Manifesto

Manifesto Bernardine Evaristo




Resenhas - Manifesto


7 encontrados | exibindo 1 a 7


Carla Verçoza 09/04/2024

Bernardine Evaristo, autora do excelente "Garota, Mulher, Outras", fala nesse Manifesto sobre períodos de sua vida, relacionamentos, escrita, publicação e ativismo.

"A acusação de ser branca demais era o pior insulto imaginável no meu novo mundo, indicava uma incapacidade de estar à altura da autenticidade negra estabelecida. Nesse caso, eu de fato a "merecia", tanto de uma perspectiva racial quanto cultural. Nos primeiros tempos, depois que "me assumi negra", houve momentos em que tive vergonha de ser birracial e vezes em que tive que defender isso."

"Escrevo porque sinto urgência em contar histórias, mesmo quando não sei o que essas histórias vão se tornar, ou o que vão revelar quando estiverem terminadas."

"Ler livros- ao contrário de ler e-mails com pressa, vasculhar as redes sociais ou passar os olhos nos conteúdos de notícias- , era e é uma experiência muito relaxante. Quando criança, minha leitura era privada- uma experiência solitária."
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Debora.Oliveira 30/12/2023

Relatos incríveis de uma grande autora!
Admiro muito a Bernardine, desde que li Garota, Mulher, Outras e saber mais sobre a história de vida dela só me deixou ainda mais encantada e com vontade de ler outros livros da autora!

?Existe um manifesto em cada um de nós, que emerge no decorrer da nossa vida e se transforma e se reconfigura através da nossa experiência. Esse é o meu.?
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Sens0 19/03/2023

Uma conversa.
Que livro lindo! Parecia quase como uma conversa pessoal com a autora.

Com linhas do tempo que se misturam, histórias sinceras e abordagens sobre preconceito, esse livro me levou em uma incrível viagem pela vida de Bernardine, a escrita dela é muito fluída, e foi impossível largar após começar. O livro da uma perspectiva enorme do quanto ainda há para viver.

Sai desse livro com diversas reflexos e muito respeito pela autora, com sua sinceridade e falhas, como qualquer pessoa. Quero começar a ler mais dos livros dela.
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Daniel Dornelas 10/01/2023

Para aprender com uma das maiores escritoras da atualidade!
Com 232 páginas, o relato de Bernardine Evaristo é forte e sensível.

Os primeiros capítulos do livro são cansativos. A autora aborda minuciosamente os detalhes de suas origens. Conta de onde vem, quem são seus antepassados e detalhe as vivências de sua família.

O leitor precisa ser insistente para seguir a leitura pois a partir da metade do livro, todos os detalhes fazem sentido e mostram-se necessários.

Falar de ancestralidade é uma forma de mostrar de onde vem a escrita de Bernardine. Assim, a escritora mostra que não se tornou um sucesso instantâneo por vencer o Booker Prize.

Bernardine diz que, sim, o prêmio foi muito importante para ela. No entanto, ela já escrevia há mais de 40 anos.

4 décadas de carreira não podem ser apagadas por uma premiação, independente de qual seja.

Nos capítulos finais - que para mim foram os melhores -, a autora conta seus passos no processo de publicação. Ela aconselha os jovens artistas a serem gratos, a escreverem sempre, a reescreverem MUITO MAIS, a pedirem conselhos aos "guardiões dos portais" e a não ficarem perto de pessoas pessimistas.

É um bom livro. Recomendo a todos que trabalham com criatividade e que estão vivendo a jornada do artista.

Boa leitura!
@lendocomdaniel
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Edu 21/12/2022

Uma honesta resiliência
Esse Manifesto autobiográfico da Bernardine Evaristo é, antes de tudo, honesto. Não é um caminho de privações, sofrimentos até chegar à glória do prêmio Book Prize aos 60 anos.

Ela é muito sincera e isso se conecta com o leitor. Ela apanhou, sofreu, passou perrengue, divertiu-se, amou e sofreu, deu certo, deu errado.

A resiliência dela vêm da certeza de estar fazendo o que ama (e conseguindo se sustentar disso). A honestidade dela evita o discurso do "basta acreditar" e também dispensa o pessimismo.

No fim, você entende que ela continuaria escrevendo, mesmo sem chegar ao prêmio máximo, mesmo sem o reconhecimento, mesmo ambicionando tudo isso.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 11/12/2022

Bernardine Evaristo - Manifesto: Sobre nunca desisitir
Editora Companhia das Letras - 232 Páginas - Tradução de Camila von Holdefer - Capa: Giulia Fagundes - Lançamento: 2022.

