dormideira 17/12/2020"Canções de atormentar" é um livro que dá para se ler de uma sentada, mesmo. Não que não deixe sobre o que refletir ou que não tenha subtexto, ao contrário do que muitas resenhas disseram, mas parece que o estilo da Angélica Freitas é mais amigável do que certa "poesia elevada" e isso pode confundir.
Talvez seja a melhor poesia para o nosso tempo, curta e certeira, que não deixa de ter símbolos, mas que é capaz de rir de si mesma e dos outros. Ou seja, o texto não é cifrado, mas exige, sim, raciocínio para entender aonde a poeta (poetisa?) está querendo chegar. E chega. E vai.
Em comparação com "Um útero é do tamanho de um punho", dá para ver que a autora amplia bastante a quantidade de temas abordados, fazendo referências diretas ao tempo passado e presente, a outros países, a outros autores. Nesse sentido, o poema "ana c.", por exemplo, é bastante revelador: Ana Cristina Cesar também cruzava confortavelmente referências do cotidiano e das grandes letras de forma despretensiosa.
Quanto à forma, nesse livro parece que há uma incidência um pouco mais forte de ritmo e de rima (além do aproveitamento do espaço em branco e da pontuação) em especial com o poema "canções de atormentar", talvez porque esse tenha sido parte de uma performance. Na minha humilde opinião, dava para ter colocado esse poema na abertura, porque ele dá muito do tom de significado e não perde as referências clássicas que, para aqueles resenhadores que acharam esse livro menor, parecem ser imprescindíveis.
site:
https://1brogue.wordpress.com/2020/12/17/151/