petite-luana 05/12/2015Toni Morrison é uma autora norte-americana, foi a primeira mulher negra a ser laureada, em 1993, com o Prêmio Nobel de Literatura, antes disso, em 1988, a autora recebeu o Prêmio Pulitzer de Ficção por "Amada", lançado no ano anterior. A história de "Amada" se ambienta nos anos posteriores ao fim da Guerra Civil, quando a escravidão havia sido abolida na maior parte dos Estados Unidos, mas a norma Fugitive Slave Act ainda operava, esta norma permitia que senhores de escravos fossem atrás de seus escravos fugitivos mesmo em estados livres (onde a escravidão já era proibida), pois os escravos ainda eram vistos como propriedades de seus senhores. O livro foi baseado na história real de Margaret Garner, uma escrava norte-americana que fugiu, juntamente com com sua filha de 2 anos, para o estado-livre de Ohio e para evitar ser recapturada juntamente com a filha, Margaret comete um crime que chocou a população da época. Diante desse fato, Toni Morrison desenvolveu o livro, em "Amada" a autora nos apresenta uma história não linear, construída em uma narrativa próxima do fluxo de consciência que transita entre as perspectivas de cada um dos personagens, ora no presente, ora no passado. Nele acompanhamos a história de Sethe, uma escrava que é mantida cativa na fazenda Sweet Home/Doce Lar juntamente com seus 3 filhos pequenos: Howard, Buglar e uma menininha que ainda não ganhou nome. Decidida a fugir e refugiar-se na casa da sogra Baby Suggs, em Cincinnati, Sethe resolve mandar os três filhos na frente em uma fuga planejada. Durante a sua fuga solitária, Sethe dá à luz um bebê, a menina Denver, que vai acompanhá-la ao longo da história.
Em meio a narrativa somos apresentados a pulos temporais que trazem muitos outros personagens que tiveram a vida transpassada pela crueldade humana e as barbáries da escravidão, vemos a história se revelar com as estradas e saídas dessas pessoas marcadas pelas dolorosas lembranças. A história central se passa 8 anos após a fuga de Sethe, já instalada na antiga casa de sua sogra, a casa de número 124, ali moram apenas ela e sua filha Denver, atormentadas por lembranças e pelo fantasma da menininha que ainda não tinha nome, filha de Sethe, que ali morreu. Somos, então, levados em suspense ao que aconteceu: por que restam apenas elas? Quais lembranças as atormentam e por quê? Aliado a isso, Sethe e Denver recebem a visita de Paul D., um também ex-escravo da fazenda Doce Lar, que traz em seus relatos as feridas permanentes deixadas por esse período obscuro do fim do século XIX nos Estados Unidos.
Toni Morrison possui uma escrita muito lírica, fala com poesia sobre temas e momentos muito dolorosos e vai nos apresentando a história de forma fragmentada, abrindo a ferida aos poucos. Esta é uma história de fantasmas, fantasmas que são, não necessariamente, espectros, mas lembranças fortes demais para serem pensadas como reais. Um relato ficcional da escravidão, mas que trabalha tão profundamente com as emoções, as relações e a identidade, que é passível de ser lido como uma verdade.