spoiler visualizarJM 25/04/2024
É intenso
Então, acabei de terminar "Colapso" do Roberto Denser. O livro é um soco no estômago, para falar o mínimo. Prepare-se para uma montanha-russa emocional com cenas que incluem violência e estupro — em cenas bem gráficas e quase insuportáveis. Sério, teve momentos que pensei em desistir da leitura pela desesperança no cenário geral. A primeira metade é triste, uma vibe "sem saída", que introduz aos poucos os personagens e o ambiente em capítulos curtinhos. O teor negativo, a desolação e as cenas de horror, fizeram a leitura ser lenta, porque eu precisava dar uma respirada, rs, e buscar algo mais leve antes de mergulhar de novo nesse fim de mundo.
E por fim de mundo, o cenário pós-apocalíptico do livro é muito interessante, apesar de não sabermos como essa desgraça teve início, só um nome que não ajuda muito "Marco Zero". Com praticamente nada de animais ou plantas sobrevivendo, um céu vermelho e um mundo ou congelado ou desértico, é de se perguntar como a humanidade ainda rasteja por ali. O negócio é tão crítico que eles sobrevivem comendo ratazanas e raízes com água podre — e em determinado momento você ainda encontra prisioneiros sendo alimentados com capim, haha, o que biologicamente nem faz sentido, porque não digerimos celulose.
Enfim, depois desse marasmo na primeira parte, a segunda parte do livro traz um respiro com o desenvolvimento de alguns personagens que começam a ganhar forma e propósito, e fico interessado em Camargo, Garoto e Diana. Só que nem todos eles me convenceram. Tem um personagem, o Espanhol, que parece ter mais o propósito de mostrar uma região do Brasil do que ser um personagem substancial e por mim seria retirado da história. Ele meio que virou o Groot de "Guardiãoes da Galáxia" em determinado momento, só que sem o charme. E a Samanta... bem, ela é outra personagem que tanto faz. Inclusive, algumas vezes a confundi com a Bia, sei lá, às vezes por um problema de escrita que eu ainda vou apontar. No entanto, adorei detestar a Diana, entender suas motivações, a forma como ela se expressava, mesmo que revirasse os olhos com cada "mana" e "Atenas", haha. Consegui gostar com ressalvas de outros personagens que, bem, não são perfeitos nesse cenário - e tá tudo certo.
Agora, falando da escrita. Embora dinâmica e fluída, focada em pensamentos e ações, peca por omissão nas descrições, especialmente nas descrições físicas dos personagens e dos cenários. Eu sou muito visual lendo e fequentemente eu formava uma imagem mental de um personagem ou ambiente, para só no meio ou final do livro (!) descobrir que não tinha nada a ver com o que eu havia imaginado. E pensava, puts, porque não descreveu isso antes? Agora não dá pra trocar o elenco na minha cabeça, e isso é péssimo porque aconteceu com vários personagens e cenários ao longo da narrativa. Você imagina uma ambientação neutra e sem vida, cinza, concreto e toma-lhe um Palácio da Alvorada, uma fazenda colonial, uma personagem que nunca foi descrita pra descobrir que era negra, ou que o outro tem cabelos longos e grande porte quando você já visualiza algo diferente, etc. Enfim, por isso não poderia dar uma nota muito alta.