As Grandes Navegações

As Grandes Navegações Gael Rodrigues




Resenhas - As Grandes Navegações


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Ty 14/03/2024

A leitura nos faz passar por inúmeros sentimentos, desde tentar entender como era ser albino em meio a pessoas tão diferentes, e que a própria mãe, apesar de amar, sofria demais e tentava diminuir esse sofrimento, só que ao fazer isso, o filho acabou ficando preso numa bolha, literalmente. Foi emocionante e impressionante acompanhar não só o Leonildo, como também a transição da Alice para Guilherme.
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Henrique DM 02/03/2024

Mais do que compreendi porque foi finalista do prêmio Kindle
Esse livro nos faz navegar não apenas no espaço geográfico, com Leonildo saindo de Moçambique e Guilherme da Paraíba para se encontrarem em São Paulo, mas também navega pelo tempo, com sua narrativa não-linear. E não satisfeito, as navegações do autor Gael Rodrigues adentram no fantástico mundo dos sonhos, contrapondo sua fluidez à duríssima realidade que os personagens precisam enfrentar.
Acompanhamos a trajetória de pessoas fora dos padrões injustamente estabelecidos. Leonildo é um africano albino, cuja pele sensível e visão fraca não suportam o calor e a claridade do dia. Guilherme é um homem trans, e sua família, que o expulsou de casa, não aceita que ele nunca foi Alice. Alima é uma moçambicana retinta com raríssimos olhos cor violeta, que sonha em reencontrar Leonildo, que era conhecido por Fantasma. Esse apelido não se devia apenas a sua pele alva, mas veio com sua primeira morte. Sim, ele precisou passar por uma falsa execução, orquestrada por sua mãe, que temia superstições arcaicas ameaçavam vitimar seu filho, já que até os ossos dos albinos eram vistos como amuletos valiosos.
A luta pela vida é brutal, o autor não nos poupa dos detalhes. Leonildo, o albino, nasceu numa ocupação, um prédio que outrora foi um luxoso resort na cidade de Beira, em Moçambique, mas agora é um imenso cortiço. Precisa viver escondido num cubículo após a falsa morte, apenas contando com a audição e fazendo amizade com insetos que dividem sua pobre casa. Quando foge para o Brasil, o ciclo se repete e se vê habitando outra ocupação, agora de um edifício no centro de São Paulo que coincidentemente também foi um grande hotel, onde a grande amizade que move o livro se inicia.
A pandemia de Covid-19 e suas diversas baixas estão presentes, inclusive algumas das declarações negacionistas e insensíveis do presidente. E nos presenteia com momentos de ternura, onde vemos quem tem quase nada sendo mais generoso do que pessoas mais privilegiadas, quando os amigos saem espalhando cuidado e carinho durante o isolamento social.

Essa é uma obra diferente, onde a linha do tempo não é contínua, mas navega pelos sonhos e reflexões dos personagens, que certamente refletem os paradigmas do autor.

RITMO:

Esse livro exige atenção. Espaço-tempo não são constantes absolutas. Gael Rodrigues está mais preocupado com a mensagem e sensações que deseja transmitir do que com a cronologia. Então há diversas digressões e saltos temporais. A narrativa por vezes muda abruptamente de lugar e outros personagens invadem a cena, isso quando a imaginação e o sonho não predominam, alimentados por histórias ancestrais e lendas. Então é preciso foco para companhar esse ritmo inconstante sem ser incoerente. Então não considero ter aquele ritmo veloz de uma história simples e direta, que até admite leituras apressadas. Ah, sem falar que toda hora me via obrigado a pausar a leitura para marcar e printar frases excelentes e lindamente construídas, então acabou impactando no ritmo. Mas não creio que isso possa ser chamado de problema.


DESENVOLVIMENTO DOS PERSONAGENS:

Aqui é onde a maestria se revela. Nosso narrador onisciente e oculto desnuda as mais profundas nuances dos indivíduos que o autor nos apresenta. Até mesmo coadjuvantes recebem um desenvolvimento marcante, como a mãe e o pai do albino Leonildo e Beta, a que primeiro acolheu Guilherme, antes mesmo do início de sua transição.
Até mesmo as cidades adquirem alguma personalidade, com Beira, em Moçambique, claramente moldando seus moradores, assim como o faz a gigante São Paulo e seu caótico centro, para onde os personagens convergem.
Poucas vezes vi uma construção de personagens feita com tanto esmero.



