Ladyce 20/07/2020
Dentre os livros que abordam a perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial há uma pequena parte dedicada a memórias dos sobreviventes. Cerejas de maio, de Judy Botler, é um deles. Trata-se da biografia de sua mãe, Ellen, cuja peregrinação por diversos lugares que a abrigaram durante a guerra era desconhecida da autora até recentemente. O que faz este livro mais alegre do que muitos é que acaba bem, acaba muito bem com a menina Ellen no Rio de Janeiro, rodeada por parentes próximos, tias e avó e, portanto, com a oportunidade de crescer acolhida dentro dos seus, mesmo tendo perdido pais e um irmão no processo.
Passando por diferentes cidades na fuga, na adoção e em abrigos Ellen, membro da família Grünebaum, que se dispersa durante a guerra, encontra refúgio sob identidade falsa na Bélgica, até que, por insistência de seus parentes, principalmente da avó, que havia imigrado para o Brasil, a menina é encontrada e trazida para o seio familiar. Mas a história não se limita à menina. Aprendemos também como outros membros da família se desdobram para permanecer vivos, sobreviverem e imigrarem. É uma janela sobre um período desastroso que traz luz a muito do dia a dia daqueles em fuga. Convivendo com perigo, disfarçada por falsa identidade e troca de religião, Ellen é uma verdadeira heroína. Do modo como sua aventura está relatada neste livro, tudo parece pronto para um documentário ou até mesmo um filme em que peripécias perigosas levam a um final feliz.
Fartamente documentada a história da pequena Ellen é repleta de charme. Contada por ela e em algumas notas por sua filha, a médica endocrinologista, carioca Judy Botler neste livro torna-se uma narrativa que não deveria ser ignorada por documentaristas de cinema ou até mesmo diretores à procura de um bom enredo. Definitivamente um livro encantador que, apesar de tratar dos grandes traumas e das vicissitudes cotidianas do período da Segunda Guerra Mundial, ele nos dá também esperança. Esperança de dias melhores. Recomendo não só aos que se dedicam à memória daqueles desaparecidos no Holocausto, como aos que gostariam de saber como, por quem e por quais heróis é formada a população brasileira.