Ari Phanie 30/05/2024Uma grata surpresa.
Como acontece com livros que são hypados por um tempo, eu totalmente ignorei esse até que eu não sentisse mais a influência da massa, e quando enfim decidi ler, eu não esperava absolutamente nada. Na verdade, tive a forte sensação de que não seria um livro do qual eu iria gostar. Primeiro porque é sobre jogos. Eu amava videogames na infância, hoje em dia não entendo a paixão que eles evocam. Segundo porque alguns elementos em torno dele me influenciaram a acreditar que seria juvenil demais pra mim. Então, comecei sem nenhuma pretensão de que fosse ser uma leitura marcante. Mas eis que eu conheço Sam e Sadie.
Sam e Sadie, os protagonistas da história, são apresentados como jovens estudantes se reencontrando em uma plataforma de trem. E logo em seguida, temos flashbacks de quando os dois se conheceram em um hospital infantil e criaram um laço por causa de um videogame. É muito, muito fácil gostar daquelas duas crianças inteligentes vivendo momentos difíceis e se aparando no conforto de uma realidade virtual. Mas também é muito fácil gostar dessas mesmas personagens entrando no mundo adulto e percebendo que o jogo da vida é muito complicado para ser definido em palavras.
Em meio a altos e baixos na relação entre os dois, e também em meio a altos e baixos em suas próprias vidas, acompanhamos o "coming of age" de Sam e Sadie. O bom em relação a esses dois é que o leitor não tem a sensação de que conhece e compreende os dois o tempo todo. Você é surpreendido porque esse casal de protagonistas pode ser bem difícil de decifrar, e o melhor ainda, você não vai gostar deles durante toda a leitura. Para mim, esses são pontos extremamente positivos e que eu sempre aprecio nos livros: quando os personagens têm várias cores e texturas e você não é capaz de catalogá-los. Em contrapartida há o Marx, personagem secundário que você consegue catalogar, já que ele é descrito pelo olhar dos protagonistas, e que mesmo sendo um ponto previsível dentro da obra, conseguiu ganhar meu coração e foi responsável por um momento de quebra de continuidade da narrativa que causou bastante impacto.
Não posso dizer que a história é 100% boa. Há determinado momento que me pareceu repetitiva, que a autora continuava falando algo que já tinha sido dito, e que os personagens estavam andando em círculos, mas isso não prejudicou o meu prazer na leitura. E as últimas 150 páginas foram tão boas e marcantes que eu consegui revelar ao ponto de considerar esse um favorito. E não apenas por isso. Zevin criou um casal de protagonistas maravilhosos, ótimos secundários, e escreve de uma forma instigante e que combinou perfeitamente com a história. O livro não é só sobre amizade e jogos, é sobre a complicada partida de xadrez que é viver, e como você pode sempre recomeçar esse jogo enquanto houver vida.
Para finalizar só posso dizer que não queria ter me despedido de Sam e Sadie tão rápido, e que vou sentir bastante falta do domador de cavalos. Gabrielle Zevin ganhou uma fã.