AMBIENTAÇÃO:

O livro é uma ficção contemporânea, então temos cenários reais do Brasil e de Moçambique. O paralelo entre cidades tão distantes fica explícito quando acompanhamos as dificuldades impostas aos personagens pelo ambiente. Porém, mais do que as cidades de Beira e São Paulo, são os antigos hotéis luxuosos abandonados, e posteriormente ocupados por pessoas desabrigadas que fazem o elo na ambientação. Essas ocupações urbanas são um ecossistema a parte, com suas próprias regras e desafios. Uma reunião de pessoas sem opções, rejeitadas, injustiçadas e profundamente golpeadas pela vida, por vezes nocauteadas. Mas em cujo árido solo de concreto, a vida ainda teima em brotar e crescer, tendo a amizade e o amor como frutos.



CONFLITOS:

Não há um vilão específico. E nem precisa, pois os personagens duelam diariamente contra o preconceito e profundas desigualdades sociais. Se digladiam contra a pobreza que os faz revirar lixo em busca de sucatas, com a fome sempre presente, com a precariedade do sistema de saúde… E então vem o Coronavírus, ceifando grande parte dos conhecidos dos nossos amados personagens, e empobrecendo todos que já eram miseráveis. Há conflitos internos, de Guilherme, para enfim ter um corpo que sente lhe pertencer, e de Leonildo, que cresce privado até da pouca liberdade que crianças pobres podem ter, dependendo exclusivamente sua audição e imaginação para explorar o ambiente em que se vê confinado. E a mensagem de resiliência deixada por todos esses personagens lutadores é simplesmente emocionante.
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Kelly @leitora_assidua_ 23/02/2024

Uma obra de arte em palavras!
Não consigo usar nada menos que isso para descrever essa leitura.

Uma leitura rápida, mas que ao mesmo tempo te faz ir devagar, saboreando e sentindo
cada momento, cada sensação, cada detalhe.

Uma narrativa emocionante que fala sobre amizade, sonhos e amor.

Linkando Moçambique a São Paulo, conhecemos a história de Leonildo, homem negro,
albino de infância sofrida com a de Guilherme, homem trans que busca incessantemente
por sua cirurgia, ser compreendido e aceito.

Duas histórias, dois lugares distintos e uma narrativa de tirar o chão?

Linda, magistral, uma verdadeira obra de arte!

Difícil de descrever, fácil de sentir.

Após finalizar essa leitura, entendo porque ela é finalista do prêmio Kindle de Literatura?

Leia e depois volte aqui para me dizer o que achou!
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Janete36 23/02/2024

Fantasia e realidade se encontam
Gael Rodrigues nos arrasta para uma viagem épica em "As Grandes Navegações", onde tem uma vibe que nos faz sair totalmente de nossa zona de conforto. O livro é um mix de realidade com uma pitada de fantasia, onde histórias que parecem saídas de um sonho louco se entrelaçam de um jeito que só lendo para crer.

A história começa com o Leonildo, um bebê albino nascido em cima de um baobá durante uma enchente lá em Moçambique. Sua vida começa meio que como uma lenda, mas logo vira um pesadelo, pois ele precisa se esconder para não virar amuleto. Do outro lado do oceano, temos o Guilherme, que 'sai do armário' e do Nordeste, cai em São Paulo e depois vê sua vida dar uma pausa por causa da pandemia, enquanto espera uma cirurgia de redesignação sexual.

Apesar de estarem em mundos diferentes, Leonildo e Guilherme acabam se tornando grandes amigos de uma forma bem mágica, mostrando que a amizade deles não conhece fronteiras. Eles vivem em lugares que já foram chiques mas hoje são ocupações, refletindo toda a bagunça deixada por quem chegou primeiro e explorou o que viu.

O autor, tem um talento nato de contar histórias, e nos faz mergulhar num Brasil e num Moçambique que muita gente não vê, mas que são reais e cheios de magia. Ele pega situações que a gente jura que são inventadas e mostra que, na realidade, elas acontecem de verdade.

O livro também mostra sobre como repetimos as mesmas histórias de exploração e resistência, mas também sobre a força incrível de quem está sempre na luta, mesmo que a sociedade faça pouco caso. Aqui, os verdadeiros heróis são aqueles que normalmente sao desprezados, mostrando que são tão importantes e incríveis quanto qualquer um.

