Thali 25/02/2024A vida é mais do que você imagina e menos do que você gostaria que fosse.Neste romance contemporâneo, acompanhamos a vida de Solano, um homem com mais de 40 anos, que passeia com cães pra sobreviver, mora em uma kitnet no centro da São Paulo e se encontra semanalmente com uma mulher bem mais jovem, que ele conheceu por aplicativo. No dia em que o primeiro prédio cai em São Paulo, essa jovem some, e a partir daí vamos acompanhando a busca de Solano por ela e descobrindo que não são só os prédios que estão desmoronando.
O livro tem uma história boa, misturando um pouco de distopia com suspense e drama psicológico. Conforme avançamos na história do personagem e vamos descobrindo o que o levou até aquele ponto, fica claro que o desabamento dos prédios também é o desabamento interno dele, da vida dele, de suas certezas.
(daqui em diante eu cito alguns trechos do livro, então se não quiser nenhum tipo de spoiler, não leia).
É impossível não notar que parte do cenário é inspirado na época de isolamento da pandemia da Covid-19. Isso fica claro em alguns trechos, como "Quantas vidas se consumiram enclausuradas entre paredes rachadas de prédios que resistiam à doença do mundo?" e ainda mais nítido em: "O presidente da República, por exemplo, queria o adiamento das eleições por tempo indeterminado. Militares, evangélicos e uma veterana atriz de novela o apoiavam."
Há uma forte crítica em relação à lógica capitalista e exploratória que vivemos, ao trabalho em excesso, ao liberalismo e a lógica de mercado. Isso fica evidente em trechos como: "Os liberais de hoje vibrariam com um cidadão desses. VIveu pouco. Produziu muito. E não gerou custos previdenciários" e "Nessa falsa corrida entre funcionários, os únicos vencedores são os donos das empresas e os acionistas".
Outro ponto que gostei é que a história de passa em São Paulo, então vários lugares bastante conhecidos (por quem conhece a cidade) são citados (bairros, avenidas, prédios, etc.)
Apesar de ter um enredo bem interessante, alguns pontos deixaram a desejar. Achei o personagem principal um pouco forçado, no vocabulário, nas palavras escolhidas e na repetida necessidade de "acender um baseado". Mas também pode ser alguma implicância minha rs. Do meio para o fim do livro parece que falta uma "cola" pra dar sustentação a toda a história, e isso dá a sensação de que os vários elementos ficaram todos soltos e que a história perde força. Também senti que faltou explorar um pouco mais o motivo principal que levou ele a essa situação (sim, todos fazemos merda, mas dá pra simplesmente ignorar uma coisa dessas e seguir em frente? O que se esperava do personagem? O que era possível ser feito?).
Enfim, foi uma leitura fluida pra mim, achei a história por trás muito boa, mas que faltou um pouco de força no final.