O que é meu

O que é meu José Henrique Bortoluci




Resenhas - O que é meu


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Lipe 15/10/2023

Narrar a vida de um homem branco comum, caminhoneiro, neto de imigrantes italianos, e frágil de saúde, é também narrar a história de um país, pelo ponto de vista de um grupo específico dentre aqueles que o construíram braçalmente. A impossibilidade de dissociar história pessoal e nacional, o tom de memória-registro do livro e as reflexões de mudança de classe social nos lembram, de alguma forma, os relatos de Annie Ernaux, só que particular à periferia do capital. Há, porém, citações literárias demais (ponto fraco), que se contrapõem aos relatos em primeira pessoa do pai do autor, como nos capítulos Nestor, Manelão e Jaques (destaque). Essas histórias colocam em evidência as vivências de pessoas transparentes às elites intelectuais, mas também um Brasil ignorado e sem leis ou normas. São histórias à partir de um discurso: "Meu patrimônio são as palavras do meu pai", termina José.
edu basílio 15/10/2023minha estante
wow, que análise bacana! bateu vontade de ler (depois da fila de dezenas hehe).
citações literárias em excesso (e, pior, referências bibliográficas, argh) costumam ser frequentes em obras de psicólogos, sociológos, economistas, essa galera... :-/ entendo você e concordo, são cansativas, fragmentam a atenção da gente.


Lipe 15/10/2023minha estante
Acho que você vai gostar! :)




Gabriel 15/01/2024

Como se narra a vida de um homem comum?
Comecei o livro sem saber de detalhes cruciais da proposta (o pai dele tem câncer!). Li por recomendação, então não sabia do que se tratava o conteúdo, exatamente. Logo no início, o pai o questiona se estará vivo para ver o lançamento do livro, momento em que soube que ia me desmontar aos poucos durante a leitura.

O autor lida com um problema básico: biógrafos não se debruçam sobre a vida de homens comuns. E homens comuns não narram a sua vida de forma unitária ou teleológica. Para lidar com a escassez de fontes, ele usa uma polifonia de arquivos (filmes, músicas, entrevistas gravadas) para reconstruir a trajetória do pai, numa tecelagem muito bonita (quase etnográfica).

O rico do livro, senti, são os momentos em que o autor se permite ser vulnerável diante das histórias contadas pelo pai, colocando-o como o protagonista da história. Entre (belos) trechos transcritos das histórias de amizade do pai e paralelos feitos entre a história do autor e a sua percepção sobre o pai (como a ligação entre os ônibus soviéticos e a simplicidade do pai - que lindo), o ouro do relato é a sensibilidade com a qual o Seu Jaú é retratado.

Do meio para o final do livro, o academicismo começou a me incomodar? embora reconheça a falha da ?esquerda acadêmica? de sobredeterminar as histórias de grupos populares via conceitos abstratos, o autor parece colocar as narrativas do pai num plano secundário em longas elucubrações sobre a história do país. Teria sido interessante ouvir mais o que o seu pai tem a dizer sobre esses episódios, como é feito nos capítulos iniciais.

Apesar dessa limitação, o ensaio de fato entrelaça passado, presente, história nacional e história de vida de um trabalhador, como queria o autor. Entre os momentos mais lindos, estão aqueles em que um gramática Maior de política vai se tornando Menor nas descrições da batalha contra o câncer: ?Dos pés à garganta, as cicatrizes desenham o eixo vertical de seu corpo, um meridiano que o corta ao meio como uma estrada rasgada na pele?, li, me arrepiando lentamente.

Leitura sensível com um texto delicadamente construído.
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Vinder 18/07/2023

Leitura agradável e íntima. O autor escreve sobre a vida do pai, caminhoneiro aposentado e recém diagnosticado com câncer. Faz um paralelo entre a profissão do pai e o momento político conturbado do governo anterior, além da pandemia, quando livro foi escrito.
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Marcelo 04/12/2023

Resenha publicada no Booksgram @cellobooks ?
Já fazia algum tempo que queria ler esse livro. Sabia da premissa, mas a oportunidade não havia chegado. Comecei a ler ao voltar do velório do meu pai, há algumas semanas atras.

