Larissa.Carvalho 13/11/2018
Esse é um romance protagonizado por um coadjuvante. José Costa é um homem acostumado a ser sombra, reflexo de seu próprio eu, dele mesmo desapropriado. Tão cheio de si, é ainda oco, porquanto as histórias de que tanto se orgulha não carregam sequer seu nome. É um ghost writer constantemente humilhado ao longo do romance.
Chico brinca com a linearidade temporal nesse livro tanto quanto brinca com a mente do leitor. De forma metalinguística e surpreendente, somos silenciosamente convidados a ser José Costa, e acompanhamos a história tão somente o "protagonista" mesmo o faz, preenchendo aos poucos as lacunas apresentadas. O enredo se mostra propositalmente confuso e composto por diversos momentos passíveis de múltipla interpretação, o que dá pluralidade à história. Ainda assim, nas últimas linhas do livro, é possível acompanhar o raciocínio do protagonista e entender, antes do tempo, a intenção de Chico. Essa aparente "previsibilidade" nos momentos finais, depois de um enredo embolado e metalinguístico, me levou a uma catarse eufórica, que precisou de dias para se dissipar.
O personagem principal, embora não seja carismático, suscita empatia à medida em que é bem desenvolvido e profundo. Suas angústias e desejos, muitas vezes contrastantes, seu vitimismo e sua vaidade dão forma à um anti-herói cômico e prazeroso de se acompanhar. De certa forma, há um certo traço de Brás Cubas em Zsoze Kósta, assim como há algo de Dom Casmurro nas diversas interpretações possíveis do enredo em si.
O tom sarcástico, ora inocente e ora maldoso do protagonista, dá também o tom às outras personagens, já que o livro é escrito em primeira pessoa. Dessa forma, não chegamos a conhecer realmente quem convive com Zsoze/José, mas apenas seu reflexo, embebido em sarcasmo.