helodoll 25/06/2023
“Nunca se dê por inteiro por alguém; guarde sempre 10% de si para você”.
A devoção inabalável de Michelle pela mãe, Chongmi, é evidente neste relato duro entre mãe e filha. No entanto, Michelle não hesita em retratar sua mãe com várias tonalidades chocantes, quase chegando ao abuso. Chongmi é uma mãe exigente, muitas vezes excessivamente, que proferiu palavras cruéis para a filha, rotulando-a constantemente como problemática e desejando que ela siga outros caminhos. Além disso, a falta de representatividade asiática é um tema abordado, o que faz Michelle sentir-se perdida.
O afeto entre as duas se manifesta de outras maneiras, como em viagens, na partilha de comida e nas sutis formas pelas quais a mãe entrega a Michelle pequenos fragmentos de sua cultura. A comida, afinal, torna-se um dos poucos símbolos restantes para que a escritora encontre um sentido de lar possível, apesar de ter crescido em meio à intercambialidade de duas culturas. Michelle arremata: “quando vou ao H Mart, não estou apenas em busca de frutos do mar e três ramos de cebolinha por um dólar; estou à procura de memórias. Estou colhendo evidências de que a metade coreana da minha identidade não morreu quando elas morreram”.
A morte da mãe, que é algo que já sabemos ser óbvio, mas ainda dói como se fosse de alguém que realmente conhecemos quando de fato ocorre. E é nesse, e em tantos outros momentos, que nós também nos vemos aos prantos.