Pablo Paz 24/05/2024
Como organizar uma biblioteca
Comprei o livro pela fama do autor, um grande editor italiano de reconhecimento internacional, esperando indicações sobre como montar uma biblioteca pessoal. Porém, o título do livro, também o título do principal ensaio, é mais uma reflexão filosófica a partir das lembranças do autor sobre o ofício de editor e de encontros, causos e viagens com escritores e eruditos pela Europa do século XX. São quatro ensaios: 'Como organizar uma biblioteca'; 'Como organizar uma livraria'; 'Nascimento da resenha'; 'Os anos das revistas'.
Este último, um ensaio erudito sobre o surgimento, entre 1920 e 1970, das revistas literárias europeias de vanguarda que moldaram o que agora chamamos de Modernismo. Hoje porém, no mundo das imagens, elas não têm nem espaço nem função social.
O ensaio sobre como organizar uma livraria trata do surgimento da Amazon, do e-book e de seus impactos, negativos principalmente, sobre a livraria tal como a conhecíamos. São dicas práticas para quem é ou pretende ser livreiro. O livro não vai acabar, mas a livraria tradicional sim, caso não se reinvente; e sua reinvenção passará, segundo o experiente editor, por torná-la mais temática e acolhedora, como os famosos pubs londrinos, que vivem mais de uma clientela fiel do que de passantes ou consumidores anônimos.
Não era o que eu esperava ou pretendia ler, mas fui até o fim porque a obra é curta, está mais para uma plaquette (livrinhos finos com cerca de 100 páginas) do que para um livro tradicional sobre o assunto.
Aprendi muito - por exemplo, descobri que a resenha é o único gênero literário que tem data e autoria certos: foi inventado em 1665 por uma mulher, Madame de Sablé, quando resenhou o primeiro livro de que se tem notícias: as 'Reflexões ou sentenças e máximas morais' de La Rochefoucauld. (Aliás fiquei a pensar que isto talvez explique o porquê do Skoob ter um público predominantemente feminino e as melhores resenhas, pelo menos as de obras de filosofia e de ficção, serem quase sempre de mulheres).
Mas ainda assim, tenho para mim que é um tipo de 'livro' que interessará mais a profissionais do mercado editorial - escritores, editores, tradutores, livreiros, pesquisadores etc. - do que à maioria dos leitores consumidores.