Alcir1 30/05/2024
Leitura de Peimeia
Sem sair da temática, sempre atual, da opressão e dos abusos praticados pelos colonizadores e seus sucessores através dos tempos, neste livro Itamar toca, principalmente, em três aspectos bem definidos. Primeiro a pedofilia, os abusos sexuais praticados por representantes do todo poderoso clero contra crianças. Impressiona como o autor trata do assunto de uma forma leve, insinuada, conduzindo o leitor pela mão para que ele absorva, passo a passo e processe toda a estupidez praticada por homens que se diziam representantes de um Senhor que, paradoxalmente, simbolizaria o Amor. Também a dor da mãe que, sabendo dos abusos sofridos pelo filho, quedava silente para, assim, garantir trabalho e pão para os familiares.
O tema seguinte é a questão de como os povos originários foram expurgados das terras onde viviam, terras que coletivas e, num passe de mágica, passaram a ter “donos”, inclusive a própria igreja católica, também aqui no Recôncavo baiano. Primeiro os colonizadores, na sequência, os jesuítas que chegariam ao cúmulo da desfaçatez de cobrar aluguel, o famigerado “foro”, dos pequenos pedaços de terras onde viviam e trabalhavam os descendentes dos originários e escravizados.
Para completar, impunham suas próprias crenças e regras, ameaças e anátemas contra a cultura, os costumes, as mezinhas, chás e todo um conjunto de práticas herdados da ancestralidade, muito antes da chegada dos colonizadores. Aqui a brutalidade é às claras, primeiro, atribuíam poderes maléficos às pessoas, bruxarias etc, para, na sequência, impor e justificar perseguições de todos os tipos, inclusive agressões com pedradas.
Para concluir, um trechinho do livro (fla. 176) “O Mal foi plantado pelos senhores de terra. Tinha sido regado pelos padres que habitavam o mosteiro de Santo Antônio. Não saía mais da minha cabeça que nos dividiram para enfraquecer...”