Bernardine Evaristo se tornou a primeira mulher negra a ganhar o Booker Prize em 2019 com o romance Garota, mulher, outras (ler resenha do Mundo de K), dividindo o prêmio com a canadense Margaret Atwood. Neste livro de memórias, ela escreve sobre a sua infância e ascendência, tanto do lado da famíla da mãe inglesa, católica e branca, quanto da origem africana do pai, imigrante nigeriano e negro. A luta contra as hostilidades decorrentes do racismo e do machismo na tradicional sociedade inglesa, as suas relações afetivas com homens e mulheres, assim como a persistência para conquistar o seu lugar como escritora profissional, sempre com um olhar íntimo, honesto e bem-humorado, fazem de Manifesto: Sobre nunca desistir um depoimento inspirador para as novas gerações.

De fato, a diferença principal entre esta obra e outros livros de memórias não está somente no caráter confessional, mas também em uma série de instruções práticas que têm como base as lições aprendidas ao longo da própria carreira e dos obstáculos internos e externos superados pela autora até vencer o Booker Prize aos sesenta anos, lições que refletem sobre o poder da criatividade, adaptação e autoconfiança, eventualmente em um tom de manual de autoajuda, contudo, ainda assim convincente, por exemplo: "Seja rebelde, desobediente & audaz com sua criatividade, assuma riscos em vez de seguir por estradas previsíveis; aqueles que se movem dentro dos limites seguros não fazem nossa cultura ou civilização avançar."

"Minha mãe, inglesa, conheceu meu pai, nigeriano, em um baile para imigrantes no centro de Londres em 1954. Ela estava estudando para ser professora, em uma faculdade católica para formação de professores administrada por freiras em Kensington; ele estava se preparando para se tornar um soldador. Eles se casaram e tiveram oito filhos em dez anos. Ao crescer, fui rotulada de 'mestiça', o termo para pessoas birraciais na época. Como todas essas categorias – preto, de cor, negro, pardo, birracial, não branco –, elas funcionam como descrições aceitas até serem substituídas. Agora entendemos que raça não existe de fato – não é uma verdade biológica –, e os humanos compartilham tudo, exceto um por cento do nosso DNA. Nossas diferenças não são científicas, e sim decorrentes de outros fatores, como o ambiente. Mas raça é uma experiência vivida, e portanto é extremamente significativa. Compreender que raça é uma ficção não significa que podemos dispensar as categorias – não ainda." (pp. 15-6)

Pelo fato de ser birracial, Bernardine encontrou dificuldades em ser aceita tanto na porção branca quanto negra da sociedade: "A realidade é que uma mulher de pele mais clara de classe média nem de longe vai ser tratada na Grã-Bretanha da mesma forma que uma mulher negra de pele mais escura e de classe operária, que por sua vez não vai ser tratada da mesma forma que um homem negro de qualquer classe, profissão ou caráter que esteja cuidando da própria vida, que corre um risco muito maior de, por exemplo, sofrer perseguição policial pelo crime de 'andar ou dirigir ou respirar sendo negro'." O mais curioso, neste caso, é que o ativismo político da escritora não era visto de forma autêntica pelos setores negros da sociedade que exigiam uma postura padronizada, espécie de "estereótipo racial no interior da raça", como ela define.

"Ser birracial deu origem a uma série particular de experiências, observações e desafios. Assim que saí da escola de teatro e comecei a me movimentar em círculos negros, me identificar como tal não era tão simples como eu imaginava. Apesar de me sentir aceita pelas minhas colegas negras, nem sempre era bem-vinda em outros ambientes enquanto fazia a transição de uma infância em que não me sentia confortável com a cor da minha pele para uma identidade política negra. Logo me deparei com o conceito de 'negro(a) autêntico(a)', ao qual eu não correspondia. Algumas pessoas tinham ideias muito claras do que isso implicava e me davam instruções do que pensar, do que falar, de como me vestir, como dançar, com quem namorar e o que escrever. Era uma tentativa reducionista e ridícula de essencializar o conceito de negritude. Mais de 1 bilhão de pessoas negras no mundo e todas deveriam ser fãs de reggae – sério? Era um estereótipo racial no interior da raça, embora os defensores da ideologia 'como ser negro' pensassem que estavam fazendo o oposto. Fui reprovada no teste na primeira fase porque falava o inglês correto em vez do patoá que fluia da boca dos britânico-caribenhos de segunda geração. O fato de eu não ser caribenha era um pequeno detalhe para alguns dos meus críticos." (pp. 40-1)

