mimi 26/10/2022
E se alguém reclamar? É o conceito do livro!
Eu gosto de fazer algumas resenhas só para organizar meus pensamentos acerca do livro e é o que vou fazer aqui. Tive as expectativas muito altas pra essa obra porque prometia tudo e entregou completamente nada, então foi uma decepção enorme.
A leitura começa bem arrastada, mas te mantém preso na história por curiosidade de entender aquele mundo. Porém, acho que os maiores problemas desse livro são a protagonista (insuportável) e a narrativa em que NADA acontece e a história só começa a andar depois dos 50%.
Não sei por onde começar a falar da Ragni, a não ser que ela parece ter sido escrita tendo como base livros dos anos 2013-2015 em que a mocinha ser burra, ingênua e insuportável era moda. O meu maior incômodo sobre ela é que a autora tenta fazer com que seja desconfiada, mas sempre se perde antes mesmo da metade do caminho. Sabe aquela música do Justin Bieber em que ele diz "primeiro você quer ir para à esquerda, depois você quer virar à direita"? É a autora com essa história e essa personagem.
A partir daqui terá spoilers.
A Ragni começa a flertar desesperadamente com a Yuna, ficando até mesmo triste ao perceber ser um caso de uma noite. Então, do nada, passa a ficar desconfiada sem motivo algum (mas pra transar com a rainha não teve desconfiança, né?)
Elas fazem o acordo de conversar através do espelho, mas a Ragni depois diz que não esperava que ela seria procurada, mesmo que no momento estivesse PRESA e precisando de ajuda. Sim, essa era a preocupação dela, falar de baixa autoestima e como sofreu. Pois bem, Yuna oferece ajuda, mas Ragni começa a tratá-la mal sem necessidade porque a autora lembrou que ao invés de uma burra insuportável queria uma personagem fodona e desconfiada com síndrome de Regina George e patadas para se dar na escola! Como se não bastasse, a Ragni nunca sabe o que quer e as vezes só pensa nela, mesmo tendo outras pessoas envolvidas.
O ápice foi quando Yuna disse que ofereceria ajuda mesmo se não fosse ganhar nada em troca e a Ragni só pensa em como queria que a Yuna a ajudasse (????? foi o que ela te propôs sua doida) e a consolasse (vocês se conhecem há um dia). Ela diz ainda que criou uma ilusão da Yuna e que isso a machucou, que ela se sentia traída. Minha filha, se vocês passaram 3h juntas foi muito. Como se tudo isso não fosse tortura psicológica o suficiente a Ragni conta que queria alguém para ser sua confidente e compartilhar tudo, alguém em quem confiar, mas tinha dito no capítulo passado que não esperava isso de Yuna.
O tempo todo ela fala uma coisa e depois diz outra totalmente oposta, e se alguém acredita que isso acontece por causa da tal "loucura" dela (omg, she's so crazy, i love her!), simplesmente não me convence. O livro todo é uma repetição de como a infância da Ragni foi difícil e como ela é louca. O desenvolvimento dos personagens é totalmente zero, eu duvido que alguém saiba alguma coisa sobre a personalidade dos demais.
O romance com a Yuna foi o que menos me convenceu na história toda, só parecia... deslocado. E ainda não sei qual foi a lógica de colocar a cena de sexo com a rainha no livro. Em um capítulo a Ragni estava toda trantornada com ódio dela e querendo fugir, mas no outro parecia enfeitiçada? Eu fiquei de verdade esperando a autora dizer que tinha alguma magia no piano ou sei lá, mas não, ela aparentemente quis aquilo. Era pra personagem "acordar" sobre a rainha ser a vilã? Mas ela já sabia disso antes, o sexo não apresentou NADA que a Ragni já não soubesse e ainda fez ela se desentender com a amiga (por falta de comunicação). Nessa hora eu já nem sabia com quem esperar o romance, com a rainha ou a amiga? Porque eram as opções mais condizentes no momento, e a Yuna ser tão mal desenvolvida só me fez desgostar mais.
(À propósito, tem algumas cenas que a Ragni parece ter sido escrita como um homem hétero cis, mas não irei elaborar.)
Já que estamos falando de desenvolvimento, podemos falar sobre o plano delas do início até 90% do livro que não tem sentido algum? No início a Ragni finge ser louca para ser mandada embora junto da Edda, mas o que exatamente a Edda estava fazendo para ser mandada embora também? Eu sinto que isso nunca ficou claro na história justamente porque não houve preocupação em mostrar os outros personagens. Parecia que ela só ajudava a Ragni e esperava pra ir escondida junto dela, como eu não sei. Além disso, a Ragni querendo refúgio em outro reino e que a rainha começasse uma guerra por ela, uma zé ninguém? De verdade isso foi auge pra mim, eu me perguntei se a autora sabia onde queria chegar ou se tava escrevendo na sorte. Aliás, a personagem que sofreu tanto querendo iniciar uma guerra como se isso não fosse fragilizar ainda mais o povo.
Eu também poderia citar como ela parecia mal se importar com o pai em alguns momentos, inclusive alguns capítulos antes da morte diz que não tava sentindo falta dele como deveria e aí ele é assassinado pra servir de plot twist pra ela acordar pra vida e agir.
Acho que a única personagem que eu realmente me interessei foi a própria Sigrid, que parecia ter muito potencial se escrita por alguém que soubesse desenvolver e conduzir a personagem. Os demais me pareceram meio transparentes ou até mesmo uma folha em branco.
Enfim, eu fiquei muito triste e decepcionada porque tava muito ansiosa e eu gostei de verdade da escrita da autora, ela escreve muito bem, mesmo que nos dois últimos livros que li dela eu tenha sentido o mesmo problema em relação a desenvolvimento (esse principalmente), mas acredito que ela tem MUITO potencial.
De qualquer forma, eu queria escrever essa resenha porque quando li a maioria tava elogiando completamente e me senti uma pessoa horrível por não tá gostando. As poucas pessoas que comentavam que não gostaram aparentemente tinham medo de elaborar o porquê de não terem gostado (provavelmente porque é livro nacional e só se pode detonar livro gringo). Então se alguém não gostou talvez essa resenha seja útil pra esclarecer as ideias.