xlhealy 13/02/2023
GRANDIOSO.
Quem consola a pessoa negra que no instante que se percebe negro no meio de um mundo totalmente odioso contra a sua própria cor, tem que ser involuntariamente resistente, forte e compreensível em situações que atravessam a sua alma pro resto da vida?
Uma vez eu ouvi de uma booktuber que livros como O Diário de Anne Frank não tem como ser opinado, ser julgado, porque é o relato de uma pessoa real que viveu um momento vergonhoso da nossa sociedade. Dito isso, eu atribuo tudo isso também à este livro. Esse livro é um conjunto de relatos, um conjunto de situações e vivências que pelo menos uma vez na vida o corpo negro já viveu, infelizmente. Esse livro tem ancestralidade, tem nomes, tem rostos, tem famílias, tem mães, país, filhos. Esse livro tem a representatividade da junção de pessoas que são classificadas como "minorias".
O avesso da pele conversou muito comigo, me mostrou que meu subconsciente guardou memórias doloridas demais que foram escancaradas de volta durante a leitura, e nossa, como foi difícil. Aliás, como é difícil ter a percepção de que quando você nasce negro, o seu destino já tem situações certas pra você passar, em prol de uma sociedade tão descaradamente doente e racista.
Todos os assuntos sensíveis possíveis são retratados aqui, por isso é muito comum ler em resenhas que é um livro que incomoda, porque incomoda mesmo. Dentre todas as discussões importantíssimas e dolorosas que foram tratadas, uma das que mais me chamou atenção é a construção da auto estima da pessoa negra. Como é importante se ver representando em todos os ambientes, em todos os lugares possíveis. Na época dos nossos pais isso não era de forma alguma pensado, e o retrato disso é o quão tardiamente eles se reconheceram como parte da sociedade, como pessoas dignas de tudo o que é bom no mundo. Todo o meu repúdio pra aquelas pessoas que se incomodam em ver uma Ariel negra nas telas de cinema.
O livro inteiro vai te deixando triste e abatido em doses homeopáticas, mas parece que nos capítulos finais tudo vai ficando mais pesado. O leitor é preparado a leitura inteira para o fato final, mas quando chega o momento ainda é tudo muito difícil e real de digerir. Sejamos iguais ao Pedro ao terminar a leitura desse livro: "Vou em frente, na direção do Guaíba. Tenho Ogum em minhas mãos porque agora é a minha vez."