Corpos benzidos em metal pesado

Corpos benzidos em metal pesado Pedro Augusto Baía




Resenhas - Corpos benzidos em metal pesado


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Isadora1232 13/11/2023

"Os mais velhos contavam que a palmeira de miriti era abençoada, brotara no solo onde a índia Uaraci fora enterrada pelo cacique, após a lua tê-la encantado. Uma vez, o pai explicara a André que a palavra Uaraci tinha origem tupi, e significava "mãe de todas as frutas". Mas André sentenciou ao pai: Uaraci morreria uma segunda vez, todo o seu corpo de rio envenenado pela mineradora".

Quando li esse trecho do conto "Anjos de Miriti", pensei que Pedro condensou em poucas palavras toda a angústia de testemunhar a história da amazônia até aqui. A cada rio que morre, é de fato uma parte da nossa ancestralidade que morre com ele. Do encantado, da nossa própria história.

Esse é um dos maiores trunfos do autor - além da escrita belíssima, pungente e cortante, lemos aqui a amazônia de dentro. Não com o viés exótico, ufanista ou raso de quem vê de fora. O livro narra as mazelas de um norte esquecido, cheio de desigualdades, poluído e alimentado por peixes contaminados com mercúrio. Mas também o norte das encantarias e do pertencimento a essa terra.

O livro é composto por onze contos, ligados por esse tom pesado, esperado no contexto da exploração, das terras invadidas, dos corpos vítimas de violência. Mas também de momentos de ternura que resistem nesse cenário.

A leitura de "corpos benzidos em metal pesado" é necessária e urgente pra entender um pouco sobre as vivências e histórias nessa região marcada pelo esquecimento.
skuser02844 15/11/2023minha estante
Resenha maravilhosa! ?


Isadora1232 15/11/2023minha estante
Obrigada, Júlia!! ??




Alexandre Kovacs / Mundo de K 07/05/2023

Pedro Augusto Baía - Corpos benzidos em metal pesado
Editora Record - 112 Páginas - Foto de capa: Carambela de Rao Godinho - Lançamento: 2022

Os contos do livro de estreia do paraense Pedro Augusto Baía, vencedor do prêmio Sesc de Literatura edição 2022, têm como elemento de ligação a rotina de violência e destruição que domina a região norte do Brasil nos últimos anos. As narrativas demonstram o avanço do garimpo ilegal, impulsionado pela omissão do poder público na fiscalização para proteção do meio ambiente e dos povos indígenas, assim como a desigualdade social que perpetua o cenário de devastação atual, sem apresentar opções dignas de sobrevivência para a população local, restando apenas a migração. O regionalismo do autor assume um tom de urgência e denúncia, contudo sem perder o lirismo do texto literário ao aproximar ficção e realidade.

Em "Tanimbuca", uma árvore emergente brasileira nativa da Amazônia, cuja madeira tem valor comercial, a motoserra assume um protagonismo que faz deste conto uma pequena joia da literatura contemporânea. Pedro Augusto Baía lida com a questão do impacto ambiental em contraponto ao duro cotidiano dos homens aprisionados na rotina do desmatamento, resumida no refrão: cortar, cortar, cortar. A solução para a região, sem dúvida, depende do difícil ponto de equílibrio entre essas três condições supostamente incompatíveis: ganho financeiro, direitos humanos e proteção ambiental, um desafio para as próximas gerações e governos.

"das minhas leituras contei somente para Iaci, que também quis saber como eu aprendi a ler, coitada, ficou descrente quando eu disse que foi promessa de minha mãe, pariu doze e não ia morrer sem ver o filho caçula assinar o nome, fez todas as travessias de canoa, remando mais de vinte quilômetros para me levar até a escola, ida e volta, cumprindo a promessa às escondidas do meu pai, enquanto ele não voltava do garimpo para me buscar, e quando voltou, foi mesmo só eu quem ele encontrou, a minha mãe não tinha mais alma no corpo, encolhida na rede, adoecida de mercúrio no sangue / depois foi a vez do meu pai, saiu do garimpo para ir derrubar ipê, o mercúrio foi dentro dele, deixou Iaci como herança" (p. 14) - Trecho do conto Tanimbuca

No conto "Acremonium", o protagonista busca por oportunidades em Portugal para enviar algum dinheiro aos pais, "desde que continue a dormir em camas baratas" de onde observa a visão da mancha escura e aveludada dos fungos na parede: "Esse tipo que cresce na parede do meu quarto é o Acremonium, colônias resilientes que persistem após o apocalipse de cloro e água sanitária". Penso na inusitada comparação entre a teimosa colônia de fungos e a população da região norte vivendo o apocalipse diário do envenenamento dos rios e o genocídio das populações indígenas, um povo que precisa preservar a sua cultura e, para isso, depende da relação ancestral com a natureza.


