spoiler visualizarbrunainchains 05/01/2024
Krenak tem um discurso que corre pela linha da moral, imputando à humanidade todas as consequências da predação da natureza. Há passagens em que ele afirma ser a atividade predatória um sintoma da "maldade humana", e que "somos a praga do planeta", que "nós criamos a guerra", "nós criamos lugares de miséria e violência", o que me espantou muito pela proximidade que têm esses dizeres com o ecofascismo.
Em muitos momentos, desenvolve pensamentos e indagações a respeito do atual modo de consumo e de produção que recaem na ideia já trabalhada por Mark Fisher em Realismo Capitalista de que é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo. Entretanto, não é endereçada a questão ao modelo de produção de forma específica, mas a todo momento é questionada a consciência dos indivíduos enquanto sociedade, como se a exploração fosse uma escolha sádica dos cidadãos comuns. Sobre essa forma de vida insustentável, chega a ser dito que nós a "adotamos de livre escolha".
Outra ideia que aparece constantemente também é a de que a tecnologia e a ciência são agentes prejudiciais à natureza, não colocando em perspectiva que existem pessoas pesquisadoras e trabalhadoras por trás desses conceitos, e que seu trabalho só é incorporado na sociedade quando o sistema de produção entende que lhe é conveniente. Assim, não se trata de um embate entre tecnologia e natureza, mas da insustentabilidade do sistema capitalista, e da sua subversão de toda e qualquer construção humana.
Quando é inaugurado o conceito que dá título ao livro, é narrada uma vida que a grande maioria das pessoas não experiencia. A grande maioria nasce, cresce, é explorada e morre, e a ideia de que as ações são conscientes, calculadas, que existe escolha, me parece não apenas injusta mas também irreal.
Existem, porém, algumas reflexões muito boas sobre a problemática do capitalismo, e o trabalho do Krenak é indiscutivelmente incrível.