Os relacionamentos amorosos ocupam parte relevante do livro: "Quando adolescente, eu gostava de garotos, embora os garotos não gostassem muito de mim, o que não era nenhuma surpresa para uma garota negra/miscigenada crescendo em um ambiente branco nos anos 1970, sobretudo uma que não era bonitinha." Ao viver a sua sexualidade como lésbica assumida, a partir dos vinte anos, encontrou a paixão e o desespero de um relacionamento abusivo com a Dominatrix Mental (DM), como ela chama a parceira com a qual se relacionou por cinco longos e torturados anos: "Se tivesse ficado com a DM, sem dúvida teria parado de escrever por completo e, mesmo não sendo suscetível à depressão, provavelmente teria sucumbido a ela." Hoje, Bernardine vive com o marido David que conheceu em 2005: "Percebi que assumir um compromisso público e legal com David pelo casamento tinhame deixado livre para seguir em frente com outras áreas de minha vida – das quais a mais importante é a escrita."

"Minha vida criativa está intimamente entrelaçada com minhas relações amorosas com outras pessoas, aquelas por quem acumulei reservas de emoção e verti litros de lágrimas. Anos atrás, todo o meu ser seria consumido de desejo pelo objeto da minha atenção romântica. Meus sentimentos mais profundos foram despertados pela primeira vez quando me senti atraída por outras pessoas. Antes disso, achava que eu passava por cima das minhas emoções e não tinha ideia, ao menos não conscientemente, da força que meus sentimentos podiam ter, até me apaixonar. Se o amor fosse à distância ou não correspondido, então eu mergulhava ainda mais nas profundezas subterrâneas do desejo. Essa paixão, esse estado de prostração hipersensível, se tornou uma força motriz da minha escrita, pois nunca quis ser o tipo de escritora cerebral cujo trabalho era intelectualmente fértil, mas emocionalmente árido. Queria ser o tipo de escritora capaz de atingir as pessoas num nível mais profundo – o poder de tocar, de comover –, e eu nunca era mais emotiva do que quando estava num relacionamento, ou querendo estar em um." (p. 83)

Sobre a autora: Nascida em Londres, de origem nigeriana, Bernardine Evaristo é autora de livros de ficção, ficção em versos, ensaios, poemas, teatro e crítica literária. Sua obra retrata a diáspora africana, entre o passado, o presente e a fabulação. Além do premiado Garota, mulher, outras (Booker Prize 2019), publicou Mr. Loverman e Blonde Roots, entre outros livros. É presidente da Royal Society of Literature e professora de escrita criativa na Brunel University, em Londres.
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Pablo Paz 10/09/2022

Escritora nata!
Abaixo, um longo trecho que degustei e que me fez comprar e devorar o livro em dois dias. Escritora nata!

