Jasmine 01/12/2022
Impressões sobre ?Escrever?, de Marguerite Duras
Diante da escrita arrebatadora de Marguerite Duras, terminei a leitura com a sensação muito forte e real de mudez, não pelo vazio da emoção, mas pelo preenchimento numa tal capacidade que dificulta o passo, como quando estamos imersos na completa escuridão ou no absoluto incandescente do Sol.
Uma escrita que é vida, mas também é morte; escrita que é solidão, mas também outra coisa que se alimenta do isolamento de quem escreve; ?um estado de dor sem sofrimento? ou até prazer. A escrita que jamais abandona, companheira invisível que só se aproxima e existe na solidão. E, nesta solidão, cabe muito bem o mutismo racional, proposital, enquanto se escreve um livro. A escrita durassiana é selvagem e não existe sem a força do corpo, do que atravessa a carne e interpela a noite. É a contradição, o absurdo, o impossível, o grito e o desconhecido. Não é passatempo, mas o ?luto-negro de toda a vida?.
?Escrever? está dividido em cinco ensaios, e o primeiro tem esse mesmo título, que contém a substância primordial que aparece nos outros textos e ao mesmo tempo os conecta. Em ?A morte do jovem aviador inglês? está o indizível e, de novo, aquilo que se sente tanto, naquele raro e incômodo jeito obsessivo e dolorido de não entender, não poder dizer, mas precisar escrever. Depois do último parágrafo desse texto, pensei: a escrita seria, pois, um caminho para perseguir o infinito? Um veículo que atravessa a paisagem só para vê-la melhor, mas nunca para inventá-la, porque ela existe e nunca morre. Mas eu não sei e, ainda bem, havia uma página em branco logo em seguida. Fico nesta página em branco.
Na sequência, os textos ?Roma? e ?O número puro? - sobre este, Duras disseca a pureza alemã e o peso da morte endêmica dos judeus, para, ao fim, criar o muro do proletariado, na inocência do número. Brilhante, eu diria! E, por último, para alimentar essa mudez de que falei no início, ?A exposição da pintura?, em sete páginas que parecem a etnografia do belo, da arte, do texto, da escrita e, por que não, da vida.