"As Grandes Navegações" é aquele tapa na cara de quem acha que já viu de tudo. É um convite para abrir a mente e o coração, entender que nosso passado está sempre colado no presente e que, no fim das contas, somos todos conectados de um jeito ou de outro.

Resumindo: esse livro é um must-read total. Gael Rodrigues manda muito bem ao mostrar que a realidade pode ser tão ou mais louca que a ficção, e que no fim, somos todos parte de uma mesma história maluca chamada humanidade. Pode apostar, essa leitura é daquelas que faz a gente pensar e sentir tudo ao mesmo tempo.

E ai, gostou da resenha? A história desses dois te deixou curiosa? Já digo que prepare os lencinhos. Ah, e olha que legal, esse livro está participando do prêmio Kindle de literatura. Então já sabe, a história hipnotiza.

Disponível na Amazom para compra . Boa leitura.
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Giulia.Nathalia 21/02/2024

Fantástico
O livro “As Grandes Navegações” do escritor Gael Rodrigues é um dos finalistas do Prêmio Kindle de Literatura. Conhecemos o romance em parceria com a @maishypeassessoria e afirmo que possui grandes chances de vencer o Prêmio. Continue lendo a resenha e você vai entender os motivos.

A narrativa é desenvolvida através de um olhar sensível sobre duas histórias cruzadas geograficamente, de homens absolutamente distintos, no entanto, a trajetória é similar e emocionante. Os protagonistas Leonildo e Guilherme, ambos fruto da desigualdade social latino-americana, necessitam fugir de suas terras para sobreviver, encontrando abrigo em ocupações que no passado foram hotéis de luxo em São Paulo. Tudo acontece durante a pandemia do Covid-19.

A crítica social é presente à medida que a trama se desenvolve com lirismo e realismo mágico. Contudo, os rótulos imputados pela sociedade em dois amigos de origem precária marginaliza, discrimina e exclui violentamente ambos de qualquer oportunidade.
Reflexo de um Brasil opressor e massacrante para as minorias, o autor descreve com riqueza de detalhes o cotidiano das pessoas de baixa renda sob a ótica dos protagonistas-heróis.

A escrita em prosa poética e representativa traz à tona reflexões avassaladoras que ignoramos na zona de conforto. A obra utiliza com maestria o natural e o sobrenatural visceralmente construído em peças que unidas formam o magnetismo central da mensagem: amizade, morte, vida, aliança, batalhas, renascimento e empatia.

Transcendendo os padrões e desafiando o leitor corajosamente, Gael Rodrigues atravessa fronteiras oceânicas na palavra e versos que não conseguimos ecoar. As vozes são silenciadas, perdendo o controle e domínio próprio. Os dois heróis que tanto sentem dores físicas e na alma inspiram, respiram e vivem através de laços humanos atemporais e solidificados.


#premiokindle
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Jojo 20/02/2024

Uma história emocionante
O livro narra a história de Leonildo, um jovem albino que vem de Moçambique para o Brasil, mais precisamente, São Paulo, e Guilherme, um homem trans e paraibano, os dois têm motivos para saírem de suas origens em direção a São Paulo, e são motivados pela dor e sofrimento que viviam em suas cidades. Mesmo sabendo que não seria uma mudança fácil, optaram em tentar recomeçar uma nova vida.
Seus destinos irão se cruzar, e podemos acompanhar o nascer de uma amizade entre eles, onde cada um, carrega em sua história sofrimentos e lutas, porém mesmo com as diferenças culturais e dificuldades particulares, juntos mostram o quanto estão dispostos a estarem unidos.
Amei conhecer a escrita do Gael, uma escrita fluída, rica em detalhes que faz com que a experiência na leitura seja incrível, imaginando cada cenário e situação.
Um drama que nos envolve e emociona, o autor teve o cuidado e a sensibilidade em não deixar a leitura pesada com os temas abordados.
Nos deparamos com poesia e leveza em momentos cruciais, onde os personagens precisam usar de sabedoria, coragem e paciência em enfrentar as dificuldades.
Gostei da mistura cultural, entre Moçambique e o Brasil, durante a leitura temos a experiência de se aprofundar e conhecer as diferentes culturais.
É uma leitura necessária, faz refletirmos em nosso papel na sociedade e a respeitar a diversidade com amor. Além, de mostrar o valor de uma amizade em tempos difíceis, mesmo havendo diferenças.
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Deusani0 17/02/2024