"Há três meses tenho sido chamado para fazer reparos elétricos, o que torna a minha situação financeira um pouco melhor. Desde que cheguei a Portugal, já fui garçom, segurança, entregador de panfletos, motoboy, pedreiro, atendente e cuidador de idoso. E apesar desse currículo extenso, ainda tenho a esperança de um dia me tornar biólogo – confessei isso para a colônia de fungos antes de dormir. É um sonho de criança, mistura de cheiros, texturas, imagens e sons do quintal da casa dos meus pais à beira do rio Maratauíra; terra e rio, árvore de açaí, manga, jambo, mapará e caranguejo. Ficava fascinado quando abria os livros didáticos da escola e via as fotos microscópicas de plantas, frutas, fungos, vírus e bactérias; queria conhecer cada pedacinho daquelas estruturas , aprender sobre as suas comunicações, como os fungos conversam? Queria explorar a consciência das árvores, como sabem que irão ser exterminadas?" (p. 20) - Trecho do conto Acremonium

Já em "Carne de boi", o autor surpreende com o belo diálogo entre Arú, um menino de apenas 12 anos que conduz a canoa com a irmã caçula. Os dois conversam sobre as lendas locais e a morte recente do avô quando encontram um boi sobrevivente do naufrágio de uma balsa. Os dois irmãos se unem para tentar esconder e salvar o animal do ataque faminto dos moradores. "Arú se sentou e encarou o bicho. Viu a sua própria imagem mirada naqueles olhos molhados, ele e a irmã, dentro da canoa, a água marrom e o céu azul. Arú não quis acreditar que aquilo fossem lágrimas. Mas de repente, sentiu-se livre para chorar. Chorou a morte do avô e da avó, chorou por todas as vezes que precisou ser adulto."

"Hoje você entra no cemitério e mira a câmera do celular na minha sepultura, o retângulo de madeira enfiado na terra, o mato lardeando a cruz envelhecida. Você contempla as iniciais do meu nome, a tinta quase apagada. A sua mente cansada reconhece as iniciais, lidas incansavelmente na tela do seu notebook. / Durante os últimos meses em seu escritório na redação do jornal, você contemplava o meu nome e digitava detalhes (alguns) ao redor dele; checava as informações, planilhas, relatórios, mapas, folhas de pagamento. Você não desistiu, vasculhou o dossiê enviado anonimamente ao editor. Os documentos informavam que havia sido professora na escola da comunidade quilombola nos arredores da mineradora . Durante minha vida, recebi um salário irrisório, e não as cifras salariais invejáveis que constavam ao lado do meu nome na folha de pagamento do gabinete parlamentar do candidato à presidência do país." (p. 28) - Trecho do conto Reza benzida em metal pesado

Sobre o autor (texto de divulgação prêmio SESC): O paraense Pedro Augusto Baía, 35 anos, é analista judiciário (psicólogo) no Tribunal de Justiça do Estado do Pará, com Doutorado em Psicologia Forense na Universidade de Coimbra. Nascido no município de Abaetetuba (PA), tem fascínio pela leitura e escrita desde a infância. “Comecei lendo livros escritos e publicados por autores independentes de minha cidade, em que o imaginário, a fauna, a flora e povos amazônicos são exaltados. A arte da escrita permaneceu comigo ao longo dos anos, amadurecendo. No ano de 2017, tive um conto premiado em um concurso regional promovido pelo TJ Pará, ocasião na qual finalmente passei a escrever com mais frequência”, relembra.
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Isadora Silva 02/08/2023

Impactante
Corpos benzidos em metal pesado é um livro de contos escrito por Pedro Augusto Baía e vencedor do prêmio Sesc de literatura no ano de 2022. Um livro rápido, mas permanente, bem escrito e emocionante em diversas partes.

A escrita de Pedro Augusto é envolvente, as personagens que aparecem nos contos nos pegam pela mão e nos conduzem em narrativas profundas e emocionantes. Quando terminei de ler, queria mais, queria histórias longas e muitos acontecimentos.

As referências ao garimpo e outros elementos do norte do Brasil, até mesmo a toxicidade do metal dão ao livro uma unidade narrativa e um tom próprio e único. Corpos benzidos em metal pesado um exemplar da literatura brasileira.
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Jeniffer 03/01/2024

No tempo presente, fincando as ações e as memórias dos personagens, os contos de "Corpos bezidos em metal pesado" estão recheados de nocautes, metáfora de Júlio Cortázar em sua célebre fala sobre o gênero.

