Patty Ferreira
21/06/2024Talvez com um editor o livro funcionariaÉ aquele tipo de projeto que a ideia é boa, mas a execução é péssima. O autor cria um romance tendo como cenário o “Hospital Colônia de Barbacena” que ficou conhecido como o local do “holocausto brasileiro”.
O hospital psiquiátrico na época era utilizado não só como local de tratamento para pessoas com problemas de saúde mental, mas também para esconder as manchas do conservadorismo. Internava-se mulheres solteiras que não eram virgens, mães solteiras, homossexuais e etc.
Com base nisso, o autor cria o romance da Júlia e o Fernando. Ela, filha do homem mais rico da cidade do interior, Ele um menino de classe mais baixa, acabam se apaixonando e ela engravida. Para esconder a vergonha de ter uma filha grávida e a injúria que seria casá-la com um “pobretão”, o pai de Júlia a interna no “Hospital Colônia de Barbacena”.
E com esse ponto de partida, que começa os problemas da história para mim. Não um foco no livro, se é o romance ou demonstrar as maldades ocorridas no hospital naquele tempo. E aqui, preciso abrir um parênteses sobre um conceito: “Arma de Tchekhov”.
Segundo o princípio da “arma de Tchekhov” **todos os elementos presentes em uma história devem ser necessários e os elementos irrelevantes devem ser removidos.**
No livro, o autor tenta fazer a conexão do “holocausto brasileiro” com o holocausto nazista através de sonhos de 02 personagens, porém falha miseravelmente, pois não teria conexão maior do que demonstrar as torturas perpetradas no hospital.
Aparecem diversos personagens durante o livro, e o autor dá ênfase em alguns pontos que não agregam em nada na história do livro (”arma de Tchekhov”).
E essa ênfase que ele dá para alguns personagens serve de palanque para o autor demonstrar suas convicções pessoais. O livro coloca na posição de salvador, em quase todos os momentos duas figuras: a Maçonaria e os Militares. Não bastando isso, o autor coloca como vilão o “Comunismo”. Isso mesmo, grande parte do financiamento de manter pessoas presas e torturadas no subterrâneo do hospital é financiado pelo Comunismo.
Além disso, através de nota de rodapé o autor, para explicar a atitude do último presidente militar de assinar a “Lei da Anistia” ele minimiza de forma a desacreditar que houve qualquer tipo de crime cometidos pelos militares:
Segue a nota: “João Batista Figueiredo, General do Exército, o último Presidente do Governo Militar, que tomou posse no dia 15 de março de 1979. Em agosto do mesmo ano, promulgou a Lei da Anistia que, de forma resumida, perdoava uma lista de crimes cometidos pelos opositores ao governo, bem como os excessos **porventura** cometidos pelos militares durante aquele período”
Porventura significa: indica que o falante coloca no plano da hipótese o conteúdo da oração; por hipótese, acaso, por acaso.
Além disso, na metade para o final o autor tenta trazer elementos sobrenaturais, que não tem qualquer explicação ou sentido na trama (na mão do Stephen King funcionaria).