"Como integrantes de uma raça, a humana, todos carregamos nossas histórias de ancestralidade dentro de nós, e tenho interesse em saber como a minha ancestralidade ajudou a determinar a pessoa e a escritora que me tornei. Sei que venho de gerações de pessoas que trocaram um país por outro a fim de conseguir uma vida melhor, pessoas que se casaram atravessando as construções artificiais das fronteiras e as barreiras de cultura e raça criadas pelo homem.
Minha mãe, inglesa, conheceu meu pai, nigeriano, em um baile para imigrantes no centro de Londres em 1954. Ela estava estudando para ser professora, em uma faculdade católica para formação de professores administrada por freiras em Kensington; ele estava se preparando para se tornar um soldador. Eles se casaram e tiveram oito filhos em dez anos. Ao crescer, fui rotulada de 'mestiça', o termo para pessoas birraciais na época. Como todas essas categorias — preto, de cor, negro, pardo, birracial, não branco —, elas funcionam como descrições aceitas até serem substituídas. Agora entendemos que raça não existe de fato — não é uma verdade biológica —, e os humanos compartilham tudo, exceto um por cento do nosso dna. Nossas diferenças não são científicas, e sim decorrentes de outros fatores, como o ambiente. Mas raça é uma experiência vivida, e portanto é extremamente significativa. Compreender que raça é uma ficção não significa que podemos dispensar as categorias — não ainda.
O conceito de 'negro britânico' era considerado uma contradição em termos durante minha infância. Os britânicos não consideravam as pessoas não brancas como concidadãs, e elas, por sua vez, muitas vezes se alinhavam com seus países de origem. Nunca tive escolha a não ser me considerar britânica. Esse era o país do meu nascimento, da minha vida, mesmo que tenha ficado claro para mim que, no fundo, eu não pertencia a ele porque não era branca. Contudo, a Nigéria era um conceito distante, um país onde meu pai havia nascido, a respeito do qual eu não sabia nada.
Sei muito mais a respeito do lado da família da minha mãe do que do lado do meu pai. Não faz muito tempo que descobri que minhas raízes na Grã-Bretanha remontam a mais de trezentos anos, até 1703. Teria sido útil saber disso quando criança, porque teria me dado uma sensação mais forte de pertencimento e munição contra aqueles que disseram — a mim e a todas as outras pessoas não brancas da época — para voltarmos ao lugar de onde viemos.
Isso não significa que alguém precise ter raízes britânicas para pertencer a este lugar, e a noção de que você só passa a pertencer se tiver essas raízes deve ser sempre questionada. Direitos de cidadania não se limitam a direitos de nascimento, e aqueles considerados 'súditos' do Império Britânico mas que não foram abençoados com a 'cidadania' sempre embaralharam as coisas.
Sei que o teste de dna é controverso, pois diferentes serviços apresentam resultados variados de acordo com sua base de investigação, mas ainda assim o considero fascinante. O teste de dna da minha ancestralidade, que remonta a oito gerações, revela uma estimativa de etnicidade que descreve as minhas raízes da seguinte forma: 'Nigéria: 38%; Togo: 12%; Inglaterra, noroeste da Europa: 25%; Escócia: 14%; Irlanda: 7%; Noruega: 4%'. (Os dois países que não consigo interligar com antepassados conhecidos são a Escócia e a Noruega.)
Mesmo assim, embora eu seja igualmente negra e branca em termos de ancestralidade, quando as pessoas me olham elas veem o meu pai através de mim, e não a minha mãe. O fato de eu não poder reivindicar uma identidade branca, se assim desejasse (não que eu deseje), é intrinsecamente irracional e só serve para demonstrar que a ideia de raça é absurda.
Nasci em Eltham em 1959 e fui criada em Woolwich, ambos distritos no sul de Londres. Como alguém do gênero feminino e da classe operária e uma pessoa não branca, as limitações haviam sido definidas para mim antes mesmo de eu abrir a boca para chorar depois do choque por ter sido expulsa do útero aconchegante da minha mãe, onde havia passado nove meses em perfeita harmonia senciente com minha genitora. Meu futuro não era promissor — estava destinada a ser considerada uma subpessoa: submissa, inferior, insignificante, irrelevante —, uma autêntica subalterna.
Na época do meu nascimento, apenas catorze mulheres integravam o Parlamento Britânico, em comparação com 630 homens, o que significava que 97% dos que controlavam o país eram homens. Nossa sociedade era, portanto, patriarcal. Não se trata de uma opinião, mas de um fato. As vozes das mulheres e as preocupações específicas em torno da maternidade, do casamento, do trabalho e da liberdade sexual e reprodutiva raramente eram ouvidas no plano político, e não havia muitas mulheres em posições de destaque, liderança ou poder em qualquer outro lugar da nação. Hoje, cerca de um terço dos parlamentares britânicos é composto de mulheres.
Um ano depois de eu nascer, o anticoncepcional deu às mulheres a liberdade de terem mais controle sobre o que faziam com o próprio corpo, mas outros dezesseis anos se passaram até que, em 1975, as Leis da Igualdade Salarial e da Discriminação Sexual tornaram ilegal discriminar as mulheres. Posso dizer que herdei uma história da condição secundária das mulheres na sociedade. Minha mãe, nascida em 1933, foi criada na tradição das mulheres da época para ser subserviente ao marido com quem um dia iria se casar, para satisfazer as necessidades dele antes das dela. Ela de fato obedecia aos costumes sociais que exigiam que se submetesse à autoridade do meu pai, até que a segunda onda do feminismo nos anos 1970 começou a desafiar e a mudar os comportamentos sociais, quando então ela passou a se afirmar, inspirando-se nas quatro filhas adolescentes que estavam crescendo em tempos mais liberais. Ela enfim se tornou independente do meu pai após 33 anos de casamento.
Por intermédio do meu pai, um imigrante nigeriano que tinha navegado até a pátria-mãe na 'embarcação Império' em 1949, herdei uma cor de pele que definiu como eu era percebida no país onde nasci, ou seja, como forasteira, intrusa, estrangeira. Na época do meu nascimento, ainda era permitido discriminar as pessoas com base na cor da pele, e ainda se passariam muitos anos até que as Leis de Relações Raciais abrangessem toda a dimensão da doutrina antirracista no direito britânico, desde a primeira versão, em 1965, ano em que o racismo em público se tornou ilegal, até 1976, quando a lei finalmente foi ampliada."
Link: https://www.nexojornal.com.br/estante/trechos/2022/09/09/%E2%80%98Manifesto%E2%80%99-a-trajet%C3%B3ria-de-uma-escritora-negra

site: https://www.nexojornal.com.br/estante/trechos/2022/09/09/%E2%80%98Manifesto%E2%80%99-a-trajet%C3%B3ria-de-uma-escritora-negra
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