jota 05/03/2023ÓTIMO: livro imperdível sobre negritude brasileira, discriminação racial e social e outros eternos problemas do paísLido entre 26 de fevereiro e 04 de março de 2023.
Penso que outros dois livros brasileiros que li em 2019 têm bastante a ver com o de Jeferson Tenório. Foram escritos respectivamente por Itamar Vieira Júnior, Torto Arado (Todavia) e Paulo Scott, Marrom e Amarelo (Alfaguara). No primeiro, o que mais me chamou a atenção foi seu tratamento ficcional para a questão da negritude no país, mais especialmente na Bahia.
Marrom e Amarelo enfoca muito bem o problema da discriminação racial numa grande cidade brasileira, Porto Alegre. Scott relata o tratamento diferenciado que recebem dois irmãos que têm a pele de tonalidades diferentes. Ele colaborou com Tenório neste O Avesso da Pele, participando de leituras prévias da obra.
É também na capital gaúcha – aqui caracterizada como uma cidade extremamente racista – onde se passa grande parte de Avesso, narrativa que vai além da questão da negritude, tratando mais profundamente do racismo presente na sociedade brasileira. E envolvendo ainda temas que nos são caros como pobreza, marginalidade, violência policial e baixa qualidade do ensino público no país. Mas também trata da relação pais e filhos...
Apreciei o título porque cada pessoa não pode ser levada em conta pelo que tem por fora ou aparenta ser. O avesso da pele é aquilo que vai por dentro de cada um, seus sentimentos, sua história de vida, suas características únicas de pessoa dentro do amplo universo em que vivemos. Coisa que os racistas não conseguem ou não querem enxergar. Daí que "No sul do país, um corpo negro é sempre um corpo em risco.", com diz Tenório.
Felizmente o livro foi premiado, o que contribuiu um tanto para sua divulgação, há muita gente lendo essa história por conta do prêmio ou não, e fico contente em ver que nesta data o livro aqui no Skoob recebe uma nota média de 4,6/5,0, o que é muito bom, porque merecido. Daí que não é preciso eu resenhar a obra, nem recomendá-la, porque a história de Pedro pega o leitor pelo modo sensível e pela técnica apurada que Tenório empregou ao narrá-la. Perde muito quem deixar de lê-la. É isso.