spoiler visualizarIngrid752 22/06/2023
Medo da chuva
Chuva de papel a tradição que dá nome ao livro era ou é o costume de picar papéis e soltar ao vento no dia 31 de dezembro, último dia do ano, como forma de comemorar a data, ao que eu imagino ser uma metáfora para jogar tudo de ruim que passou para trás, e iniciar uma nova história juntamente com o ano que se inicia.
Dito isso, nessa narrativa somos apresentados a Joel, um jornalista aposentado, que escreveu sua história de uma forma não muito ortodoxa, digamos. Ele vai ao longo de sua vida tomando diversas decisões erradas, como vários abandonos de esposas, filhos e netos, além de práticas nada convencionais para manter e alavancar a sua carreira jornalística, que em minha opinião é o grande amor da vida dele, após é claro ele mesmo. Todos esses acontecimentos culminam numa tentativa de dar fim a sua vida que da errado, o que faz com que seu caminho encontre o de Glória, uma mulher que decidiu transformar a sua história em livro.
Eu detestei Joel do início ao fim do livro, não consegui de forma alguma ter empatia pela ?humanidade? errática dele, para mim ele foi um ser odioso e egoísta que a vida inteira só pensou no seu bem-estar e felicidade, e a sua forma como tenta finalizar sua trajetória só mostra justamente o esvaziamento de sentido em uma vida fútil, cruel e solitária.
E é justamente pelo despertar de tantos sentimentos durante a leitura, que acho a escrita da Martha tão magistral, só sendo maravilhosamente competente para conseguir provocar tantas sensações através da escrita. A forma como ela vai tecendo essa ?redenção? de Joel, e propondo uma outra perspectiva ao leitor, em meio a tantas temáticas complexas e polêmicas é extremamente envolvente e excitante.
Para mim o ponto mais marcante e apaixonante do enredo é a amizade, cumplicidade e parceria entre Glória e Aracy, simplesmente intocável.
Tive a oportunidade de ler coletivamente essa história com o Livrismo e participar do encontro com a Martha que foi queridíssima e nos mostrou ainda mais reflexões e nuances que não havíamos absorvido completamente.
Não dá para passar batido senhoras e senhores, necessária uma longa parada para apreciação e algumas pausas para busca de fôlego.