Louise 25/12/2023Horror e scifi em sintonia618 começa como um suspense que aos poucos ganha algumas notas de terror ao captar o medo da sociedade em ser exposta, e mantém esse tom nebuloso e constante tensão por boa parte da narrativa, tendendo mais para o lado da ficção científica. Aos 45 minutos do segundo tempo temos caos, desespero, horror e confusão (não que antes não tivesse, mas se intensificam ainda mais), tiro, porrada, sangue e bomba. São tantos eventos relevantes acontecendo ao mesmo tempo que o leitor agradece por isso ser um livro e poder acompanhar os acontecimentos separadamente, pelo olhar de cada personagem. De repente, todo o frenesi caótico dá lugar a um horror cósmico botânico (se isso ainda não é um termo, que fique registrado). Você já ficou com medo de plantinhas bonitinhas espiraladas? Bravo vai te fazer lembrar dele cada vez que vir uma flor diferente.
Assim como acontece em VHS e DVD – mas dessa vez com maritacas desvairadas no lugar de uma galinha assassina –, o autor expõe diferentes lados do ser humano de forma ácida; a ganância, a crueldade, o sadismo, o fanatismo e também as mentiras para encobrir todas essas facetas podres. Dessa vez, indo mais além, também aborda e disseca as diferentes realidades, o vício e dependência na tecnologia e como o meio com o qual convivemos ou fomos criados influencia no modo como pensamos e agimos diante de adversidades. O religioso acha que tudo que acontece, por pior que seja, é obra de Deus, o rico tenta encobrir suas sujeiras ou lucrar com a dor alheia, o pobre só pensa no que fazer para sobreviver mais um dia, o cético vai atrás de uma explicação racional, e por aí vai. Em 1618 acompanhamos os mais diversos personagens, sempre com múltiplas facetas, complexos e muito bem trabalhados, abrangendo praticamente todas as camadas da sociedade, sem deixar de lado as críticas sociais e políticas concisas e relevantes que refletem a atualidade. Até o cidadão de bem tem a sua cota de representatividade. Serem justamente os personagens mais odiosos da história é resultado de pura pesquisa e observação.
César Bravo alugou um triplex nas nossas mentes expandindo ainda mais seu universo interiorano amaldiçoado, nos presenteando com uma obra recheada de ficção científica, narrativa visceral, horror e humanidade, onde eu vira nós, seu problema é nosso problema, tudo se conecta e vira um só grande organismo. É um prato cheio para amantes de teorias da conspiração e histórias complexas, sombrias e surpreendentes. A literatura nacional está mais viva e pulsante do que nunca.
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