Como me identifiquei com esse livro... A história do Zé Bortoluci quase que se confunde com a minha própria: um pai caminhoneiro lutando pela vida contra um câncer, uma infância pobre com uma vida adulta que se esforça para mudar de classe social e se aproximar da academia, as histórias do pai sobre sua vida de caminhoneiro pelo Brasil... O amor pelos temas sociais.

E por muita coincidência (infelizmente) meu pai faleceu uma semana antes do pai do Zé...

Durante a leitura foi inevitável não me ver e não ver meu pai/minha família nas paginas desse livro. As músicas citadas, as histórias contadas pelo seu Didi (inclusive algumas pessoas diziam que meu pai se parecia com o Didi dos trapalhões...)

Agradeço ao Zé por esse presente em forma de escrita. Ele mexeu muito comigo mas ao mesmo tempo me confortou. E pude reviver um pouco das minhas lembranças pela narrativa do autor. Obrigado, Zé!
edu basílio 04/12/2023minha estante
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Peter.Molina 05/12/2023minha estante
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otis.correa 06/06/2023

?Em momentos de muito horror, como o que vivemos no Brasil politicamente desde 2016 até o final de 2022, a literatura e a arte podem assobiar pelo abismo.?
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Helder 08/04/2024

Na boléia!
Terminei o livro hoje e queria ter gostado mais do que gostei. O livro é uma mistura de um Livro de Memorias X Um Tratado Sociológico e estas partes as vezes me pareceram meio forçadas e outras eram interessantes, mas quebravam o ritmo da leitura, apesar de levantarem temas relevantes.
Assim como o próprio autor cita Annie Ernaux, eu já estava lembrando da autora e seu livro O Lugar, onde ela conta o impacto que ela ter estudado causou na sua família, criando uma distância cultural enorme entre ela e principalmente seu pai.
Se naquele livro a esta distância já era grande, aqui ela é descomunal. Vindo de um pai caminhoneiro, o filho foi parar na Rússia em uma Olimpíada de Matemática, se formou em uma faculdade nos EUA e hoje dá aula em uma das mais renomadas faculdades do país.
O autor, doutor em sociologia por uma universidade americana, vai nos mostrando estas diferenças culturais e sociais existentes em nosso país, mas sem julgamentos.
Porém o mais interessante do livro para mim foram as histórias do pai dele, que nos mostra a real importância que os caminhoneiros tiveram na história de nosso país e não fazem parte de nenhum livro de história. E eles são a História!
Que loucura acompanhar as viagens até o Acre, ou mesmo no cerrado sem estradas ou no Norte com caminhões sendo levados por dias em balsas por rio onde seriam instaladas hidroelétricas.
Da Mogi Bertioga a Usina de Belo Monte, aquele caminhoneiro esteve por lá, e ao pegar estas lembranças tirando seu pai do anonimato, José Henrique Bortoluci cria um emocionante documento histórico e uma bela homenagem de um filho para seu pai.
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Mari 16/08/2023

Detestei o livro
amei ter ganhado de presente
abandonei faltando 6 páginas (pra evitar o único fim que estava sob meu controle)

?Palavras são estradas. É com elas que conectamos os pontos entre o presente e um passado que não podemos mais acessar. Palavras são cicatrizes, restos de nossas experiências de cortar e costurar o mundo, de juntar seus pedaços, de atar o que teima em se espalhar.?
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voandocomlivros 02/07/2023

🚛 "Palavras são estradas. É com elas que conectamos os pontos entre o presente e um passado que não podemos mais acessar.

Palavras são cicatrizes, restos de nossas experiências de cortar e costurar o mundo, de juntar seus pedaços, de atar o que teima em se espalhar."