Como no esporte, o embrulho no estômago é latente em várias das histórias escritas por Pedro Augusto Baía, mas, ao mesmo tempo, as leituras nos levam à curiosidade e ao desejo em ler mais e mais.

No reflexo de uma Amazônia marginalizada, esquecida pelo Estado, com corpos, espaços, vozes e histórias subjugados, amordaçados, violentados, os enredos no livro nos transportam para lugares muito próximos de quem vive na região, mesmo que à distância de determinados locais específicos da imensidão que é o Norte, ou o Pará.

Cravando suas histórias em um "agora" que também é passado e futuro, a escrita inesquecível de Pedro permanece na memória de quem o lê.

O Brasil como um todo ganha imensamente ao ler autores e autoras paraenses.

site: https://www.instagram.com/p/CtRZ2n_OFr1/
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Pâm 04/12/2023

Corpos benzidos em metal pesado
Livro intrigante, com contos excelentes. A escrita de Pedro Augusto Baía é muito clara e ao mesmo tempo sensível. Todos os contos me fizeram pensar sobre nossa história, pois fiquei envolvida com todas as narrativas. Mas, o que mais me comoveu foi Carne de boi, com certeza um dos contos mais sensíveis que já li até hoje.
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Valerya insta @leslivres_ 22/01/2023

A lama...
"Então você começa a digitar o texto para a reportagem:

A lama engolirá a terra..."

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Trata-se de uma coletânea de 11 contos de uma sensibilidade ímpar!

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É impressionante como o autor consegue conciliar a crueldade existente nos desmatamentos e toda sua repercussão em nossas vidas, nas vidas daqueles que moram e trabalham na região norte do nosso país e na população ribeirinha com os sentimentos como saudade e pertencimento de uma maneira muito doce. 

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Nosso primeiro sentimento ao iniciar o primeiro conto é de revolta. Ainda mais com tudo que estamos vendo nos telejornais em relação aos povos indígenas e o descaso do governo passado.

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Também em um primeiro momento ficamos meio incrédulos com a narrativa dos contos dizendo para nós mesmos que isso faz parte do passado.... mas então, com a continuação da leitura, nossa ficha cai e vemos que todas as narrativas aqui presentes são atuais e bem contemporâneas.... infelizmente. 

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Mas a magia deste livro está em conciliar toda a crueldade dos garimpos e desmatamento com os sentimentos doces e de esperança dos seus personagens. 

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Mas nem só das consequências do garimpo e do desmatamento esse livro  nos presenteia. Ele também aborda e traz à tona muitos preconceitos sociais que em um primeiro momento você dirá: e ainda tem gente que pensa assim? E refletindo sobre todo o contexto em que o conto é apresentado, iremos olhar ao nosso redor e concluir que sim, muitas pessoas ainda continuam atrasadas no tempo e no espaço e que devemos mostrar para essas pessoas o que é empatia e respeito para com seu próximo.

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Definitivamente um livro pequeno mas com grandes e importantes mensagens para tornar sua vida, nossas vidas, e um "você" beeem melhor antes que a lama engula a terra....
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Camila.Nunes 07/05/2023

Publicação de estreia do autor
Livro de contos que trata sobre diversas histórias dentro dos territórios Paraenses. Em cada conto personagens com visão de mundo diferentes. Mas todos tratando de questões sociais que assolam esse território tão rico, mas ao mesmo tempo tão maltratado. A ganância das madeireiras, dos garimpeiros e a devastação das matas estão dentro da narrativa desse incrível ao autor que escreve com muita aptidão. Gostei muito!
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Lore 30/07/2023

Não esperava contos tão bons, parece ser histórias íntimas, memórias de uma única pessoa. Amei, em cada um me senti angustiada e triste por cada personagem
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@yoyok_ 29/08/2023

2023
Livro de contos IMPORTANTÍSSIMO para qualquer pessoa, msm sendo histórias bem curtas, elas trazem temas urgentes e atuais como: garimpo ilegal, desmatamento, poluição do meio ambiente e invasão de terras.
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Ale 13/03/2023

Sensível, tocante e real
É difícil digerir as histórias, os abusos, as violências, as injustiças? Os contos são de uma sensibilidade ímpar. É uma leitura fluída, sofrida e cheia de afetos, de relações que trazem - e dão - sentido para vida.
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Laís Maria 30/09/2023

Crítica social
Corpos Benzidos em Metal Pesado, do autor Pedro Augusto  Baía, faz parte da literatura contemporânea. Este livro é formado de contos trazendo uma crítica social sobre as mazelas ocorridas principalmente na região amazônica.

