontra, pois mudar-se para a cidade grande vai contra tudo o que conhecia e sabia sobre si.
Uma tentativa de ligar as dores do passado, a sua dor do presente e assim justificar sua escolha e omissão. É um livro de capítulos curtos, como se fossem uma confissão da personagem sobre os seus segredos, seus medos e sua fragilidade. Porém, não faz uma discussão profunda sobre o efeito físico e emocional do pós aborto em mulheres que optam pela interrupção da gravidez.