Aos 16 anos, precisei ser hospitalizada, não era nada grave, mas precisava tomar soro e acabei ficando 3 dias internada. No quarto que fiquei, já tinha uma senhorinha muito bem instalada, ela parecia bem confortável só esperando uma nova companhia para conversar. Os relatos eram longos, ela não me contou exatamente o motivo de estar ali dividindo o mesmo lugar comigo - e eu não senti necessidade de perguntar-, mas me contava casos antigos e engraçados. Sua voz era suave e carregada no R, até hoje lembro dela descrevendo com orgulho como seu neto preparava uma deliciosa canja: "sabe, fia (era assim que ela me chamava desde que cheguei), ele punha o alho pra 'doRá', e cê precisa de vê, fica tudo beem 'doRadin doRadin'[...]". Eu não lembro o nome dela, mas sempre que faço canja, a voz vem conversar comigo. Essa internação me mudou, quando saí do hospital, nunca mais olhei pra uma pessoa da mesma forma. Além da companhia, essa senhorinha tão meiga me ensinou a escutar e observar as histórias, as narradas e as não narradas. Cada um tem uma história... e tem cada história linda por aí... a gente só precisa aprender a escutar e esse escutar nem sempre é possível com os ouvidos, quando for preciso, 'escute' com os olhos e deixe o coração falar no silêncio...


🚛 "O que é meu é tudo aquilo que eu vi e gravei na memória. então a única coisa que posso fazer é tentar recordar e contar."


"O que é meu" tem uma história linda assim como a da minha eterna amiga de internação. A história de um pai entrelaçada com a do filho que se misturam com a história do nosso Brasil, com nossa própria história.


🚛 "Às vezes descobrimos coisas que já estavam a um palmo de distância, mas que não foram suficientemente olhadas, como quando observamos nossas mãos e somos surpreendidos por linhas que já tínhamos visto centenas de vezes. Ou quando somos assombrados por nosso reflexo em um espelho que não sabíamos estar lá e, numa fração de segundo, vemos em nossa própria imagem o sorriso de nosso pai, o olhar de uma avó, a expressão de um irmão, os cabelos de um tio que encontramos uma vez ao ano, a postura de um bisavô que só conhecemos por fotografias."


Aqui, você não precisa escutar, é só abrir o livro e sentir as palavras. Bortoluci não brinca com a arte de narrar e em menos de uma página, você já vai querer saber mais. Algumas pessoas têm esse feitiço, Bortoluci, para nossa sorte, é um deles, um verdadeiro mago da escrita.


🚛 "Nascemos e morremos sós, é certo; porém chegamos ao mundo cercados de cuidados, de gestos, palavras e toques que nos marcam pelo resto da vida. Os cuidadores são nossa conexão com os contemporâneos e com aqueles que nos antecederam. Nossa história individual se amarra à correnteza das gerações, e aqueles que exercem as funções paterna e materna são a barca na qual navegamos esse rio revolto da história."


Esse livro é muito Brasil: uma mistura de classes, de personalidades; o graduado atravessando caminhos de secas educacionais; a doença que desabrocha na sanidade; a esperança que finca raízes na desesperança. Tudo se une e é lindo de ver, de sentir. Ler "o que é meu" mexe com lembranças, com sensações... tudo vivido, sofrido, amado... é um orgulho que dói, o orgulho de ter nascido em terras brasileiras.


🚛 "Falar é trazer os mortos para dançar na festa dos vivos, é reviver o trajeto de gerações passadas e de nossa história de encontros e de perdas."


Obrigada, José, por contar de forma tão sensível e sincera a história de seu pai, a sua e a de todos nós, brasileiros. Só a literatura consegue fazer aquilo que a medicina ainda não alcança: imortalizar alguém. Desejo de coração que as histórias de Seu Didi chegue em muitas e muitas pessoas, e que a grandeza e a humanidade intrincadas nessas páginas sejam aproveitadas e inesquecíveis para todos que tenham o prazer de lê-las.

site: https://www.voandocomlivros.com/post/o-que-%C3%A9-meu-resenha
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O Garrancho 14/05/2023

Um Odisseu anônimo que viveu sua epopeia nas estradas do Brasil
Como revelei num dos vídeos mais difíceis que já gravei para o meu canal no YouTube, nunca chorei tanto lendo um livro antes de “O que é meu”, de José Henrique Bortoluci. Essa emoção tamanha, estou certo disto, é teoricamente explicável por dois princípios aristotélicos – o da mimese e o da catarse.