Sensacional
Não é á toa que esse livro é finalista do prêmio kindle de literatura.
De forma poética a história é contada, rica de detalhes que me fez achar que estava dentro da história.
A leitura é fluída e muito envolvente, os personagens são marcantes e bem construídos.
Leonildo nasceu na África, mas é albino, o sofrimento foi tão grande que a mãe forjou a morte do menino.
Guilherme estava em transição para mudança de sexo, e que sobrevive em um país violento e preconceito.
Ele é Leonildo são grandes amigos, porém uma doença até então desconhecida pode separá-los.
Essa é a história que você se pega torcendo pelos personagens.
Eu simplesmente amei a história a escrita do autor, em fim o livro todo.
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Tomlucitor23 15/02/2024

Eu acho que poderia ter acabado esse livro sem o epílogo ou o último capítulo, independente disso, esse livro foi incrível, a narrativa chega a se divagar várias vezes e eu não sabia o que ele queria dizer, para no final aquilo fazer total sentido, ainda assim, me perdi algumas vezes, e sinto que uma releitura, com ainda mais atenção vai me beneficiar muito nos acontecimentos, que são muitos, mas olha, em especial, quem chegar ao capítulo 11, precisa ter estômago forte, eu não tive e chorei mesmo, queria ver mais sobre o autor falando sobre as inspirações e o processo criativo do livro, porque foi uma narrativa e tanto, agora quero lee tudo que ele escreve.
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Yasmin.Ramos 11/02/2024

Sensacional
AS GRANDES NAVEGAÇÕES
Autor: Gael Rodrigues
Ig do autor:
Disponível pela Amazon e Kindle Unlimited
Finalista prêmio Kindle da Literatura

Conheceremos Leonildo, um jovem albino, que nasceu em Mocambique, indo parar em São Paulo, após ter vivido uma brusca separação de sua mãe.

Conheceremos Guilherme, um homem trans e paraibano, que apesar de todas as circunstâncias em que vive, seu maior objetivo é viver e sobreviver em um país cercado de violência.

Com todas as diferenças que separam e dificuldade que unem, Leonildo e Guilherme acabam virando grandes amigos.

Uma amizade insesperada, unindo dois países separados pelo Oceano, Brasil e Moçambique, mas mostrando que existem amizades que podem enfrentar qualquer coisa mesmo em meio dificuldades.

OPINIÃO:

"AS GRANDES NAVEGAÇÕES" é uma obra escrita pelo autor nacional Gael Rodrigues, que mostra o motivo de ser um dos finalista de um prêmio tão renomado dentro da literatura nacional.

Gael através da sua escrita, trás uma representatividade muito bem escrita , através uma estória atemporal, trazendo personagens tão reais que chegam ser humanizados numa escrita quase poética.

Com uma ambientação que nos deixa vivenciar sua obra de forma como se tivessemos dentro da estória.

Para finalizar, Gael possui uma escrita impecavél, que torna quase impossivel parar de ler sem finalizar desde suas páginas iniciais, ainda deixando um gostinho de quero mais.

Amei, favoritei e super indico
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Egberto Vital 24/01/2024

Uma prosa poética linda. O autor constrói imagens emocionantes ao longo de sua narrativa, que vai conquistando o leitor pela emoção, por suas personagens cativantes e uma narrativa que prende do início ao fim.

É uma belíssima narrativa dos corpos. Dos corpos subalternos, dos corpos que se perdem, que falecem, apanham, sofrem e resistem; corpos fora dos padrões, corpos que conversam em suas diferenças, vicissitudes e vivências. Corpos que se recorporificam.

Essa é uma narrativa do copo-mapa, corpo-memória, do corpo que pulsa e sobrevive até a mais violenta das pandemias, seja do vírus ou das inúmeras formas de preconceitos.

O autor constrói uma verdadeira geografia do corpo-multidão em "As grandes navegações", e faz o leitor ultrapassar as fronteiras, desvelar o oculto e se perceber parte desses corpos, nos faz sentir a dor na palavra.
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Natasmi Cortez 16/11/2023