O conto chamado "carne de boi" foi o que mais gostei, pois retrata a experiência de duas crianças e o seu contato com a natureza, desde o rio aos animais. Ao longo do conto, percebe-se um "ar místico" da personificação do rio. Assim, destaco o trecho "chorou a morte do avô e da avó, chorou por todas as vezes que precisou ser adulto", neste momento em que o jovem Arú chora, aqui nota-se o peso que uma criança de 12 anos tem ao lidar com problemas e situações que não deveriam ser de sua responsabilidade, mas que as situações da vida o fazem ter.

No mais, além de contos que se perderam no decorrer do seu desenvolvimento. Há contos que não possuem um final claro, poderiam ter sido melhor finalizados, mesmo que a intenção seja permitir que o leitor tenha as suas próprias conclusões.
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Jonathan Vicente 04/01/2023

Fantastico!! Prêmio Sesc merecido.
Sim, ele e fato nos trás contos delicados, felizes e reflexivos. Leitura primordial para conhecer os autores brasileiros fora do sul/sudeste.

Digo-lhe o autor tem todo toque especial, e que faz a leitura ser forte e impactante. Nota mil!
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Sidélia 28/05/2023

Perspectivas do norte
Conclui a leitura do livro, o último encontro do clube de leitura do SESC Paraty, contará com a presença do autor Pedro Augusto Baía. Uma das características interessantes da obra é a conexão entre alguns contos por meio dos personagens. Nota-se essa ligação nos contos "Encantaria de Rio" e "Carne de Boi", nos quais personagens similares aparecem. Essa ligação despertou minha curiosidade, especialmente após retornar do Pará, onde presenciei o famoso "Maior Churrasco do Mundo" durante o aniversário da cidade de Parauapebas. Percebi, então, o apego cultural da região com a carne, o que torna ainda mais relevante compreender esse aspecto ao ler o livro.

No entanto, alguns contos se destacam por sua distinção e desvinculação do restante da obra. Por exemplo, o conto "O Ano do Delírio" apresenta um grupo de estudos de literatura que decide registrar os sonhos dos participantes. Essa temática me remeteu ao livro "Os Sonhos do Terceiro Reich", no qual uma psicanalista da época anotava os sonhos das pessoas em meio ao nazismo. Durante a pandemia, o psicanalista Christian Dunker também realizou um trabalho semelhante no Brasil. Essa conexão entre o conto e a censura, bem como a interpretação dos sonhos como uma apologia contra o governo, proporciona uma reflexão sobre a reprodução e controle de ideias.

Em outro conto intitulado "O Homem de Alumínio", um personagem contaminado me lembrou do Homem de Lata da história de "O Mágico de Oz". No entanto, esse conto traz elementos políticos, como o bolsonarismo, retratando personagens que poderiam facilmente se encaixar em nosso cotidiano. Destaca-se a personagem Fernanda, que permite diversas relações com o negacionismo e outras estratégias e ferramentas bolsonaristas. Essa crítica política é habilmente traduzida no livro.

Contudo, o que mais me intrigou foi a conexão entre os contos "Carne de Boi" e "Encantaria de Rio". Percebi que o personagem que estava na canoa no conto anterior ainda estava presente em "Encantaria de Rio". Essa continuidade é representada por Arú, o menino que também surge em "Carne de Boi".

Em suma, "corpos benzidos em metal pesado" apresenta reflexões sobre as conexões entre os contos, além de fazer críticas políticas pertinentes. A obra proporciona uma imersão na cultura e nas particularidades da região do Pará, ao mesmo tempo em que aborda temas universais. Pedro Augusto Baía demonstra habilidade em entrelaçar narrativas e trazer à tona questões políticas contemporâneas.

Recomendo!
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Christiane.Sérgio 29/07/2023

Pedro Augusto Baía estreia com um livro singular - Corpos benzidos em metal pesado.
Em sua escrita, trás elementos de vivência do norte do Brasil, especificamente do Pará.

Os onze contos trás ao imaginário cenários urbanos e rurais e as problemáticas existente e que interagem e fazem parte so cenário atual e real do país e, principalmente, da região.

Pedro Augusto nos presenteia com co tos curtis, densos, recheados de uma narrativa de violência e afeto entre os personagens.

Não é um livro fofo que nos deixa em uma situação confortável, é um livro que mexe, que incomoda, nos melhores dos sentidos.

Não foi à toa e sem merecimento que venceu o Prêmio Sesc de Literatura 2022 - Conto.
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carolmc_ 03/12/2023

Mais um de contos
Mais um livro de contos que li esse ano, de um escritor nortista. São histórias da realidade da região norte, sua realidade e esquecimento por parte do restante do país.
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