Compreenda: nessa obra vi meu saudoso pai representado na figura do protagonista, pai do autor, também um “herói esquecido”, já que ambos foram caminhoneiros por décadas e assim sustentaram seus sonhos e suas famílias, transportando, “nesta longa estrada da vida”, insumos responsáveis por garantir o progresso para todo o Brasil, de Norte a Sul.

Tal identificação, associada a um texto esteticamente competente, me impeliu a uma experiência catártica – um certo alívio a quem precisa suportar uma carga muito pesada (no meu caso, a ausência física do meu pai).

Bortoluci, em sua obra de estreia, nos apresenta o seu Didi, que por 50 anos rodou o país numa boleia de caminhão e agora, aposentado e enfrentando uma grave doença, revisita seu passado e suas histórias a pedido do filho sociólogo, o qual – de forma muito sensível e numa escrita primorosa – descortinará, pelo prisma de seu pai, um Brasil que a elite econômica e intelectual vergonhosamente desconhece porque não quer ver.

Do gênero autossociobiografia, “O que é meu”, conforme veiculado na imprensa especializada, tem sido comparado aos escritos de Annie Ernaux, Nobel de Literatura de 2022, e já foi vendido para mais de 10 países. Com seu admirável talento, José Henrique Bortoluci tem desbravado essas rodovias por vezes tortuosas que rumam ao sucesso, frete possível graças às palavras que seu pai trazia de caminhão e com as quais o presenteava na infância, como nos confidencia.

Essa publicação, que saiu pela editora Fósforo, em suas vindouras travessias, ainda há de acolher na carona muito filho que, tal qual Telêmaco, “se lança ao mar em busca de um pai que não vê”. Uma obra-prima que prova a nós, leitores, que um brasileiro comum – um verdadeiro autônomo anônimo – pode ser sim um exemplar Odisseu no percurso de sua epopeia.

site: https://youtu.be/oLnQFMkt5pk
QUEIJO460 14/05/2023minha estante
Bela resenha ??


O Garrancho 14/05/2023minha estante
Muito obrigado!




Taly 21/04/2024

Excelente livro!
Amei a leitura, acompanhar as lembranças desse pai me trouxe memórias pessoais de familiares caminhoneiros. Eu terminei essa leitura com a impressão de ser um membro dessa família.
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Leila 27/09/2023

O Que É Meu é o livro de estreia de José Henrique Bortoluci, uma obra que proporciona uma experiência de leitura cativante e e com a qual me idenfifiquei demais. A narrativa, que percorre memórias de seu pai e o país ao longo de cinco décadas, ressoa de forma significativa com as experiências e vivências de muitos, incluindo a minha própria história pessoal.

O autor habilmente mergulha nas complexidades das memórias, oferecendo uma visão profunda e rica. As memórias do pai e as reflexões sobre o país entrelaçam-se de maneira harmoniosa, criando uma narrativa envolvente e emocional.

Uma das características mais notáveis deste livro é a habilidade de Bortoluci em transcender as meras memórias e fazer dissertações sociológicas e políticas sobre uma variedade de questões. Embora para alguns leitores isso possa parecer cansativo, pessoalmente, acredito que essa abordagem acrescenta profundidade à narrativa e enriquece a compreensão da da sociedade e do tempo em que a história se desenrola.

O livro também se destaca pela habilidade do autor em capturar a nostalgia e a complexidade das relações familiares. Através das memórias do pai, o autor cria um retrato emocionalmente rico de seu relacionamento, e muitos leitores podem se relacionar com as complexidades e nuances das dinâmicas familiares retratadas.

Enfim, amei a leitura de O Que É Meu, uma obra notável que combina habilmente memórias pessoais, análises sociopolíticas e reflexões sobre a história do Brasil. Indico.
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Jonathan Vicente 04/04/2023

O autor consegue em poucas páginas trazer pontos delicados e sensíveis de como a racao pai e filho consegue ser saudável e tocante em diversos aspectos.
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Luís Gustavo 13/04/2024

Mistura de biografia, autobiografia, História e Sociologia
O autor é muito sensível na forma de contar a história do seu pai e de entrelaça-la com a História do Brasil e com a sua própria história.

