spoiler visualizaredenmaneskindasilva 29/01/2024
Curso Letras e a autora deveria me pagar pra revisar o livro
"Sou tudo que você (não) precisa" tem uma capa muito bonita, que foi a responsável por me chamar a atenção para a história dele, mas percebi, logo nas primeiras páginas, que a única coisa boa desse livro seria a capa mesmo.
Para começar, a gente tem a Agatha. Ela deveria ser o esteriótipo de patricinha mimada e rica, mas isso é feito de uma forma tão, tão, TÃO forçada que eu tive que ler apenas o diálogo da maior parte dos capítulos dela. Não é natural e a autora aparentemente não sabe fazer nada de maneira natural nessa história, mas esse é um ponto que vou comentar logo. Enfim, a Agatha é chata, insuportável, e a mudança de perspectiva dela quanto ao valor das coisas é feita com uma rapidez sem sentido. De verdade, acho que foi um intervalo de 3 capítulos, e que não foram totalmente narrados por ela.
A Zara é uma personagem mais tragável. Ela é mais interessante, já que é mais madura, e seu senso de responsabilidade não ficou forçado aqui, mas ainda existe o problema de que ela muda de opinião rápido demais sobre estar ou não com a Agatha. Ok, ela fica em conflito boa parte do tempo, mas basta a garota aparecer bêbada na casa dela que ela diz que tudo bem? Não me convenceu.
Agora, o maior problema do livro: a autora gastou dinheiro com uma capa bonita e economizou em revisão textual. Sinceramente, é ridícula a quantidade de vírgulas colocadas de maneira errônea, sem contar sentenças meio confusas. Eu estava em 42% do livro e só contei 3 vírgulas corretamente posicionadas ? se você está lendo isso, saiba que quando se escreve "mas", a vírgula vem antes, não depois. A autora não sabe disso. Sem contar a insistência dela de explicar algo que já foi dito ou pode ser interpretado livremente. Um exemplo muito óbvio é quando a Zara está sendo interrogada pela Alexa a respeito da sua relação com a Agatha e, ao invés de deixar apenas "Mentirosa, mentirosa, mentirosa" em itálico, como ela faz quando quer indicar o pensamento de um personagem (finalmente um uso correto de recurso narrativo!), ela completa com "...meu subconsciente me chamava de mentirosa". E isso se repete o livro inteiro. O. Livro. Inteiro.
Também tem os furos absurdos nos personagens e na ambientação. Uma personagem secundária, por exemplo, é a Alexa Westphalen, que é INSPETORA da penitenciária. Cabe a um inspetor penitenciário o planejamento, a organização, o monitoramento, a execução e a avaliação das atividades de rotina inerentes à gestão penitenciária e atividades assistenciais prestadas as pessoas privadas de liberdade, mas a autora aparentemente não pesquisou sobre isso e colocou uma administradora em campo para investigar o tráfico de mulheres em Las Vegas. Na ambientação, a autora erra ao colocar o Natal da maneira que é comemorada no Brasil, com a grande reunião para a ceia e tudo o mais. Nos Estados Unidos, a véspera do dia 24 não é importante, e as crianças abrem os presentes de manhã. O almoço é mais importante do que a ceia, mas a autora não se preocupou em pesquisar isso. E há também o problema de colocar, em um almoço de família, arroz como se fosse algo tradicional do país, e não é. Ninguém precisa pesquisar a fundo para descobrir isso, mas a autora não se deu ao trabalho de procurar ? e nem quis pagar alguém para realizar o serviço de leitura crítica e revisão para apontar essa necessidade.
O hot é ruim. Muito ruim. Existem certas palavras que não encaixam no vocabulário de certos personagens, assim como existem palavras que mesmo que combinem com o personagem, não combinam com o momento, mas a autora deixa isso para lá. É zoado, vergonhoso, e eu não vejo nem como um desenvolvimento decente porque não é bem feito.
Existem outras INÚMERAS coisas que não fazem sentido ou são muito [trecho retirado pelo escritório de advocacia Um Tiro de Justiça] de tão problemáticas. Como o pai da Agatha invadiu o prédio em que a Zara morava pra sequestrar a filha? Não tem porteiro? Por que colocaram uma policial de rua para supervisionar uma infratora, que iria para uma penitenciária, ao invés de um agente específico desse caso? Se o Russell era mesmo tão esperto e não queria a polícia envolvida perto dele ou da Agatha, por que não mudou a pena dela para doação de cesta básica logo? Por que a autora achou de bom tom colocar uma cena de hot, mesmo que não aprofundada, logo em um momento em que a Agatha estava vulnerável por ter sido ESPANCADA pelo pai?
E ah! A Zara se relacionou previamente com uma detenta chamada Haven (cujo nome eu tenho 98% de certeza de que não se escreve assim) e perdeu contato com ela por anos. Ok, a gente fica curioso para saber o que aconteceu com ela, mas sabem como a autora decide dar o desfecho para ela? Dizendo que, quando a Zara estava prestes a tirar a caixinha com a aliança de casamento do bolso para realizar o pedido, ela vê os cabelos ruivos da Haven e vê ela grávida. Ponto. Havia UM MILHÃO de maneiras de apresentar esse desfecho, mas a autora escolheu a PIOR delas.
Duvido muito que alguém contratado para cuidar desse livro antes que ele chegasse na Amazon deixaria essas coisas passarem. Dito isso, a história tem uma personagem chata que se desenvolve mal, tem uma personagem que seria interessante se não se apaixonasse pela chata, tem um milhão de erros de escrita e furos de ambientação, e também erra no trabalho que os personagens realizam em suas respectivas funções. Só o filho da Zara e a Evangeline, a governanta da Agatha, se salvam nesse livro. Não recomendo para ninguém ? a menos que queiram ver como alguém fez todas as piores escolhas narrativas possíveis.