Escrever

Escrever Marguerite Duras




Resenhas - Escrever


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Pretti 26/02/2023

Amei muito
Livro muito bom para quem escreve ou tem pretensões criativas. É um ensaio escrito de forma literária, o que faz dele algo muito mais interessante. O primeiro ensaio, que dá nome ao livro, é o melhor. Os restantes acabam sendo interessantes, mas não sensacionais.
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Priscila 16/01/2023

Não é para ser lido de uma vez só, mas eu li
Iniciei a leitura numa livraria e fiquei abismada com as palavras de Duras. Deu vontade de perguntar para as pessoas se elas já tinham se dado conta do que estava sendo dito ali.
Acho que fiz descobrimentos.
Lerei outras vezes e talvez muitas outras vezes.
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oipedro 20/11/2022

Escrever
Não é um livro pra ler de uma vez, li em gotas durante o ano inteiro. Posso dizer que de certa forma Duras me acompanhou em 2022. Escrever seja o livro ou o verbo é colocar em ação aquilo que ruge dentro de cada um, seria como construir uma casa. Alicerces, tijolos, concretos, paredes, janelas, portas, vidros, tintas, canos, piso. Cada palavra sustenta um mundo inteiro.
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Renata 16/01/2022

Não só sobre a escrita
Marguerite Duras foi uma autora incrível, que publicou uma imensa quantidade de livros, produziu filmes, etc. Este livro contém ensaios, textos-filme, no qual ela reflete sobre diversos temas, em principal a escrita. E a escrita dela é extremamente poética.
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Arodahnos 09/01/2022

La voix de Marguerite Duras
C'était le premier livre de Marguerite Duras que je lis en français. Il avait d'autres que j'avais lu en portugais. Dans tout les cinq petit textes je retrouve sa façon d'écrire, très passionnant. C'est intimiste et, encore, ça écriture a un mouvement qui tourne, reviens. C'est comme si elle écrit dans son journal, comme si elle murmure et essaye de se souvenir. C'est toujours un souvenir à récupérer. Ce sont de raisons pour lesquelles j'adore lire ses livres. C'est intimiste, délicat, mélancolique. Tout ça. C'est sa voix un peu plus avec nous.
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Erica 21/10/2021

Uma passagem incontornável
Escrever, de Marguerite Duras, ed. Rebuliço

O melhor dos ensaios é o "Escrever", mas há trechos belos por todo o livro, trechos sobre a escrita e outros que seriam perfeitos versos de poemas. Todos textos são incontornáveis, são amplos, vastos, e não há como seguir sem um mergulho.


“Isso faz da escrita algo selvagem. Unimo-nos a uma selvageria anterior à vida. E a reconhecemos sempre, é a das florestas, antiga como o tempo. A do medo de tudo, distinto e inseparável da própria vida. Ficamos ferozes. Não podemos escrever sem a força do corpo. É preciso ser mais forte que si mesmo para abordar a escrita, é preciso ser mais forte que aquilo que se escreve.” (p. 34)

“Um escritor é algo curioso. É uma contradição e também um absurdo. Escrever é também não falar. É se calar. É berrar sem fazer ruído. Um escritor com frequência é sossegado, e alguém que escuta muito. Não fala muito, pois é impossível falar com alguém de um livro que escrevemos e sobretudo de um livro que estamos escrevendo.” (p.38-39)

“livros encantadores, sem consequência alguma, sem noite. Sem silêncio. Em outras palavras: sem um verdadeiro autor. Livros do dia, de passatempo, de viagem. Mas não livros que se incrustam no pensamento e que falam do luto negro de toda a vida, o lugar-comum de todo pensamento.
Não sei o que é um livro. Ninguém sabe. Mas sabemos quando ele existe. E quando não há nada, sabemos, do mesmo modo como sabemos que estamos vivos, que ainda não morremos”. (p. 44-45)

Uma passagem incontornável (p. 45)


