Lisa 28/02/2023
Ligeiramente interessante
David Foenkinos traz em ?O mistério de Henri Pick? uma premissa intrigante, que instiga a querer ler e que é mantida por pelo menos dois elementos, como a mescla de realidade e ficção constantes. O próprio livro começa já nos contextualizando sobre o autor estadunidense Richard Brautigan e sua biblioteca de livros rejeitados, informações essenciais para o desenvolvimento da trama. Em segundo, pela plot em si mesma, um livro é descoberto em uma biblioteca para livros recusados pelas editoras nos confins da França e o seu autor é ninguém menos que um pizzaiolo que não é mais do que ordinário. A história em si não importa, e sim quem foi esse homem e se foi ele mesmo quem escreveu.
Fiquei empolgada assim que ele veio pela TAG inéditos em novembro, com essa edição primorosa que brinca com a metalinguagem ao usar do título do livro fictício cortado entre o título original, já estimulando e tecendo o tom de mistério esperado. Todavia, confesso que a ideia funciona melhor que sua execução, ou talvez, seja sim, sagaz. (até o final desse texto descobrirei meu veredito)
Foenkinos demonstra aqui uma escrita ligeira, perspicaz, com doses certeiras de humor. Apreciei a presença do narrador através das notas de rodapé, quase como se ele estivesse lendo a história junto conosco e desfiando comentários e dicas. Inicialmente achei divertido o ritmo rápido da narrativa, com seus capítulos que de tão curtos, alguns possuem apenas um parágrafo. Mas há um limite na pressa, essa rapidez tornou a prosa superficial, todo processo de conexão, de rapport demanda tempo para que possamos conhecer, familiarizar e sentir algo pelos personagens. Com as trocas saltitantes entre personagens e mini arcos não foi permitido ter nenhum sentimento que saísse da camada mais artificial.
Por outro lado, parte da critica deste livro é mostrar como a ideia, a propaganda de algo é muito mais valorizada e rentável do que o seu conteúdo em si. Poderia tanto ser como não ser um bom livro, não faria diferença, o sucesso adveio da história de sua descoberta. Critica que combina muito bem com a discussão acerca da literatura fast food e tema que o Stephen King discorre com gosto na introdução de ?Tudo é eventual?.
Reconheço e valorizo o conceito, mas na categoria de thriller, eu que gosto tanto deles, considero extremamente fraco e diferente de outros assim, este não tem uma história consolidada para se apegar. Nas últimas 80 páginas, Foenkinos corre para nos ofertar a descoberta desse mistério e a história melhora, não por ser boa, mas por ser um pouco mais substancial que o resto. É valido salientar que essa é a primeira experiência do autor escrevendo esse gênero e diria que foi corajoso e diferente. Adorei todas as referências a livros (e que leitor não se delicia né?) e as muitas frases de impacto bem construídas. Diria no fim, que foi uma experiência se não exatamente satisfatória, com certeza curiosa.