Lucas 01/04/2024minha estanteFoi meu primeiro contato com o Raphael, acredita? Fiquei fissurado no livro antes mesmo de receber, só já imaginando como seria conhecer a história, ainda mais quando ele liberou o primeiro (último kkk) capítulo como degustação. Lemos e e minha esposa, competindo para ver quem acabava primeiro, não conseguíamos parar de ler. É muito realista a forma como ele relata a gravidez, o parto, a depressão pós-parto etc. A história é fluida e li o livro todo com muitas teorias e louco para recomendar para todos.
Infelizmente, concordo com você. Não dá para dar cinco estrelas porque o fim foi muito apressado. Passou a impressão de que a revelação seria tão bombástica que... só. Acabou de qualquer jeito, o realismo do restante do livro foi por água abaixo porque, mesmo com a instabilidade psicológica e emocional, a decisão final da Eva não serviu a propósito nenhum (mesmo deixando o bilhete cujo texto não conhecemos) e foi só uma carga dramática, mas o desfecho não entregou o que prometeu o livro todo.
Como escritor (também de suspense policial/dramático/psicológico), primei no meu livro por entregar aquilo que sempre busco como leitor: soluções, respostas e um arco completo. Por mais que o Raphael e parte do público defenda que tudo foi esclarecido, sabemos que não, não foi. No meu livro, eu cuidei para que absolutamente nada fosse incluído na história "só para encorpar" ou com o único fim de ser red herring, porque sei como é frustrante fazer mil teorias e no fim continuar com perguntas.
Uma coisa é errar a teoria (isso é ok, é ótimo ser supreendido), outra é revelar algo de forma apressada na base do "A-há, te peguei" e pôr um ponto final. Nesse ponto, o livro decepcionou. Sobre a trama em si (alerta de spoiler!), não havia desconfiado da Angela até os finalmentes, mas quando o meu xará apareceu machucado gravemente eu descobri. Naquele momento a reação do Vicente foi sincera demais para ser um fingimento. Comentei com minha mulher que o livro ia se desenrolando para as mulheres suspeitarem do Vicente e os homens suspeitarem da Eva, porque estranhamente a figura do abusador sexual nunca me convenceu. Sabemos das lavagens cerebrais etc., mas o carinho das meninas com o Vicente parecia genuíno, não comprei nem por um momento a história da pedofilia, até porque destoava muito do tom da narrativa. Chegar ao final e tirar da cartola esse tema tão pesado em poucas páginas não fechava. Por exclusão, só sobrava a Angela. Isabela e Solange sempre me pareceram meras distrações, o Vicente ser amante dela era muito óbvio para ser verdade e a Eva foi muito burra de não ter cogitado antes (embora não fosse verdade kkk) Tinha de ser a Angela a culpada porque, até um ponto do livro, era uma possibilidade bem plausível a Eva ter feito mesmo tudo e não lembrar. Mas o autor investiu muito pesado em criar empatia com a Eva para no final torná-la a vilã (ainda que sem querer). Eu simplesmente não podia acreditar que fosse ela depois de uma altura. O fato de a Sara fazer silêncio quando vê a Eva invadindo o apartamento também deixou claro que era a Angela a culpada, até porque em nenhum momento elas tinham acusado a Eva, só tínhamos um relato da diretora, então foi tudo "off-screen", me caiu a ficha de que a Sara não teria dito nada, mas apenas ficado muda ou algo do tipo. O que levanta outra pergunta: por que a Sara não falou nada nem mesmo para o Vicente? Ela sempre foi mais frágil, mais infantil, mas nesse ponto seria muito mais coerente ela guardar segredo se fosse caso de pedofilia, por intimidação e tal, do que acobertar a própria irmã. Não falar nada por medo da irmã me soa meio exagerado, afinal são da mesma idade, por mais perigosa que a Angela seja, é estranho que uma irmã não dedure a outra.
A história da Alice, penso que a Angela podia ter deixado claro que foi a culpada, mas essa dúvida ficar no ar não acho tão problemático. Também não entendo por que a Eva precisou ser tão extrema na hora final. Por mais perturbada que ela estivesse, se de fato ela viesse a ser presa teria oportunidade de se defender, de provar etc. Ela também não precisava ter matado a Angela desse jeito, nem ter morrido junto. Não precisava ter enterrado a Sara, não precisava ter feito tudo às pressas antes que o Vicente chegasse, podia ter falado com ele etc. etc. etc. Foram decisões burras dela. Também foi muito conveniente que ela "apagasse" e desse a oportunidade de a Angela desinstalar o aplicativo (se bem que não é difícil imaginar que haveria uma forma de recuperar a filmagem). Sei que estou sendo muito exigente, mas me pareceu que a trama foi tão realista que o fim foi pitoresco demais sem necessidade.
Sem falar que jamais a Eva estaria solta ou com tão fácil acesso ás meninas na vida real. O Vicente sendo advogado, a história já estando na imprensa, impossível que Ministério Público, Conselho Tutelar etc. não tivessem feito nada ainda. Também penso que a Eva poderia muito bem ter ido a público. Aquela resistência dela em nunca falar nada foi uma decisão meio boba para uma adulta. Não falar nada nem dentro de casa. Não falar para o Vicente que estava tendo apagões etc. Afinal era o marido, se amavam etc. A pessoa vê o filho machucado e não diz nada? Fica muda só com suas confabulações?
Para terminar, muito fraca a parte do jantar. Nunca em mil anos um Vicente e uma Eva reais iriam jantar como um casal cheio do romance naquele momento e naquele contexto.