Literatura infantil

Literatura infantil Alejandro Zambra




Resenhas - Literatura infantil


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letscia 23/05/2024

58 (2024) a onomatopeia constrói o mundo.
"Você chora quando percebe que seus pés não servem para segurar objetos. Mas logo decifra, maravilhado, os desenhos do lençol. E as imperfeições da coberta. E as gotas de chuva na janela. Sua mãe imita os trovões e eu, os relâmpagos. Está tudo bem."
Apesar de se chamar literatura infantil, ouso dizer que ele é mais voltado para gente grande. Trata-se de uma história leve e, ao mesmo tempo, profundamente emocionante. O narrador, um pai de primeira viagem, descreve os primeiros dias de seu filho recém-nascido, fascinado pela vida que respira na sua frente, tomando cuidado para que, em sua ausência, ele não acabe por perder um passo importante no crescimento de sua criança.
O bebê desenvolve-se e, aos poucos, sua dependência vai diminuindo. O pai continua sendo aquele que lê para o filho, e eles compartilham desse ato de viajar entre mundos. Com seu filho, ele deixa-se contagiar e vira um pouquinho criança também. A pandemia chega e eles enfrentam o período juntos, em família, bravamente.
Conforme o menino cresce, a história começa a englobar a vida dele mais completamente, trazendo Sebastián, um amigo de infância com quem ele tem uma amizade muito forte. Na verdade, não fica claro se é um conto, uma divagação do narrador acerca de um possível futuro, ou uma história verídica. Apesar da incerteza, o enredo é igualmente cativante nessas partes.
A narração do livro é íntima e faz do leitor um "bisbilhoteiro". Uma coisa que muito me agradou foi o fato de o protagonista ter explicado como conheceu a esposa e ter explorado a paternidade não somente pelo seu ponto de vista, mas também trazendo a história de seu pai, com quem sempre teve uma relação difícil.
"A primeira vez que tentei escrever esta história, por exemplo, te apaguei. Achava que era possível disfarçar sua ausência, como se você tivesse faltado à sessão e nós, os demais atores, tivéramos que improvisar alguns ajustes de última hora."
Com todas as diferenças, eles conseguiram entrar em bons acordos ao longo do tempo. Vale pensar que ele aprendeu a ser mais simples com seu filho. A companhia de uma criança trouxe muitas mudanças para a vida dele, mudanças que ele admite orgulhosamente. Não somente os filhos devem se expressar e confidenciar suas histórias, mas os pais também devem se pôr como emissores. Foi interessante ver que, dessa vez, os papéis se inverteram um pouco.
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Fabrício Cardoso 17/05/2024

"Quando você tem um filho, volta a ser filho"
Zambra traça aqui um recorte infelizmente fugaz: a paternidade enquanto ainda somos filhos. Nesse conjunto de textos que compõem um ensaio pleno de lirismo, deixa claro o vácuo de ensinamentos em meio a "uma violência tão masculina, essa irmandade tão masculina", sempre pronta a mostrar como ser machos, mas jamais como ser pai. Aliás, sobre os silêncios masculinos, é comovente como Zambra tenta restabelecer as pontes implodidas com o próprio pai. Os diálogos onde buscam recuperar memórias perdidas compõem os textos, que vão se construindo diante do leitor. Não há catarse, resta um mal-estar, mas também a beleza da busca de contato. Zambra é um dos mais inventivos escritores contemporâneos e, se alguém estiver um tanto farto do sentimentalismos de pais tardios (Zambra foi pai aos 42), alivie. Literatura infantil vai muito além disso.

site: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2024/05/alejandro-zambra-descobre-que-todo-autor-e-crianca-ao-escrever-sobre-se-tornar-pai.shtml
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