Derso 15/01/2023
Desculpe pelo final, escrevi na emoção
É dificil escrever uma resenha satisfatória pra determinados livros, por mais que haja esforço fica uma sensação de que algo está faltando, posso atribuir isso a uma serie de motivos que podem ou não servir de justificativa pra evitar falar sobre a referida obra e ficar contente em avalia-lá nessa plataforma. Mas, algumas escritoras carrega uma força em seu trabalho que algumas estrelas não daria conta de sua grandeza, mesmo que o que for dito não esteja aos pés de sua obra ainda assim sentimos a obrigação de falarmos sobre... Lygia Fagundes Telles é certamente uma delas, aqui tento dar minha singela contribuição a discussão a um livro dessa que nos deixou em 2022 e acabamos herdando seu trabalho que enche orgulho.
Composto por 18 contos (edição da "companhia das letras"), o livro nos faz encarar a densidade de nossas emoções, frequentemente os personagens enfrentam sentimentos que não são expressas em palavras cabendo aos leitores experimentar as sensações, seja aflitiva ou melancólica, que trazem, aqui quero destacar os 4 primeiros contos que acho que tem tudo a ver com que escrevi. O primeiro conto, "os objetos", resume bem isso, acompanhamos uma cena de um casal em desarmonia, Lorena e Miguel, que no passado já foram felizes mas que no momento enfrentam problemas no relacionamento. A narrativa construída quase toda em diálogos faz um interessante estudo de personagem, enquanto Miguel tenta chamar a atenção de sua companheira esta parece tratá-lo com indiferença; já adianto pra prestarem atenção aos objetos que a autora vai pontuando pois eles exercem muita influência ao dizer o que cada um dos personagens está sentindo.
Em "verde lagarto amarelo" Eduardo decide fazer uma visita ao seu irmão Rodolfo, o que era pra ser um momento de felicidade na verdade é são horas e horas de sofrimento, pois aí há questões mal resolvidas entre os dois. O conto é narrado por Rodolfo, e é aí que mora parte da graça do conto, pois só temos o ponto de vista de um dos irmãos, deixando a impressão de que o outro não sabe o que tá fazendo seu irmão sofrer, isso justifica o fato do texto não ter grandes momentos de discussão, brigas acaloradas ou qualquer coisa do tipo, pois sofrimento é interno e aí já vemos um dos temas presentes no livro, a subjetividade. Percebemos aqui a escrita cuidadosa Lygia, pois cada palavra cria imagens ilustrando a intensidade das emoções de Rodolfo.
No "apenas um saxofone" uma mulher idosa e rica tem tudo o que deseja, nenhum bem material falta, um homem idoso a sustenta, tem um caso com um jovem, e um homem espiritual que aparentemente também tem um caso... Mas, ela se sente incompleta, vive com a lembrança constante de um saxofonista que foi o grande amor de sua vida cujo o término ela nunca superou. Parece uma história digna de filmes românticos dos de 1990, e aí é que mora a genialidade de Lygia Fagundes Telles ela aproveita esse gancho pra fazer uma reflexão sobre o tempo e a memória, o tempo pra alguns acaba sendo um inimigo pois com ele vem as mudanças no nosso corpo e cabe nós meros mortais aceitar ou não essas mudanças, afinal o que nos resta é revermos nosso passado e refletirmos sobre ele, por fim entendermos que alguns erros que cometemos podem não ter mais mais volta, os bons momentos que poderíamos ter usufruído vai ficar na nossa imaginação, aqueles que de fato vivenciamos vai ficar na nossa memória.
"Helga" nos conta a história Paul Karsten, um homem nascido no Brasil mas que tem ascendência alemã, ele tem o costume de passar as férias de passar as férias na Alemanha e é numa dessas idas que estoura a segunda guerra mundial, Paul se alista no exército alemão e após o fim da guerra é visto como traidor do Brasil, então acaba não podendo voltar sua terra natal; se instala em Dusseldorf e pra sobreviver começa a vender produtos contrabandeados, lá ele conhece a Helga do título.É interessante a forma como a autora resolve trabalhar a questão da traição e da culpa , como estão direcionados a uma questão que talvez interesse só no âmbito individual mas se tratando do coletivo percebemos que a questão da traição e culpa devia estar direcionada pra um assunto ainda mais delicado.
É dificil descrever a saudade que Lygia Fagundes Telles deixou pra nós literatos, pra quem acompanhou a sua carreira sabe a perda inestimável que tivemos, pra nos consolar tivemos a sorte de termos tido uma das grandes artistas nas letras. Enfim, termino essa resenha agradecendo tardiamente a essa grande artista das letras, por ter proporcionado pra mim as melhores experiências literárias que tive, sei que seu trabalho servirá de inspiração a quem souber valorizá-lo.