Vanessa.Benko 03/07/2024
Não era filósofo, mas havia alguma filosofia na forma como escolheu levar a vida
Quando iniciei a leitura deste livro, as promessas de uma trama cheia de mistérios despertaram minha curiosidade. No entanto, ao longo das páginas, a expectativa foi gradualmente substituída por uma sensação de frustração e desapontamento. O livro apresenta a história de um homem que, ao encontrar uma caixa de sapatos com documentos e fotos de seu tio-avô, tenta desvendar o enigma que envolvia sua vida. Esse tio, descrito como "esquisitão", foi um personagem intrigante: um homem calado, com um passado envolto em boêmia e reclusão, alguém cuja vida parecia estar escondida atrás de uma cortina de segredos.
O ponto de partida é promissor, mas logo fica claro que as respostas para as perguntas levantadas pelo autor são escassas e evasivas. O autor lança mão de muitas conjecturas e reflexões filosóficas sobre o processo de conhecer alguém, mas falha em entregar uma narrativa substancial. O marketing do livro, que sugere um mergulho profundo nos segredos de um personagem misterioso, acabou prejudicando minha experiência. Entrei na leitura esperando uma revelação impactante sobre o tio, mas terminei com mais perguntas do que respostas.
A construção do ‘personagem’ do tio-avô é feita com base em fragmentos de memórias e suposições, o que cria uma atmosfera de mistério constante. No entanto, essa repetição de suposições sem fatos concretos torna a leitura cansativa e, em alguns momentos, parece que estamos dando voltas sem sair do lugar.
Apesar das frustrações, há algo valioso no desfecho do livro. O autor nos leva a compreender que a jornada de tentar conhecer outra pessoa é, na verdade, um espelho para nossa própria introspecção. O verdadeiro valor do livro reside na reflexão sobre como projetamos nossas próprias experiências e sentimentos ao tentar decifrar a vida de alguém. No final, não é tanto sobre o tio, mas sobre o narrador e nós mesmos – uma análise que nos força a confrontar nossas próprias limitações e a complexidade do que significa realmente conhecer alguém.
É um livro que nos faz questionar a possibilidade de entender completamente a vida de outra pessoa, especialmente quando essa vida é entremeada por histórias não contadas e mistérios não revelados. É uma leitura que, apesar de sua repetitividade e falta de concretude, nos oferece uma reflexão profunda sobre a natureza do conhecimento humano e a busca pelo autoconhecimento.
Aos leitores que se aventurarem por essas páginas, deixo um conselho: não busquem respostas claras e definitivas, pois elas não estão ali. Em vez disso, permita-se envolver pelas nuances da narrativa e pelo processo de descoberta que, no fim das contas, pode ser mais sobre si mesmo do que sobre o misterioso tio-avô. Bônus: é um dos livros que já li em que o título mais fez sentido pra mim, e consequentemente, um dos mais bonitos.