llistoiévski 23/05/2023
O encantamento de Itamar
Incomum seria se a metonímia não fosse a razão pela busca do livro ?Salvar o Fogo?. A ascendente conquista de leitores desde seu mais recente lançamento mostra como a escrita de Itamar Vieira Jr. é poética e singular, quando se aborda sobre a relação de povos afro-indígenas. E, nesse último lançamento, complementando uma trilogia de romances social políticos, é o que se esperava de mais um fantástico trabalho.
Nessa obra, o prólogo já introduz (da forma mais lírica possível) o parto da narrativa, utilizando de metáforas e contando das vivências dentro da comunidade na Tapera. Torna-se cativante para aqueles que buscam uma leitura tão intrínseca com a história do Brasil, além da emoção em acompanhar a trajetória de personagens tão verdadeiros e únicos. Exemplo deles é ?Luzia?, uma mulher que carrega um fardo em suas costas desde a época menina-moça, no qual é discorrido durante sua história na forma mais delicada e perspicaz, retratando de suas percepções acerca da grande influência paroquial sobre a comunidade da Tapera no Paranguaçu, do racismo acometido em si e seus irmãos, das disputas brutais pelas posses de terra, para mais a junção desses fatores como causa e modo de interação com sua família.
Dessa forma, era de aguardo que a linguagem empregada pelo Itamar fosse sua usual: tanto mítica quanto crua. Em cada capítulo se consegue perceber uma reflexão, uma chama viva que não se apaga e percorre no cerne até hoje. O autor nos convida, então, nessa embarcação pela história contada por diferentes personas, com problemas particulares e um ardor passado juntos. Até que chegamos no final, com o pesar de um anseio por mais, o ?fechamento? das trajetórias reproduzindo uma solução do fadigoso rancor/mágoa recorrente do passado. Portanto, no último capítulo se faz um encerramento meio cinza: não satisfaz tanto a expectativa, mas também não é de todo ruim.
Há recomendação nesse livro, apesar do final para alguns, pois (para mim) retrata tanto o que foi dito antes quanto a maternidade. Luzia cuida de seu irmão mais novo como uma mãe, para além das buscas do Menino sobre sua falecida mãe. Esse aspecto chamou bastante minha atenção, mas também existem outros que se podem desvendar e municiar. Demostra-se isso, inclusive, no título da obra: ?Salvar o Fogo?, onde os vocábulos recorrem de significados filosóficos por meios de contextos apresentados.
E, enfim, a sensível obra lançada demonstra o potencial do autor, mas não sua totalidade. Deixando um rastro de fogo pelo chão, onde os leitores tentam saciar seu final.