“Devemos ler sozinhos o livro que escrevemos, enclausurados no livro. Isso tem, claro, um aspecto religioso” (p. 55)

“Em torno de nós, tudo escreve, é isso que precisamos perceber, tudo escreve, a mosca, ela, ela escreve, nas paredes, ela escreveu bastante na luz da grande sala, refletida pelo lago.” (p. 55)

“Escrever.
Não posso.
Ninguém pode.
É preciso dizer: não podemos.
E escrevemos
É o desconhecido que carregamos dentro de nós: escrever, é isso que se alcança. É isso ou nada.” (p. 63)


Tudo é claro em torno da morte (p. 84)

“Não podemos escrever sobre isso. Ou então podemos escrever sobre tudo. Escrever sobre tudo, tudo ao mesmo tempo, é não escrever. É nada. E é uma leitura insustentável, assim como um anúncio comercial” (p. 85)

“Eu escrevo por causa dessa oportunidade que tenho de me envolver em tudo, dessa oportunidade de estar neste campo da guerra, nesse teatro vazio da guerra...” (p. 91)

Literatura da morte viva (p. 93)

“A escrita da literatura é aquela que apresenta um problema em cada livro, em cada escritor, em cada livro de cada escritor. E sem a qual não há escritor, não há livro, não há nada. E a partir daí parece que também podemos dizer que, por causa disso, talvez não haja mais nada.” (p. 93)

O colapso silencioso do mundo (p. 93)
A sombra dos que observam rios (p. 101)
Medo do visível das coisas (p. 102)
Adorável e breve coincidência (p. 104)
Gritos ditos com as mãos (p. 107)
A cor de seus olhos atrás das janelas da prisão (p. 110)

“Com as mãos vazias, eles olhavam para fora. Os verões. Os invernos. O céu. O mar. E o vento.
– Era assim que eles faziam com Deus. Falavam com Deus como as crianças brincam.” (p. 111)

“Olhe pra ela.
Ela.
Feche os olhos.
Você vê esse abandono.
– Sim. Vejo.” (p. 115)
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Dara 30/12/2020