Como pode um personagem, um simples nome em um papel, se transformar em uma pessoa tão querida para nós? Todas as minhas relações com a literatura, são em grande parte sobre as criaturas das obras. Criaturas, pois foram criadas. Quando cridas por mãos tão habilidosas quanto às de Gael Rodrigues, fazem morada em nós. Leonildo, que é ingênuo como uma criança e gentil de forma quase inumana, cativa desde o ventre de sua mãe. Um menino milagre, um amuleto de sorte.
A narrativa é absurdamente envolvente, parece que nunca temos o suficiente da história. O texto, rico em metáforas, é absurdamente bonito. É como se dentro da trama, muitas outras existissem. O enredo que acompanha primeiramente Leonildo e depois Guilherme, se desmembra em uma profusão de contextos. Esse é um livro que acima de tudo fala sobre identidade, sobre um lugar e sobre um povo. Num mundo em que muito se cobra o ter, Gael Rodrigues focou no ser. Destituídos de quaisquer posses materiais, vivendo inclusive em grande penúria, seus personagens abundam em características intangíveis. Eles pensam muito, sobrevivem como podem e sonham, ah, como sonham!
Os sonhos nos trazem esperança, são como uma bússola que nos guia além. Enquanto o corpo padece na terra, a alma flutua em paisagens oníricas, buscando refúgio e consolo naquilo que está além do imaginável. Do meio de tanta dor, o autor extrai reflexões profundas que falam ao nosso coração. É como se querendo contar uma história, ele quisesse nos ensinar o viver social. A trama transborda consciência de classe, mesmo sem falar abertamente em política. Evoca a exploração e a violência do homem branco ao chegar em terras moçambicanas, mesmo sem se debruçar em uma aula de história. Aborda preconceito, xenofobia e racismo, mesmo sem erguer qualquer bandeira. E nada disso foi necessário. A escrita sensível e dedicada, reflete o conhecimento do autor.
Chorei no ônibus enquanto lia As Grandes Navegações, de Gael Rodrigues. A segunda parte do livro, narrada por Guilherme, é uma valsa entre passado e presente. Memórias se misturam ao dia a dia dos personagens, e nessas memórias, um acontecimento bastante marcado dentro de cada um de nós: a pandemia. Guilherme, considerado alguém que está à margem da sociedade, compartilha conosco uma dor que é de todos nós, mas que ao mesmo tempo, não foi vivenciada por todos nós da mesma forma.
Ainda lembro que todo tipo de frase motivacional ou de efeito foi postada nas redes sociais para tentar dar significado ao luto de um mundo inteiro. As dores eram as mais diversas, mas eram dores. Quando Guilherme vê a melhor amiga sair pela porta, não imagina que será a última vez que irá respirar o mesmo ar que ela.
Antes apenas um verbo, respirar, virou sinônimo de vida ou morte. Milagre para quem conseguia viver mais um dia em meio ao caos, tragédia para quem se despediu dos familiares nas filas intermináveis dos cemitérios.
Para além da luta que nosso corpo travava com um vírus mortal, havia uma guerra acontecendo nos bastidores, e que é invisível para a maioria de nós. A guerra da fome, da extrema pobreza, da falta de moradia e de trabalho. Nossos personagens enfrentaram dois inimigos implacáveis, a luta pela sobrevivência foi feroz como nunca. Parte dessa batalha eu só assisti pela televisão.
Ainda me dói recordar e essa leitura reabriu uma ferida que nem bem tinha cicatrizado. Mas pra isso servem os livros, para que nossas emoções sejam remexidas e isso Gael Rodrigues fez com maestria.
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Danniki 14/11/2023

O livro é quase o "Cem Anos de Solidão"
A história é dividida em duas partes, na primeira conhecemos um menino albino que nasceu em cima de uma baobá enquanto uma enchente destruía Beira, cidade de Moçambique. Moçambique fica localizado na África, certo?

Enquanto eu lia, eu tinha um misto de sentimentos de nostalgia do livro “Cem anos de solidão”, do autor colombiano Gabriel Garcia Márquez, que segue a mesma pegada em narrar histórias dos personagens próximos do protagonista, envolvendo realismo mágico.

Como a primeira parte acontece em Moçambique, as pessoas de lá falam português, não a nossa língua, mas que é semelhante. Então foi interessante acompanhar a trama com misturas de culturas, e não afeta a sua compreensão ou interpretação do enredo. Acho que esse foi o maior fator da história para eu ter gostado.

Na segunda parte mostra Guilherme lutando pelos seus direitos como homem trans. Ele mora na capital de São Paulo, e vemos que a história dele está ligada com a história do albino. Tantos os personagens ao redor do Gui e do moçambicano, vemos pessoas diferentes, mas com histórias de vidas parecidas. A realidade que acontece na periferia de São Paulo e da Beira.

