spoiler visualizarBia 24/04/2024
Um estuprador que odeia estupradores
Consigo entender o porque desse livro repercutir tanto, porém infelizmente saí decepcionada dessa leitura? Acontece que um problema que nós, mulheres, estamos há tanto tempo combatendo, aqui é confundido com fetiche, sendo assim extremamente problemático. A autora se aproveitou de um tema polêmico para conseguir instigar as pessoas a lerem, e funcionou muito bem. Entretanto, fico imaginando as adolescentes que vão ler isso e começar a considerar normal, até mesmo desejando uma relação tão tóxica como a de Adeline e Zade.
Depois de tantos livros com uma proposta semelhante - como 365 dias, por exemplo - não é de se impressionar com o sucesso de ?Assombrando Adeline?, mas ainda me choca um livro tão mal escrito ter tantas avaliações positivas. Sinto que se perdeu o senso crítico além do senso moral?
Me cativei com o mistério da bisavó da protagonista, mas a resolução ficou previsível, já que a construção da narrativa deixa a desejar. A exemplo disso estão os relatos de Genevieve, que de uma hora para a outra deixam de citar os nomes ao passo que as atitudes de um homem (ao qual ela não identifica), se tornam cada vez mais violentas, deixando implícito que este seria o seu assassino. Se não foi o Ronaldo nem o John, fica claro que o único outro homem citado na história é o responsável, Frank, que já tinha confrontado Genevieve antes sobre o seu suposto caso.
Além disso, sinto a necessidade de reforçar a contradição de um estuprador (assediador, agressor e assassino) que tem como missão de vida matar e acabar com outros estupradores. A criação do Zade é muito ambígua e não tem sentido algum! Ele diversas vezes diz que sente tesão em ver a Addie com medo, assustada e logo depois diz que se sente enojado pelos integrantes da Society que fazem exatamente o mesmo. Ou ainda se força sobre ela, com ela nitidamente o negando, se debatendo e chorando, e fica excitado quando ela se mostra impotente. O que faz dele diferente? Qual é o limite do que é aceitável e o que não é? Claramente uma falha na construção do personagem. Parece uma tentativa de sair do óbvio mal consolidada e confusa.
A cada frase desse livro fica mais evidente o quão misógina é essa autora, que a todo momento objetifica o corpo da mulher e coloca o homem em uma posição de superioridade tão explícita que chega a ser bizarro. Constantemente é reforçado aquele velho estereótipo de que um homem bonito não precisa de permissão, ele está além disso. Tanto que Zade literalmente fala que vai ultrapassar qualquer limite para ficar com Addie, mesmo que tenha que força-la e até mesmo se compara a Deus. Até certo ponto eu entendo as pessoas que sentem atração por esse tipo de possessão, mas nesse nível já é preocupante. Várias vezes ele compara pontos negativos de um homem, com as características de uma mulher, de novo relegando o papel feminino unicamente à fragilidade e à sua função sexual. Me irritou profundamente.
A escrita no final se torna rápida e deixa muitos detalhes de lado, ficando difícil acompanhar os acontecimentos. O final aberto é um ótimo gancho para o próximo livro, o qual eu provavelmente não vou ler.
As cenas de sexo são muito bem desenvolvidas - um homem bem Subway 30cm, gostoso e q faz ela gozar múltiplas vezes -, embora alguns momentos tenham me feito sentir vergonha alheia (possíveis erros de tradução) além de colocar como fetiche situações de abuso.
O terror em si deixa a desejar. Em nenhum momento me fez sentir medo, só uma sensação de estranheza mesmo kkkkk
Zade seria apaixonante se não fosse incoerente e um abusador.