Coruja 01/01/2011Comecei o ano passado com Pratchett. Pareceu-me bastante promissor que começasse este ano também com ele. Na verdade, acho que farei disto uma tradição: começar o ano novo lendo algum dos livros de Pratchett. Para ser sincera, estava me coçando para começar a ler Os Pequenos Homens Livres desde que ele chegou, acho que em novembro; mas fiz o possível para me controlar e esperar até janeiro e o início do Desafio Literário 2011.
Mas então, finalmente, chegou dia 01, e terminado o café da manhã, a primeira coisa que fiz foi tirar este volume da estante e começar a ler. E ler. E ler mais um pouco, até que, quando vi, a mãe estava chamando para o almoço e eu tinha terminado a história e estava procurando uma imagem do quadro O Golpe de Mestre dos Camaradas do Mundo das Fadas, de Richard Dadd, que inspirou o mundo das fadas do livro.
Pratchett tem esse condão de te prender tão completamente em suas histórias que você esquece por um tempo do resto do mundo. Você ri sozinho, torce em voz alta e repentinamente é pego por pensamentos um tanto quanto filosóficos, entremeados à exposição do ridículo que é bem uma constante nos livros dele.
Você é forçado a pensar, mesmo sem perceber; o riso em Pratchett é muitas vezes o rir de nós mesmos, dos reflexos da nossa sociedade num mundo absurdo em todas as suas tintas, o reconhecer desse absurdo como uma coisa real, às vezes pior no nosso mundo do que em Discworld.
O livro segue de perto as aventuras de Tiffany Dolorida, cujo irmão caçula foi raptado pela Rainha das Fadas. Tiffany tem nove anos, é determinada, racional, está armada com uma frigideira e tem a ajuda dos Nac Mac Feegles, os Pequenos Homens Livres.
Essas criaturas, de acordo com 'The Folklore of Discworld', são uma espécie extremamente independente, organizada em clãs relacionados entre si, formando uma grande família. Possuem cabelos vermelhos e têm os corpos cobertos de tatuagens e tinta azul, em padrões que indicam a que clã pertencem. Falam com forte sotaque escocês e normalmente, não ultrapassam quinze centímetros de altura. Gostam, basicamente, de três coisas: beber, brigar e roubar.
Em todo caso... Tiffany não é apenas uma garotinha metida a sabe-tudo: ela é material de primeira para bruxa (ser metida e sabe-tudo é apenas um dos muitos requisitos do cargo), possuindo a inata capacidade de encontrar soluções e aceitar responsabilidades. Ela tem dentro de si 'aquela pequena partezinha que fica lá firme':
"Aquela pequena partezinha que cuida do resto de você. É a Primeira Visão e um Pensamento Melhor o que cê tem, e isso é um pequeno dom e u'a grande maldição pra você. Cê vê e ouve o que os outros num conseguem, o mundo revela os seus segredos pra você, mas cê é sempre como aquela pessoa na festa segurando uma bebidinha num canto que num consegue se enturmar."
Os Pequenos Homens Livres é muito uma história sobre coragem e perseverança e sobre encontrar seu lugar, saber quem você é. Dentro da coleção de Discworld, é apontado como um livro mais infantil, como O Fabuloso Maurício e seus roedores letrados. Tendo lido os dois, posso dizer uma coisa: seria bom que mais crianças (e adultos) tomassem tento às lições apresentadas nessas histórias.
Fiquei, claro, com muita vontade de ler os volumes seguintes a este, que cuidam do crescimento de Tiffany, tanto fisicamente, como magicamente. Considerando que aos nove, ela conseguiu impressionar Vovó Cera do Tempo, a maior bruxa do Disco, quem sabe o que pode vir a seguir?
Verei se encomendo os livros... quando terminar de ler os que já estão em pilhas aqui em casa, claro.
(resenha originalmente publicada em www.owlsroof.blogspot.com)