O autor fez um ótimo trabalho, ele coletou notícias reais para “As Grandes Navegações”. Eu acho que a cena da enchente em Beira se trata do ciclone que aconteceu em 2018, e a história do coronavírus também foi incluída.

Fora a narrativa ser fluída, os personagens bem construídos, o Gael focou na importância da representatividade. Não é por causa do albino ou do homem trans, mas encontramos um gay, um gordo, uma prostituta, uma pessoas com deficiência física, etc.

Então, assim a obra é muito bem pensada e traz grandes emoções para es leitories. Caso você goste de realismo mágico ou fantástico e uma ficção contemporânea com situações realistas com desfechos que fogem dos clichês, fica aí a dica!

site: https://www.instagram.com/mundodedanniki/
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leiturasdabiaprado 08/10/2023

As grandes navegações de Gael Rodrigues é aquele livro que vai te fazer parar, respirar, internalizar e só então continuar!
Comecei achando que seria um realismo fantástico (gênero que eu amo), mas logo fui vendo que não, que era mais complexo, denso, com temas pesados, apesar do lirismo!
Leonildo é um africano de Moçambique que nasceu albino, sua mãe, ainda na sua infância, forja a sua morte e o mantém dentro do quarto que eles moram (num antigo hotel que virou uma ocupação)!
Ali ele cresce, com a pureza de uma criança, com uma solidão enorme e escondido pela mãe... presencia cenas absurdas, passa a ter como amigos os insetos, aguça a audição, diminuí a visão, atrofia... mas acompanha a vida do "hotel" pelos sons...
Guilherme é um nordestino que nasceu Alice, rejeitado pela família se vê numa ocupação de São Paulo para sobreviver, lá é acolhido por uma mulher que vira sua amiga, que lhe dá moradia e emprego...
Um dia os destinos desses dois homens tão distantes e diferentes se cruza e uma amizade se faz, os dois são sobreviventes e juntos se fortalecem!
Mas, o destino continua dando as suas reviravoltas e mostrando toda a complexidade de sobreviver marginalizado num grande centro como São Paulo, ainda mais durante a pandemia do Covid!
Muitas críticas atravessam as narrativas, revivemos as mortes, o deboche, o pouco caso e a precarização do trabalho e das faltas de condições sanitárias para a população de baixa renda...
Paralelamente vemos o tormento e a degradação causada pelas drogas, a sua população animalizada por ela e pela sociedade!
Cenas reais, muito além de um realismo fantástico, um realismo brasileiro, um realismo mundial, uma pandemia que nos assolou e acima de tudo a vida de uma população que vive em ocupações, cortiços, ralando, lutando e buscando uma vida com dignidade e respeito!!
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Taize @viagemliteral 06/10/2023

Adoro histórias intensas, que nos fazem pensar no mundo, nos seres humanos, nas adversidades da vida. Mas ler a sinopse de "As grandes navegações" não me preparou para o impacto que seria a história de Leonildo e Guilherme.

Duas pessoas diferentes, mas semelhantes perante as mazelas da vida.
Leonildo nasceu em Moçambique, em cima de uma árvore, enquanto a forte chuva caía e deixava Beira, sua cidade, completamente ilhada.
Uma criança albina, símbolo de sorte, que morava num hotel abandonado com tantas outras famílias pobres que não tinham para onde ir, tampouco o que comer.
O Fantasma, como foi nomeado pelos seus amigos, teve sua primeira morte ainda na infância.

Guilherme, jovem e inexperiente. Sai da Paraíba para tentar realizar o sonho de nascer na cidade de São Paulo; expulso da casa da tia, é acolhido por uma desconhecida, em um lugar que outrora também fora um hotel de luxo, mas que agora protege pessoas, do frio, da fome, da violência. A "Mulher Árvore" que lhe abraça e incentiva a buscar sempre seus sonhos.

?"Quem mais poderia, além do sonho, nos colocar em lugares que nunca pisamos, voar, mesmo sem ter asas, e conhecer pessoas tantas que não caberiam na geografia?"

O destino e o cenário pandêmico do Brasil une Leonildo e Guilherme. Duas pessoas que um dia foram separadas apenas pelo oceano, mas que são unidas pelo mesmo sonho: nascer.

Resumindo assim, parece apenas mais uma história que a gente pode simplesmente deixar ali esperando a oportunidade para ser lida, mas não. É uma história necessária demais!