Relato sobre a solidão de deixar restos
"Vou adorar contar a história que contei pela primeira vez a Michelle Porte, que tinha feito um filme sobre mim. Àquela altura da história, eu me encontrava naquilo que se chama a “despensa” na “casa pequena”, que se comunica com a casa grande. Estava sozinha. Esperava por Michelle Porte naquela despensa. Muitas vezes fico assim em lugares calmos e vazios. Por longo tempo. E foi no interior desse silencio, naquele dia que repente vi e ouvi, rente a parede, bem perto de mim, os últimos minutos da vida de uma mosca comum.
Sentei no chão para não assustá-la. Não mexi mais.
Estava sozinha com ela na casa inteira. Nunca tinha pensado nas moscas até então, exceto para rogar pragas contra elas. Como vocês. Fui educada, como vocês, no horror dessa calamidade para o mundo inteiro, que transmite a peste e a cólera.
Cheguei perto para vê-la morrer.
Ela queria escapar a parede, onde corria o risco de se tornar prisioneira da areia e do cimento que se depositavam sobre a parede, com a umidade do parque. Olhei como uma mosca dessas morria. Foi demorado. Ela se debatia contra a morte. Durou talvez algo entre dez e quinze minutos e depois cessou. A vida precisara cessar. Ainda fiquei ali para ver. A mosca continuou parada junto a parede como eu a tinha visto, como chumbada a parede.Eu estava enganada: ela ainda vivia.
Ainda estou ali, a olhar, na esperança de que ela recomece a esperar, a
viver.
Minha presença tornava aquela morte ainda mais atroz. Sabia disso e
fiquei ali. Para ver. Ver como aquela morte invadia a mosca progressiva-
mente. E também tentar ver de onde vinha essa morte. De fora, ou da
espessura da parede, ou do sol. De que noite ela vinha, da terra ou do
céu, das florestas vizinhas, ou de um nada ainda inominável, talvez
muito próximo, talvez de mim, que tentava refazer os caminhos da mosca
no esforço de passar para a eternidade.
Não sei mais qual foi o final. Sem dúvida, a mosca, no final de suas
forças, acabou tombando. As patas se desprenderam da parede. E ela caiu
da parede. Não sei mais nada, exceto que sai de lá. Disse para mim mesma:
“Você está a ponto de ficar doida.” E sai de lá.
Quando Michelle Porte chegou, mostrei a ela o lugar e contei que uma
mosca morrera ali as três e vinte. Michelle Porte riu um bocado. Ela teve
um ataque de riso. Tinha razão. Sorri paia ela, como intuito de pôr um
fim naquela história. Mas não: ela riu ainda mais. E eu, quando conto de
novo a história para vocês, assim, a pura verdade, a minha verdade, foi
tudo como acabei de dizer, aquilo que se passou entre mim e a mosca, e
que ainda não se presta a risos.
A morte de uma mosca e a morte. E a morte em marcha para um determinado
fim do mundo, que estende o campo do sono derradeiro. Vemos morrer um
cão, vemos morrer um cavalo, e dizemos qualquer coisa, por exemplo,
coitado do bicho... Mas se uma mosca morre, não dizemos nada, não
registramos nada.
Agora está escrito. E, talvez, a este tipo de derrapagem não gosto desta
palavra — muito sombria que nos arriscamos. Não chega a ser grave, mas
d um fato em si mesmo, total, de um sentido enorme: de um sentido
inacessível e de uma extensão sem limites.
E bom também se o escrito conduz a isso, a essa mosca em agonia, quero
dizer: escrever o pavor de escrever. A hora exata da morte, registrada, a
tornava já inacessível. Isso lhe dava uma importância de caráter geral,
digamos, um lugar preciso no mapa geral da vida sobre a terra.Essa exatidão da hora da morte faria com que a mosca tivesse funerais secretos. Vinte anos depois da sua morte, a prova esta aqui mesmo, ainda falamos dela,
Nunca contei a morte dessa mosca, sua demora, sua lentidão, seu medo atroz, sua verdade.
A exatidão da hora da morte remete a coexistência com o homem, com os povos coloniza- dos, com a massa fabulosa dos desconhecidos do mundo, as pessoas sós, na solidão universal. A vida, ela está em toda parte. Da bactéria ao elefante. Da terra aos céus divinos ou já mortos.
Não organizei nada em torno da morte da mosca. As paredes brancas, lisas eram já sua mortalha e fizeram com que sua morte se tornas- se um acontecimento público, natural e inevitável. Aquela mosca evidentemente estava no final da vida. Eu não podia me impedir de vê-la morrer. Ela não se mexia mais. Também havia isso, e de saber também que não se pode contar que essa mosca existiu.
Isso foi há vinte anos. Nunca contei este fato como acabei de contar aqui, nem mesmo para Michelle Porte. O que eu sabia — o que eu via — era que a mosca já sabia que aquele gelo que a atravessava era a morte. Isso era o mais assusta- dor. O mais inesperado. Ela sabia. E ela aceitava.
Uma casa só, isso não existe desse jeito. E preciso que o tempo passe ao redor dela, pessoas, historias, “reviravoltas”, coisas como o casamento ou a morte daquela mosca, a morte, a morte banal — a da unidade e do nome ao mesmo tempo, a morte planetária, proletária. A morte provocada pelas guerras, as montanhas de guerras que existem na Terra.
Naquele dia. Naquela data, deum encontro com minha amiga Michelle Porte, um fato visto apenas por mim, naquele dia sem hora, uma mosca morreu.
No momento em que olhei para ela, de repente eram três horas e vinte da tarde, um pouco mais: o ruído dos e litros havia cessado.
A mosca estava morta."
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