Vitória 08/07/2022
Estou lendo as obras das irmãs Brontë em ordem de publicação, e agora chegou a hora desse romance. Eu já tinha tido meu primeiro contato com a Anne por meio de Agnes Grey, que foi minha pior leitura delas até então. O livro é muito à frente do seu tempo e todas aquelas coisas, mas a história e os personagens me pareceram muito rasos. Aqui eu consigo perceber uma melhora significativa na Anne.
Fiquei surpresa logo no início pelo fato da história ser narrada por um personagem masculino. Creio que isso nunca tinha acontecido nos livros das Brontë. E tenho que dizer que a Anne se saiu muito bem nesse quesito. A gente consegue perceber todos os preconceitos enraizados no Gilbert pelo fato dele ser um homem, coisa que não encontramos quando a narrativa passa para o ponto de vista da Helen. E eu me apaixonei perdidamente por esse personagem.
O romance é muito envolvente. Eu amo o clichê de uma boa história de amor com uma criança envolvida, e aqui, mesmo se tratando de um clássico, escrito quando o clichê nem era clichê, a Anne conseguiu me entregar todos os elementos que me ganham nesse tipo de história. O Gilbert se apaixona pela Helen ao mesmo tempo em que constrói uma relação linda com o Arthur, e temos vários momentos lindos protagonizados pelos três. Eu cheguei até a chorar no final, quando o Gilbert fala que considera o Arthur como filho dele. Confesso que, mesmo não tendo se tornado o meu grande favorito dentre os livros das irmãs Brontë, ele ainda conseguiu superar Jane Eyre no quesito romance, porque vamos combinar que aquele livro tem uma personagem incrível, com desenvolvimento muito bem feito e uma trama excelente, mas quando a gente chega na parte da história de amor ele deixa um pouquinho a desejar.
Como em qualquer obra das Brontë, aqui temos críticas sociais a torto e a direito, com citações bíblicas enfiadas goela abaixo (porque essa galera parece que tem a bíblia decorada dentro da cabeça). Mais uma vez, muito é discutido sobre a mulher e como ela sempre está em uma posição inferior em relação ao homem na sociedade, mas o que mais me pegou foram as discussões sobre maternidade. A Helen é muito carinhosa com o Arthur, do jeito que a gente pensa hoje que uma mãe deve ser, mas é acusada de estar tornando seu filho uma pessoa fraca, "afeminada" e mimada, e foi um tapa na minha cara pensar que ainda tem gente hoje que pensa assim. Os trechos em que os vizinhos a criticam por ter feito o filho rejeitar bebida alcoólica, dizendo que um homem sem vícios, que não goste de álcool, não é um homem de verdade, também me pegaram de jeito. Agora estou quase certa de que ainda estamos vivendo no século XIX.
Se esse livro tiver algum defeito, é o fato de ter se tornado um pouco lento durante a parte dos diários da Helen. A história estava interessante, durante todo o livro até então eu estava morrendo de curiosidade pra saber o que tinha acontecido com ela, e ver o processo dela se tornando a mulher forte que ela é no presente da história justifica tudo, mas poderia ter sido um pouco mais curto. Eu fiquei tão apaixonada pelo casal principal que queria ver mais dos dois interagindo, e isso não me foi entregue nem quando o diário acabou. Mas aí acho que o problema está mais com as minhas expectativas do que com a construção feita pela autora. Por algumas páginas eu também pensei que esse livro não ia ter um final feliz, e isso me fez querer jogá-lo na parede, mas parece que esses achismos fizeram o final ser ainda mais recompensador. Agora até deu uma tristeza por não ter mais livros dessa irmã pra ler, ao mesmo tempo em que fico feliz por saber que ainda me restam tantos livros da Charlotte (minha favorita das três) para serem lidos. Não vejo a hora de ter tempo de encarar o calhamaço que é Shirley.