O autor tem uma escrita incrível, poética, que nos faz mergulhar na história desses dois personagens, e sentir cada dor e cada alegria pelas quais eles passam. Eles possuem uma amizade sincera, uma força sobrenatural para tentar realizar seus sonhos, e mesmo feridos interna e externamente, procuram dar o melhor de si para ajudar as pessoas que passam por dificuldades na vida.

Temos aqui muita crítica social, representatividade, saltos temporais, cenário pandêmico, conscientização sobre o uso de dr*gas, e muito, muito mais.

O autor brilha e brinca nas entrelinhas, usando metáforas para deixar a história ainda mais incrível.

Crua, triste, linda, tocante e necessária. Essas são as palavras para descrever essa história digna de reconhecimento!
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Leiturasdorogerio 30/09/2023

Resenha feita no meu Instagram literário @leiturasdorogerio
Em "As grandes navegações" livro do autor Gael Rodrigues narra a história de dois personagens, duas pessoas completamente diferentes, mas ao mesmo tempo iguais, em história, em vivência, em realidade.
Leonildo nasceu em Beira, cidade de Moçambique, em um cenário triste e miserável. Em cima de uma árvore ancestral chamada baobá que transmuta em proteção e sabedoria, um menino albino nasceu, em meio às enchentes que assolavam aquele local.
Era um milagre, um sinal, diziam todos ao ver aquele menino negro albino.
Sua vida não foi fácil, pelo contrário, foi sofrida em todos os sentidos. Precisou sair do seu país para se encontrar. No Brasil, cidade de São Paulo, Leonildo chegou, mas será que ele encontrou o que procurava?
Guilherme, nascido na Paraíba, se sentia invisível naquele local, foge para São Paulo em busca de se encontrar para poder finalmente ser o homem que sempre foi.
Leonildo e Guilherme, dois homens separados por um oceano, uma barreira geográfica potente, se encontram em uma situação cotidiana e esses dois terão que ter força para manter a amizade que construíram e essa conexão nem sempre é racional, mas diante da vivência de ambos, que nunca sonharam grande, será que isso é um empecilho para uma amizade verdadeira?

Gael soube com maestria retratar Moçambique sem ser invasivo e sem desrespeitar as tradições da região. Um povo que merece respeito e visibilidade. A realidade aos olhos do Gael enxergados por Nido, pela sua família mostra o quão complexa é essa teia, esse emaranhado de vidas se cruzando, se conectando, transpassando barreiras, regiões e tempo.
A forma como ele narra, os apontamentos, desde a mãe solteira que tem que batalhar para dar de comer para o filho, o bêbado e o seu filho, a manca, a filha da pu*a, a Maria-rapaz, as crianças que faziam bullying com o Nido para fugir daquela realidade só mostra que Gael se aprofundou muito na história e conseguiu retratar tudo como deveria.
A escrita do autor é impecável, a forma que ele leva a história, os arcos, as construções, a linguagem metafórica, essa complexidade do que é real e irreal, sonhos e pensamentos, o jogo de palavras ,me encantou bastante, porém fiquei um pouco perdido na passagem do tempo e na saída do Nido de Moçambique até SP e do Guilherme do nordeste para SP, se ele tivesse trabalhado com passagem de tempo mais explícito, com datas e dado mais detalhes, de como tudo aconteceu até chegar ao ponto dos dois se encontrarem, acho que eu entenderia melhor. Em certas partes da história eu fiquei um pouco perdido, confuso, mas isso não me impediu de entendê-la por completo.
A realidade do Guilherme, os traumas, as batalhas que ele trava, o cenário de SP em que vive também me tocou de uma maneira que se esse era o objetivo do autor, ele conseguiu atingi-lo.
Nós temos que estar sempre em constante evolução e aprendizado. A realidade do Nido não parece nada com a minha, por não ser um homem negro, um homem albino, mas eu entendo e consigo me colocar no seu lugar, ver sobre seus olhos e isso é que nós torna empáticos. A história do Guilherme é uma realidade mais próxima a minha mas mesmo assim nada se compara e seria hipocrisia da minha parte dizer algo além.
A construção dos personagens foi perfeita, os diálogos complexos que me encantaram muito, ambientação impecável, sem erros aparentes de escrita. Super recomendo a leitura.

Obs: o livro aborda temas como racismo, preconceito, abuso de álcool, depressão, abandono parental. Se for gatilho para você, leia com atenção.
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