Perla 20/02/2024
Já havia lido do Ailton Krenak O Amanhã não está à venda e é sempre bom demais lê-lo/ouvi-lo. Ailton consegue em poucas palavras nos fazer refletir sobre como temos errado como civilização, como coletivo e é um misto de esperança e desesperança, porque ele nos convida a fazer diferente, sugere caminhos, mas quando levantamos a cabeça, parecem coisas das quais nos distanciamos cada vez mais.
Ailton é contundente e firme, mas sem perder a ternura, sem esquecer o afeto, sem perder a poesia. Somos convidados a questionar a forma como educamos/formatamos nossas crianças, como olhamos para os rios, as florestas e a terra, como deturpamos o conceito de coletivo e principalmente em como pensamos em futuro querendo olhar apenas para o que há de vir, que é incerto (ou tragicamente certo do fim), e esquecemos de olhar para trás. Somos apresentados a conceitos (quase utópicos) de florestania (ao invés de cidadania) e confluências (que abraça mundos diversos que podem se afetar abrindo possibilidades para outros mundos). São tantos ensinamentos e reflexões importantes em tão poucas páginas!!
Pegue um chá, um cafezinho e se sente com Ailton Krenak para uma conversa das boas! Vale cada segundo da leitura!
Algumas citações do livro:
“(...) mas não podemos nos render à narrativa de fim de mundo que tem nos assombrado, porque ela serve para nos fazer desistir dos nossos sonhos, e dentro dos nossos sonhos estão as memórias da Terra e de nossos ancestrais.”
“Faz um tempo que nos convencemos de que somos essa coisa excelente chamada gente e ficamos sem querer nos espraiar em outros organismos para além dessa sanitária e higiênica figura humana. Essa configuração do corpo catada hoje por muitos é apenas uma instituição pobre fabricada por uma civilização sem imaginação.”
“Os brancos que me perdoem, mas eu não sei de onde vem essa mentalidade de que sofrimento ensina alguma coisa. Se ensinasse, os povos da diáspora, que passaram pela tragédia inenarrável da escravidão, estariam sendo premiados o século xxi. Eu não tenho nenhuma simpatia por essa ideia, não quero aprender nada às custas de sofrimento.”
“Hoje, na maior parte do tempo, o planejamento urbano é feito contra a paisagem.”