spoiler visualizarThiago Barbosa Santos 12/05/2020
Fim do ciclo
José Lins do Rego faz parte da geração de 30 formada por escritores que se consagraram como grandes mestres da nossa literatura. FOGO MORTO é o sexto romance dele que leio. O livro foi publicado em 1943 e retrata fim do ciclo da cana de açúcar. É o declínio dos engenhos tradicionais.
O romance é dividido em três partes. Cada uma com a história de um personagem específico, mas todas se cruzam. O livro trata de um modelo que gerou muitas riquezas aos coronéis, mas que está em decadência, aborda também o fim da escravidão, o cangaço e crenças em seres míticos como o lobisomem.
A primeira parte fala sobre José Amaro, um homem rude, orgulhoso, muito pobre, mas que exerce o ofício de seleiro, que lhe garante o sustento. Chegou ao engenho de Santa Fé ainda menino, com seu pai, que saiu fugido de Goiana com uma morte nas costas. Como o próprio sobrenome sugere, ele é um homem amargo, desiludido da vida, e não tem relação nada amistosa com a esposa, Sinhá, e a filha solteirona, Marta, que depois enlouquece e é internada.
A velha, aflita com a situação da filha e revoltada com o marido incompreensível e que batia na moça, foi se afastando até abandonar de vez José Amaro, que ficou ainda mais deprimido. O Negro Passarinho, um sujeito puro, beberrão e cantador cuida de Amaro.
O seleiro foi alvo de maledicências que chegaram aos ouvidos do coronel Lula, dono do engenho, que queria expulsá-lo de lá. Fez força até para isso, mas esbarrou-se com pressões de pessoas próximas ao trabalhador, que acabou não saindo. O cangaceiro Antônio Silvino também intercedeu por ele.
Outra tragédia caiu sobre as costas de Amaro. Por gostar de passeios noturnos misteriosos, começou a correr na região a história de que ele era lobisomem. Aquilo causou um grande sofrimento para ele, que se viu enjeitado principalmente pelas mulheres.
A segunda parte do livro é sobre a história do coronel Lula. O Engenho de Santa Fé foi erguido com mãos de ferro pelo sogro dele, o capital Tomás Cabral de Melo. Aquele lugar foi próspero e gerou muitas riquezas. Lula era parente distante do sogro, se apaixonou por Amélia e casou-se com ela. Lula de Holanda era um homem vaidoso e não se interessava pelos negócios do engenho.
O velho morreu e Lula forçou a barra para assumir tudo. Mas a viúva, sogra dele, entrou em guerra com o genro e controlou os negócios até falecer. Finalmente Lula mandaria em tudo. A vida dos escravos virou um inferno, ele judiava dos negros, não cuidava e nem se inteirava de nada. O casal teve uma filha, a Neném.
Lula era beato de igreja, mas tinha um coração de pedra, era extremamente orgulhoso. Quando houve a abolição, os escravos optaram por não mais viverem ali. O coronel era um sujeito muito nervoso também, começou a ter uns ataques apavorantes, em que se debatia no chão, ficava pálido e demorava para recobrar a consciência. Geralmente, isso acontecia quando era contrariado por alguém ou provocado.
A péssima administração (ou administração nenhuma) de Lula fez o Engenho de Santa Fé entrar em profunda decadência, até a família não ter dinheiro para quase mais nada. Tudo ali foi decaindo, inclusive os ânimos da família. Neném era melancólica, Amélia era quem, de alguma maneira, tentava tocar o barco, isso às escondidas do marido, bastante orgulhoso.
O bando de Antônio Silvino chegou a invadir a fazenda e lá já não encontrou dinheiro algum. Dentro da casa, a cada dia que passava, o clima era de total abatimento nos corações dos moradores, acabara-se o Santa Fé.
A terceira parte é a história do capitão Vitorino, um homem gabola, metido a importante e com pinta de valentão poderoso. É uma espécie, ou acha que é, um chefe político da região. É um homem sem papas na língua, corajoso e que não leva desaforo para casa. Ao longo do enredo, se mete em algumas confusões inclusive com cangaceiros e autoridades policiais. Sempre leva a pior, mas não amarela e sai cantando vantagem. Quase todas as encrencas nas quais se mete é sempre em prol dos seus, se mostra fiel às amizades.
Para defender o compadre José Amaro e o cego Torquato, que caíram nas mãos impiedosas do Tenente Maurício, que queria arrancar deles informações sobre o paradeiro do bando de Antônio Silvino, Capitão Vitorino enfrentou a autoridade policial. Os três apanharam muito.
Quando liberados, Capitão Vitorino seguiu contando vantagem. Exalando valentia e delirando que ainda vai fazer e acontecer na região.
Moralmente abalado, José Amaro vai para a casa com Passarinho, não suporta mais aquela vida e comete suicídio.