Gustavo Simas 28/10/2022A vida como dança e fruiçãoTalvez o parágrafo que mais marca o livro é este:
"A vida não tem utilidade nenhuma. A vida não é para ser útil. Isso é uma besteira. A vida é tão maravilhosa que nossa mente tenta dar uma utilidade para ela. A vida é fruição. A vida é uma dança. Só que ela é uma dança cósmica. E queremos reduzi-la a uma coreografia ridícula e utilitária. Queremos reduzi-la a uma biografia: alguém nasceu, fez isso, fez aquilo, fundou uma cidade, inventou o fordismo, fez a revolução, fez um foguete, foi para o espaço. Tudo isso é uma historinha tão ridícula. A vida é muito mais do que tudo isso. Nós temos de ter coragem de ser radicalmente vivos. E não negociar uma sobrevivência"
A obra, colagem de falas em diferentes entrevistas e lives que Ailton Krenak participou, principalmente, durante a pandemia de Covid-19, é um arranjo que busca descolonizar o pensamento. O título, que, a princípio, pode parecer sensacionalista, se encaixa perfeitamente na fruição dos saberes dos povos originários que Ailton evoca com tranquilidade em seus discursos.
Os capítulos são sucessão de ensinamentos que nos fazem repensar, retroceder e resgatar ideias que vão de encontro à lógica colonial, capitalista, utilitarista e desenvolvimentista latente do século atual. São convites para a possibilidade de novos tempos, antes que os tempos se acabem.
(em especial, recomendo como material extra as conversas de Krenak com o astrofísico Marcelo Gleiser, disponíveis no Youtube e uma das referências pra composição dessa obra)