Izabella.BaldoAno 29/02/2024
O negro visto por ele mesmo é uma coletânea de escritos e entrevistas da historiadora e ativista Beatriz Nascimento, reunidos e publicados postumamente pelo antropólogo Alex Ratts. Beatriz foi uma figura de extrema importância para o movimento negro no Brasil, e uma de suas principais propostas - ousada e magnífica - era reescrever a história do Brasil pela perspectiva do indivíduo negro.
Beatriz deu início a esta reescritura da história através de extensas pesquisas, que incluíram viagens à Angola e a produção do documentário Orí, feito junto à cineasta Raquel Gerber. além deste projeto e da forte presença ativista no movimento negro brasileiro, em ascenção nas décadas de 1970-80, Beatriz também foi uma grande crítica da representação do negro no audiovisual, tendo escrito diversas análises de personagens negras, a exemplo daquelas presentes na problemática série Sítio do Picapau Amarelo.
os textos aqui reunidos trazem muito das reflexões de Beatriz sobre essas questões em diversas das suas nuances, além de desabafos pessoais sobre a sua experiência de mulher negra no ambiente acadêmico, o desencaixe e as diversas violências simbólicas que enfrentou nesse contexto.
infelizmente, sua vida foi interrompida precocemente por um assassinato brutal em 1995. mas sua história, seu legado e sua luta pela reconstrução da nossa história não podem morrer. trabalhos como a publicação deste livro estão fazendo parte do esforço para manter viva a memória de Beatriz Nascimento, não somente enquanto ativista e pesquisadora, mas também enquanto pessoa com todas as suas subjetividades, enquanto pessoa que teve sua própria história roubada por diversas formas de violência.
"o negro não tem apenas espaços a conquistar, tem coisas a reintegrar também, coisas que são suas e que não dão reconhecidas como suas características. o pensamento, por exemplo. fico chocada quando se dá ao branco a cabeça, a racionalidade, e ao negro o corpo, a intuição, o instinto. negro tem emocionalidade e intelectualidade, tem pensamento como qualquer ser humano. ele precisa é recuperar o conhecimento que também é seu, e que foi apenas apoderado pela dominação."