Carla 25/02/2024Falta identidadeNesse livro o autor quis brincar com o gênero de suspense juntando: a) uma história de investigação; b) teoria literária sobre como escrever histórias do tipo; e c) exemplos e curiosidades de outros títulos do gênero.
O resultado de cada uma dessas partes individualmente é ruim, juntas é ainda pior porque tornou a leitura confusa e enfadonha.
Ser interrompido no meio de um clímax de assassinato para ser direcionado a exemplos de como morreram outros personagens em outras obras é tão bom quanto assistir Psicose com um comercial bem na cena do chuveiro.
Bom, mas avaliando as partes:
a) a história de investigação é meio sem emoção, nada de muito novo acontece. Os personagens são pouco elaborados, são muitos e todos têm o mesmo estereótipo de ricos entediados ou falidos entediados. Nenhum casamento é feliz e todo mundo é cínico e chato. E o desfecho? Me dá raiva só de lembrar. Ainda não entendi bem o que o autor quis fazer aqui.
b) aqui o autor tentou ser intelectual de construção literária, mas para mim só conseguiu ser raso e inconveniente. Não aprofunda nada e fica tentando adivinhar o que o leitor deve estar sentindo e pensando nesse momento. Não acertou comigo.
c) quando o autor dá exemplos, joga no leitor um monte de spoiler sobre como o assassinato acontece, quem comete, etc. Se o leitor estiver desprevenido e não pular essas partes a tempo, vai ter mais um motivo para desgostar do livro.
Talvez as partes funcionassem em livros dedicados aos seus gêneros, mas quando o autor mistura tudo parece mais uma colcha de retalhos, uma obra experimental, um ensaio de como ser. Ele ainda usa recursos distintos para os interrogatórios - em forma total de diálogo entre o detetive e o interrogado - e um desfecho em forma de peça de teatro.
Eu não gostei, infelizmente. Não recomendo a ninguém, a menos que esteja com muuuuuita curiosidade. Mas vá preparado.