Thiarlley 14/02/2022
Uma leitura maravilhosa!
A louca dos e-books disponíveis na assinatura do Kindle Unlimited, nem lembro qual perfil no twitter indicou este livro, mas quando vi um casal afrocentrado na capa eu simplesmente baixei e deixei na biblioteca do Kindle. Era um sábado de muito calor em Aracaju e eu estava entediada, peguei o kindle e lá estava Quatro Minutos me esperando.
De início, nós conhecemos Olívia, uma garota que não superou um término que, já é visível, foi problemático. Ainda envolvida naquela dor, ela reúne os presentes que ganhou dele e vai até o tão conhecido apartamento, muito mais para rever Rafael do que, de fato, devolver aqueles pertences. A cidade está quase vazia, as poucas pessoas que transitam por ali a encaram com um olhar questionador e Olívia, aérea ao que se passava, não entendeu bem a razão. Talvez fosse algo a ver com a quarentena ou coisa assim, ela não acompanhava as notícias.
Ao chegar ao tão conhecido apartamento, Olívia percebe que algumas coisas estão diferentes, mas ainda assim, era como se lembrava. Rafael não estava lá e ela pega no sono à espera dele, até acordar e perceber que um homem que ela não conhecia ou não se lembrava estava lá: Augusto Pinheiro era melhor amigo do ex e, agora, o atual morador do apartamento. Morta de vergonha, Olívia decide ir embora, mas há um problema: aquele dia marcava o início da quarentena em combate a um vírus mortal e o porteiro do prédio está decidido a não deixar ninguém sair. Agora, Olívia vai precisar passar o período na casa de um homem que ela não conhece, com os presentes do ex a tiracolo e muitas feridas emocionais para dar conta.
Antes de tudo, quero deixar aqui os meus parabéns para a autora pela delicadeza em trabalhar um assunto tão importante e delicado como um personagem PcD. A gente é criado num mundo que ensina a enxergar pessoas com deficiência com um olhar capacitista, com um olhar limitador. Desde o início, já na nota da autora, Vanessa expõe sua sensibilidade com o assunto e o modo como o livro aborda o tema é responsável, levantando questões muito importantes sobre o assunto.
O fato da pandemia ter sido o plano de fundo do livro (o primeiro que eu li com a temática, aliás) apresenta questões importantes também como o negacionismo e o perigo da falta de informação. Questões como machismo e racismo também são trabalhadas, de modo sútil.
Falando dos personagens, quem não se apaixonou por Augusto, não é uma pessoa confiável. Ele e Olívia trazem personalidades opostas em certo ponto e os dois são bem construídos e complexos à sua maneira, cada um se abrindo conforme o passar dos dias juntos e trancados. Mesmo sendo um curto espaço de tempo - neste caso, alguns dias - a relação construída pelos personagens é sensível e bonita, não dando outra alternativa a esta leitora senão ler o livro de uma só vez.
Não dá para sair deste livro sem aprender algo. Os dois personagens evoluem, compreendem seu lugar no mundo e se adaptam às novas realidades impostas ao serem diferentes um do outro. E tudo bem com isso, afinal, falamos tanto de empatia, não é mesmo? Colocá-la em prática é isso, entender o outro e se colocar no lugar do outro. Como costumamos dizer, este é um daqueles livros que dá um quentinho no coração.
E em meio a conversas profundas, refeições deliciosas, pipocas e um confinamento, Olívia e Augusto aprendem que quatro minutos podem ser tempo o suficiente para se apaixonar.
site: http://www.apenasfugindo.com/2022/01/resenha-74-quatro-minutos-vanessa-perola.html