Luiza 24/11/2023
A história do assassino com poderes olfativos, Grenouille, traz várias reflexões profundas e complexas sobre consequências da exclusão social e origem da maldade humana. Mesmo apresentando Grenouille como alguém macabro, destinado ao mal desde o nascimento, o jeito que os fatos são narrados sempre deixam para o leitor a questão: afinal, Grenouille nasceu mau ou a maldade foi construída dentro dele ao longo da vida?
É interessante como todos os personagens que passaram pelo seu caminho sempre pressuporam o pior de Grenouille, mas o exploraram para benefício próprio com sucesso. O clima sombrio era aprofundado quando o autor contava qual fim trágico levou esses personagens após Grenouille sair da vida deles.
Nunca tinha lido nenhuma história com foco tão grande no olfato, mas funcionou muito. Adorei as descrições sobre o cheiros e seus efeitos sobre os humanos, o que muitas vezes deixamos passar batido nos livros e na vida. Os cheiros têm papel central na história e senti que cumprem um papel tanto literal quanto metafórico, pois os perfumes expressam bem mais do que os meros ingredientes que os formam: são a personalidade e estado de espírito, são instrumentos de manipulação social, são marcas de humanidade.
A parte da caverna foi uma saída conveniente para que Grenouille não tivesse que participar da guerra e é um pouco cansativa. Porém, ela também acabou sendo uma parte importante para entender melhor os conflitos internos e tendências antissociais do personagem. É nessa parte que temos reflexões bacanas sobre a impossibilidade de conhecer a si mesmo sem o outro como contraponto e sobre como o autoisolamento é uma fuga de monstros externos, mas a aglomeração também pode ser uma fuga de monstros internos.
A parte do marquês Baldini, que usou Grenouille de cobaia para o provar sua teoria científica, foi talvez a minha favorita, pois foi engraçada e crítica na medida certa.
O desfecho escalona muito rápido. Causa estranhamento pelo exagero e o inusitado da situação. Talvez essa tenha sido a intenção, para explicitar toda a hipocrisia e repressão da sociedade da moral e julgamentos, que condena o protagonista mas pode ser tão escandalosa quanto ele. Ainda assim, acho que não gostei tanto dessa "explosão" do fim.
O fato é que, no final, o livro deixa a questão: o monstro é Grenouille ou somos nós? Quanto de maldade há em nós e quanta maldade geramos nas pessoas a nossa volta? Muito instigante a leitura e pretendo reler mais pra frente.