danilo_barbosa 13/05/2024Feliz é aquele quem escreve e transforma as palavras em torrente. Brinca com elas, as embaralha, converte em fluxo e sentimento. Converte diferenças em igualdades, fragilidade em força e quebra estereótipos.
Quem imagina encontrar em “Bruxas”, da escritora mexicana Brenda Lozano, relatos fantásticos e personagens demarcados por rótulos, engana-se. Em sua obra ela retrata a mulher, a feiticeira, a sábia, a sobrevivente em seus mais amplos sentidos. Seja com Feliciana, a primeira curandeira de uma linhagem de homens; seja com Zoé, uma jornalista da capital que vai até um povoado entre as montanhas para cobrir um assassinato de ódio; seja com Paloma, a muxe, aquela que só quer ser vista e amada por si mesma… Três personagens tão díspares em seus comportamentos, linguagens e pontos de vista, mas que passam pelos mesmos preconceitos, crimes e dores. Muitas vezes vencendo e, assim, sobrevivendo… Apesar de nem sempre.
O grande feito da autora é usar de recursos diferentes para nos mostrar as vidas dessas personagens. De uma para a outra, a língua deixa de ser do governo para tornar-se do povo, deixando de ser compreendida e regrada. Coesões e coerências, tão presentes em uma, se tornam um fluxo de pensamento da outra, mas a dor da misoginia, a força do ser mulher parece se completar entre as personagens, tornando-se algo intrínseco, único e apaixonante.
“Bruxas” é uma obra íntima, para se ler, refletir e pensar. Sem grandes reviravoltas ou encerramentos, mas sim capaz de desnudar de forma incrível, no eterno confronto entre cidade e campo, sagrado e profano, aquilo que há de mais belo e massacrado no feminino com todo seu poder. E como flores que brotam em meio ao árido asfalto, o protagonismo do ser mulher sempre irá prevalecer.