Leila
29/04/2024Salvar o Fogo de Itamar Vieira Junior mergulha nas profundezas da alma humana, especialmente na tessitura intricada dos laços familiares, sobretudo entre Moisés e Luzia personagens que habitam o povoado rural de Tapera do Paraguaçu, na Bahia. Nesta narrativa, o autor constrói um universo épico e lírico, onde a força das mulheres e a resiliência familiar emergem como fios condutores.
Desde o início, somos imersos na atmosfera densa e singular de Tapera, uma comunidade marcada por suas raízes afro-indígenas e pela influência opressora da igreja local. A vida de Moisés orbita em torno de sua irmã Luzia, cujos supostos poderes sobrenaturais a tornam uma figura estigmatizada na comunidade. É ela quem assume o papel materno após a morte da mãe, educando Moisés com uma rigidez que reflete tanto amor quanto despreparo.
A escrita do Itamar é visceral e comovente (como vimos desde sua primeira obra, Torto arado), capturando a essência da vida no sertão baiano com uma autenticidade ímpar. Sua habilidade em dar voz aos personagens e em retratar suas lutas e desamores (sim, essa é uma historia de desamores) confere uma dimensão humana muito profunda à história. Porém, em alguns momentos a trama pode parecer repetitiva, revisitando certos temas de maneira recorrente., o que confesso me cansou um pouquinho. Mas de repente, essa repetição toda é para reforçar a densidade emocional do enredo, contribuindo para a imersão do leitor na jornada dos personagens, não sei, pode ser que sim. Para mim, não funcionou muito.
Enfim, Salvar o Fogo é uma boa experiência de leitura, mas convém entrar nela sem criar expectativas quanto à obra anterior do autor. Para mim, Torto arado ainda é melhor.