Ele aborda questões da finitude da vida, da formação social e econômica do Brasil, da participação dos caminhoneiros na economia do país, da forma como a elite intelectual ignora boa parte da população brasileira. Tudo isso mesclando as histórias de caminhoneiro do seu pai com citações de diversos autores e artistas: de Susan Sontag a Roland Barthes, de Kafka até José Rico e Milionário.
Ao longo dessas citações, fica claro o ponto que ele traz ao longo do livro sobre a diferença de formação acadêmica dele com a de seus pais.

A escrita é fluida e envolvente, e me deixou com muita vontade de que tivesse mais páginas pra ler.
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olivromefisgou 29/04/2023

Um livro muito sensível e comovente em vários trechos que chegou a me fazer derrubar algumas lágrimas. Quem é do interior de SP e descendente de imigrantes, como eu, vai se identificar muito com essa história, principalmente no valor atribuído ao trabalho. Eu apenas faço reparo em uma coisa - acho que o autor forçou um pouco a barra pra surfar nessa onda da proteção da Amazônia
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Nara 27/07/2023

O que é meu
?O Brasil inventa suas próprias alegorias com a matéria espessa do nosso cotidiano político.?

To repetitiva, mas, precisava registrar uma das melhores leituras que fiz esse ano e, quiçá para vida.

Um ensaio de não-ficção, mistura as memórias de um pai caminhoneiro cuja vida foi dedicada a construção da estrada da Transamazônica e, faz um retrato político incrível do modelo de sociedade brasileiro.

Esse pai, agora habita um corpo adoecido tanto quanto o nosso país. O câncer é a metáfora para retratar o Brasil.

As falsas promessas de progresso por meio da ideia de uma vida moldada para o trabalho, o sonho do empreendedorismo, a estabilidade financeira e a conquista da casa própria... Tudo numa manutenção de uma lógica exploratória e extrativista da nossa vida e força de trabalho, além das devastações ambientais.

?A velha ferrovia é o esqueleto de nossos incansáveis planos de grandeza nacional. O canteiro de construção daquela ferrovia do diabo prenuncia os canteiros de Brasília, da Transamazônica, de Belo Monte, dos estádios construídos para a Copa do Mundo de 2014, e de tantas obras que serviram como cartões postais de nosso arremedo de modernidade. Cinco vagãozinho e uma máquina tocada a lenha atravessando o estado de Rondônia, um dos gestos arrogantes e fracassados de ocupação do território que o capitalismo de devastação brasileiro ainda chama de progresso.?

Um relato de filiação que recupera a trajetória dos filhos de uma classe trabalhadora da qual todos nós fazemos parte - eu pelo menos rs faço - filhos e netos de lavradores, caminhoneiros, empregadas, cozinheiras e motoristas.

?Como se narra a vida de um homem comum? Sou desafiado pelo silêncio das fontes, o apagamento de registros daqueles que constroem o mundo, que escrevem suas histórias com mãos e pés, com palavras ditas e cantadas, com suor e a pele marcada (...)Como sugere Brecht, procuro os construtores dos palácios e das muralhas, não os nobres e generais que os comandam; as cozinheiras, motoristas, jardineiros e faxineiras, e não os dignatários nos salões do poder.?

A escrita muito potente e delicada, me emocionou.

?A filiação é também o encontro com um segundo fato cardeal: somos seres de linguagem (...)No início, nossos pais falam por nós. Eles inventam uma voz para palavrear os balbucios do bebê. Depois continuamos a nascer com nossas próprias palavras, que aprendemos com eles, sem eles, ou contra eles. Esse segundo nascimento dura para sempre (...)Tornar-se adulto é aproximar-se e afastar-se daquele dialeto familiar, da língua viva da infância(...) Só podemos falar nossa própria língua quando acertamos as contas com a língua de nossos pais.?

Um livro lindíssimo. Uma homenagem super digna a trajetória desse pai que é ao mesmo tempo, um tanto sobre os nossos.
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