Natasmi Cortez 18/04/2024Amar também é um ato políticoA grandiosidade da obra está em delinear de forma brilhante e poética as diferenças sociais que nos atravessam e o quanto elas moldam nossa relação com o meio. Classificar Nadando no Escuro como uma obra puramente romântica é subestimar a riqueza de um trabalho que fala de identidade e mostra a trajetória do amadurecimento do pensamento político. O texto de Jedrowski transcende qualquer história piegas de amor e nos presenteia com uma experiência única.
O paralelo criado pelo autor, para falar de política e liberdade, ao narrar o envolvimento entre Ludwick e Janusz, é tão sutil quanto uma carícia. Separados fisicamente pelo Partido, mas separados emocionalmente pelas crenças impostas, os jovens buscam o ponto de equilíbrio para manter a salvo uma relação que desde o início esteve fadada ao fracasso. Para Ludwick, a liberdade é muito mais do que ter poder econômico para viver uma vida confortável, Janusz se contenta em manter os contatos certos e viver de favores e mentiras. Ludwick não aceita a opressão e a injustiça praticadas pelo Partido, Janusz parece acreditar que vencer é estar sob os braços seguros desse Ente absoluto.
Na minha livre interpretação, Janusz é o doce-amargo de Ludwick. Superficialmente alcançável, Janusz proporciona para Ludwick dias lúdicos de uma paixão livre. A princípio, o que ele encontra é o pertencimento, o alívio do desejo consumado. E então, o amor impossível, os encontros furtivos, o medo.
A relação que Ludwick mantém com Janusz é tal qual a relação desse primeiro com o Partido. De um lado a promessa de felicidade, de segurança, mas de outro a faca fria da realidade destruindo a esperança, os sonhos e o futuro.
Amar Janusz exige um preço, preço esse endossado pelo Partido: abrir mão da liberdade em troca da felicidade. Mas existe felicidade no cativeiro? E ainda é liberdade quando apenas você pode desfrutar dela? O paradoxo é construído desde a primeira página.
Um livro aparentemente inofensivo, que possui força para se tornar um clássico. O texto poético embala o leitor em uma narrativa íntima, reflexiva e atemporal. A comparação com os tempos atuais é inevitável. As muitas relações desfeitas no Brasil de 2018, durante a eleição presidencial, são a prova de que há amores que não resistem à guerra.