Rodrigo1001 21/04/2024
Para francês ler (Sem Spoilers)
Título: O Mistério de Henri Pick
Título original: Le Mistère Henri Pick
Autor: David Foenkinos
Editora: TAG (L&PM)
Número de páginas: 256
O mundo literário e a mídia entram em frenesi com um novo romance excepcional, recém-lançado.
Mas, quem o escreveu?
Ninguém sabe ao certo!
É um grande mistério a ser resolvido.
Ambientado na Bretanha e em Paris, “O Mistério de Henri Pick” é uma pequena história de como a busca por um escritor supostamente desconhecido acaba mudando relacionamentos e vidas.
Com um estilo de escrita simples e eficaz - comum nos livros do escritor francês David Foenkinos - e salpicado por um tom irônico e ao mesmo tempo simpático, o autor cria uma narrativa dinâmica que convida o leitor a criar sua própria teoria sobre a autoria do misterioso livro. Diante de tanto suspense, as páginas são viradas quase que automaticamente, criando uma urgência que só termina quando o mistério é revelado, lá no finzinho do livro.
Podendo ser definido como um thriller literário, cai bem para uma leitura despretensiosa, para um dia na praia ou até mesmo em uma viagem de avião, sem muito alvoroço.
Enfim, como sabemos, livros são centrais na cultura francesa (ainda). Daí que o mesmo mercado editorial possa ser o tema central neste agradável thriller que é "O Mistério de Henri Pick" faz com que a leitura seja mais direcionada e interessante para os próprios franceses do que para o resto do mundo. Sem exibicionismos, o livro expõe os prazeres e as contradições de uma cultura livresca, alma da França, que tem Voltaire, Rousseau, Zola, Montaigne, Proust, Balzac e tantos outros na condição de heróis nacionais. Mas, mesmo na França, essa centralidade literária parece em processo de erosão diante do culto à celebridades deste estranho mundo novo das redes sociais, dos likes e da superficialidade. Henri Pick fala de tudo isso com muita graça e sem qualquer afetação, peso ou sobrecarga intelectual inútil.
Como veredito final, minha percepção é de que a conclusão do mistério não é tão fascinante quanto o processo investigativo em si, mas, mesmo assim, para amantes ou não da literatura, é um livro correto, bem escrito, divertido e gostoso de ler.
Leva 3.5 de 5 estrelas.
Passagens interessantes:
“Dizem que o amor à primeira vista é o reconhecimento de um sentimento que já existe dentro de nós.” (pg. 23)
“Os leitores sempre encontram a si mesmos nos livros, de um modo ou de outro. Ler é um prazer totalmente egoísta. Inconscientemente, buscamos algo que fale conosco. Os autores podem escrever as histórias mais descabidas e mais improváveis, eles sempre encontrarão algum leitor que dirá: “É incrível, você escreveu minha vida!”. (pg. 69)
“É difícil datar o início do declínio do amor. O avanço sorrateiro das agonias é progressivo, insidioso” (pg. 108)
“Ela lembrava quando eles tinham se conhecido e o nascimento das filhas. Todas aquelas imagens de felicidade foram turvadas pela separação. Pelo momento em que ele dissera “Precisamos conversar”. A famosa frase sem esperança que anuncia, pelo contrário, que tudo já foi dito” (pg. 114)