Duda 19/03/2021
Romantização inadequada da obra
CARMILLA 6.5/10
Carmilla é um romance gótico escrito pelo Joseph Thomas Sheridan Le Fanu, de 1872, e foi uma das primeiras histórias de vampiro elaboradas na história da literatura de terror. O romance tornou-se tão essencial, que foi responsável pelo desenvolvimento do gênero na era vitoriana e influenciou diversos autores posteriores do terror a produzirem histórias marcantes, como, por exemplo, o escritor irlandês Bram Stoker, executor de Drácula.
Apesar de ser um clássico, particularmente achei a leitura muito apressada e mal desenvolvida. Todo clássico possui características inerentes ao tempo, pois tendem a tornarem-se atemporais e transmitirem saberes e valores sempre aplicáveis a cada leitura. No entanto, com o repertório que possuo de leitura de clássicos, não pude encontrar, neste, elementos tão acentuados de análise, a não ser o fato de ter sido uma obra inaugural.
A história não é insatisfatória, mas não faz jus a sua apresentação inicial. Muitos elementos ficam à deriva do leitor e acredito que, se Joseph quisesse, poderia ter desenvolvido melhor a trama dos personagens. Todavia, creio que esse era o objetivo da obra: ser algo simples e inédito. Muitos pontos são passíveis de problematização, se não levado em conta o contexto histórico da época, mas por estar muito avançada em conhecimentos atuais sobre gênero, sexualidade e estrutura social, incomodei-me com a senioridade do livro.
De maneira geral, achei a obra fluída e pouco complexa. A quantidade de páginas motivou-me a finalizar a leitura e o tamanho reduzido dos capítulos facilitou na divisão de leitura durante os dias. Agora, problematizando: para aqueles que me indicaram como um livro de romance lésbico, ou para aqueles que possuem essa expectativa, não sei onde iremos concordar. Em nenhum momento pude perceber uma dinâmica mais amorosa entre as personagens e, pelo contrário, observei processos de possessão e domínio animal. Apesar de Carmilla ser uma criatura que seleciona suas vítimas, não acredito que a escolha de figuras femininas caracterize algum mecanismo romântico e lésbico, mas sim a vulnerabilidade de suas presas, as quais eram sempre qualificadas como delicadas e solitárias (mas posso estar equivocada, pois vejo muitas fanfics sobre).
Apesar disso, gostei da descrição de sentimentos da narradora Laura e, para mim, a história só ganha forma depois da metade do livro. Gostei do final, apesar de achá-lo apressado, e, independentemente dos fatores que mencionei, indico a leitura para aqueles que buscam conhecer mais a história da literatura gótica e a maior influência de Stoker para a produção de Drácula.
Observação: para mim, Laura pode ser lésbica, mas Carmilla não. No entanto, até que ponto as ambivalências que Laura sente, em relação a Carmilla, não são oriundas dos poderes que Carmilla inevitavelmente possui sobre suas vítimas? Não gosto da ideia de romantizar um relacionamento entre as duas que, claramente, era fruto de uma soberania de Carmilla sobre Laura e suas demais presas.